A Greenvolt está a dar cartas no mercado das energias renováveis. Os negócios têm vindo a ser anunciados quase diariamente ao mercado e a operação com o fundo global de infraestruturas gerido pela (KKR) deu outra dimensão à empresa liderada por João Manso Neto. Nos termos do acordado, a emissão de obrigações no valor de 200 milhões de euros pode ser passível de ser convertida em ações. No entanto, para isso é preciso que seja dada luz verde por parte dos acionistas em assembleia-geral ordinária, que irá realizar-se até 31 de maio.
“Esta é uma operação de extrema relevância para a Greenvolt, na medida em que vemos na KKR não apenas um investidor estratégico, que reconhece o potencial da empresa, mas também um parceiro que acredita na estratégia que definimos, isto ao mesmo tempo que possibilitará acelerar ainda mais o cumprimento dos compromissos assumidos”, disse, na altura, o CEO da empresa, acrescentando que estava “certo de que será uma parceria estratégica geradora de novas oportunidades de crescimento que maximizem o valor da Greenvolt”.
Segundo fontes ligadas ao setor, estes investimentos não só tornam a elétrica um unicórnio – o que é comum junto de start-ups e não a uma atividade tradicional –, como poderão levar os acionistas a alienar a empresa “facilmente” caso surja uma oferta a um valor desejável: “Acho perfeitamente possível que por um determinado valor Paulo Fernandes acabará por vender”.
Mas o que é que a empresa tem? Fonte da Greenvolt explica ao jornal i que a elétrica é “um produtor independente de energia de base renovável que tem um posicionamento único no setor”, referindo ainda que, “ao contrário dos demais players, a sua atuação assenta na multiplicidade de tecnologias disponíveis, como seja a geração de energia a partir de biomassa residual, tanto de resíduos lenhosos como de resíduos urbanos, a promoção de projetos de larga escala de energia eólica e solar, mas também a oferta de soluções de geração de energia distribuída, tanto para auto consumo como através do desenvolvimento de comunidades de energia renovável”.
E afirma que “esta estratégia permite estar melhor preparados para agarrar as múltiplas oportunidades que existem neste setor”.
Luís Mira Amaral aplaude o foco, lembrando que a liderança de Manso Neto “deu um novo impulso à empresa, que já tinha uma grande experiência na área das energias renováveis”, aliada à aposta na biomassa. “A grande coqueluche de Portugal são os painéis fotovoltaicos, até porque os chineses massificaram a sua produção, o que levou a uma redução de preços, tornando a sua oferta muito competitiva. A par disso, há que contar com o lobby no solar e na fotovoltaica, pondo para segundo plano a biomassa”, diz o especialista de energia ao i.
Fonte da Greenvolt afirma que, apesar de ter nascido no seio do grupo Altri, garante que “desde sempre tirou partido do processo de produção de fibras celulósicas para a geração de energia renovável”, considerado mesmo que esse “know-how é uma mais-valia para a aposta no segmento da biomassa de base residual, procurando uma otimização dos processos nas várias unidades” que tem em operação no território nacional. Uma base que, segundo a mesma, permitiu crescer além fronteiras, dando como exemplo a aquisição da Tilbury Green Power, no negócio da biomassa residual no Reino Unido.
Também para o analista da XTB Vítor Madeira, “o facto de a Altri ser a maior acionista da Greenvolt com cerca de 16% do capital poderá levar a ganhos de eficiência, pois essa sinergia poderá causar uma vantagem competitiva e assim aumentar a sua margem de lucro na produção de energia a partir da biomassa”.
Fonte ligada ao setor garante que a empresa tem feito “uma jogada de génio”. A explicação é simples: não só aproveita a fileira florestal, como trouxe alguém que conhece bem o mercado e com acesso “a um portefólio de ativos que compraram a relativo bom preço, daí ter permitido um crescimento muito rápido e a sua respetiva valorização”.
Compras reforçadas Mas as aquisições não ficam por aqui. É o caso da compra de várias empresas em diversas geografias com o objetivo de acelerar a promoção de projetos de energia eólica e solar de grande escala, contando atualmente com um pipeline de 6,7 GW – com 2,9 GW em estado avançado de desenvolvimento até ao final de 2023. “Temos crescido de forma expressiva também na geração distribuída de energia renovável, segmento em que acreditamos que há um elevado potencial. Neste sentido, temos feito várias aquisições e parcerias em vários países, estando preparados para avaliar novas oportunidades que possam surgir”.
Em relação ao seu foco, não hesita: “Desde o primeiro momento que decidimos que esta seria a estratégia a seguir no desenvolvimento das energias renováveis. Não olhamos para o setor apenas de um ângulo. Temos uma abordagem 360.º ao setor, recorrendo a uma multiplicidade de tecnologias para gerar energia a partir de fontes renováveis.
Acreditamos que é este o caminho certo para o desenvolvimento das energias renováveis, que, atualmente, já não são, nem podem ser vistas como uma alternativa. As energias renováveis são a solução, não só para o fim da dependência das energias de base fóssil, com todos os problemas que essas trazem, nomeadamente em termos geopolíticos, como principalmente para aquele que deve ser o desígnio de todos, que é reduzir drasticamente as emissões de gases poluentes que, como vemos, têm levado a alterações climáticas com consequências drásticas para a humanidade”.
Fonte do setor lembra a presença forte que a empresa tem na Europa do Leste, nomeadamente na Polónia, e com ofertas sobre ativos na Hungria. “Foram buscar algumas relações de Manso Neto para conseguir crescer relativamente rápido”.
Aposta em comunidades Outra novidade diz respeito à criação de geração distribuída de energia como solução para a redução da fatura dos consumidores, e daí a aposta nas soluções de auto consumo, contando já com mais de 100 MW instalados e em projetos. “Assistimos a um crescimento expressivo na procura por soluções de partilha de energia renovável através do conceito de comunidades de energia”, salienta, tendo sendo desenvolvidas comunidades de energia que contam atualmente com mais de 40 projetos que terão uma capacidade instalada de cerca de 30 MW. “Esses projetos de comunidades de energia estão a ser desenvolvidos com uma grande variedade de parceiros, em múltiplos setores. Temos projetos no setor do turismo/imobiliário, com a Vanguard Properties, mas também no da indústria, como a Longa Vida ou a Plastidom, até ao desporto, com projetos com, entre outros, o Clube de Futebol Os Belenenses”, refere ao jornal i.
Sucesso em bolsa A empresa entrou no mercado de capitais português em setembro de 2021, sendo quase automaticamente promovida ao principal índice da bolsa nacional, o PSI. “Este processo teve por base uma estratégia, uma proposta de valor, em que os nossos stakeholders confiaram e que, com o passar do tempo, tem vindo a provar-se estar correta”, refere a mesma fonte da elétrica.
Para o analista da XTB Vítor Madeira, a entrada e o seu comportamento no mercado bolsita já pode ser visto como um caso de sucesso. “Se olharmos para a empresa pelo seu desempenho em bolsa, poderemos dizer que foi um caso de sucesso, dada a sua rentabilidade , visto que a empresa atingiu um máximo de mais 130% de valorização e neste momento ainda se encontra bastante acima do seu preço de IPO em cerca de 66%. Em termos de crescimento, a empresa também apresenta métricas fundamentais bastante fortes, comparando com o resto das empresas portuguesas”.
*com Daniela Soares Ferreira