Gonçalo Ribeiro Telles – textos escolhidos
Selecção de textos de Fernando Santos Pessoa
Prefácio de Guilherme d’Oliveira Martins €15 Ed. Argumentum
«A cidade nascida da revolução industrial espraiou-se, como mancha de óleo vazada em tampa de vidro, não respeitando nem vales, nem encostas abruptas, nem solos ricos. Mesmo no limiar de uma nova sociedade e, porventura, civilização, o processo então iniciado, em nome do progresso, continua a dominar o território e a destruir as nossas paisagens.
Os subúrbios de cidades, como Lisboa, são bem o exemplo do caos e desumanização do espaço urbano a que corresponde a desertificação e desmoronamento dos centros históricos.
Actualmente, no nosso país, o espaço rural ainda é considerado um espaço destinado a ser conquistado indiscriminadamente pela cidade e seus tentáculos (estradas, vias rápidas, auto-estradas), ao longo dos quais se alinham moradias, enormes cartazes de publicidade, ofensivos da beleza das paisagens, cemitérios de veículos, depósitos de desperdícios e de entulho».
Recordado como o autor de três mil projetos de arquitetura paisagística, Gonçalo Ribeiro Telles foi talvez acima de tudo alguém que refletiu sobre o ordenamento do território, a relação cidade/ campo e a integração harmoniosa do homem no meio ambiente. Estes Textos Escolhidos, entre os quais ‘O homem perante a paisagem’, ‘A integração campo/ cidade’ e ‘A paisagem do futuro’ (a última lição proferida na Universidade de Évora), constituem uma janela privilegiada para o pensamento luminoso do mestre e um manancial de conhecimento assente numa visão abrangente e no respeito pela natureza.
Porque não? Histórias de viagens
Victor Bandeira
A cor do camaleão
Antigo negociante de arte, viajante e aventureiro nascido em Lisboa em 1931, Victor Bandeira é uma figura digna de um romance ou de um filme. Viveu com indígenas na Amazónia, vendeu peças ao Museu Nacional de Etnologia e foi pioneiro do Boom Festival. Nestas crónicas que escreveu para A Capital a convite de David Mourão-Ferreira, conta-nos como na Guiné ouviu as mulheres invocarem Nossa Senhora de Fátima quando o barco em que seguiam foi atacado com rajadas de metralhadora; como viajou com uma píton (viva) dentro de um saco de Banguecoque para Atenas; ou como descobriu o segredo da meditação não na companhia de um mestre, mas cuidando de um cemitério em Kyoto. «E de repente distraí-me, comecei a ver o que estava a fazer, a cor diferente das diferentes ervas que me pareciam primeiro ser iguais, a variedade das pequeninas folhas e sentei-me no chão e fui descobrindo formigas e milhões de insetos estranhos e seguindo os seus caminhos e entrando na vida deles e vendo pela primeira vez minúsculas flores e, de repente, era de noite quase, tinha deixado de pensar, o tempo tinha parado, tinha-me esquecido onde estava e o que estava a fazer».
Mais do que histórias, muitos destes textos são verdadeiramente lições de vida.
Crónica de África
Manuel S. Fonseca €16
Guerra & Paz
Um chumbinho de pressão de ar alojado na mão esquerda, um prato de búzios com sabor a liberdade ou um Citroën Dois Cavalos «em octogésima mão»: eis outros tantos motes que puxam o gatilho das memórias africanas de Manuel S. Fonseca, editor da Guerra & Paz, cronista e antigo crítico de cinema. São textos curtos e coloridos, cada um a deixar água na boca para o seguinte. O cruzamento entre as histórias de uma infância e juventude tropical e as referências cinéfilas e literárias ocidentais resulta num cocktail original, saboroso, frequentemente inebriante.
Segundo paraíso: do cinema como ficção do nosso sobrenatural
Vol. XII das Obras Completas de Eduardo Lourenço
Selecção e introdução de Pedro Mexia €22
Fundação Calouste Gulbenkian
Sobre as salas de cinema, escrevia Eduardo Lourenço na década de 1960 que são «a verdadeira e permanente missa negra da nossa alma moderna, encostada com conforto e delícias ao ecrã do Mal». Embora o imaginemos mais facilmente de livro na mão ou no silêncio de uma sala de museu do que a olhar para um ecrã, o autor de O Labirinto da Saudade não foi insensível ao apelo da lanterna mágica, como mostram os artigos, alguns inéditos, reunidos neste XII volume das suas Obras Completas. As considerações de ordem mais teórica, bem à maneira de Lourenço – «O cinema é o irreal em estado puro. Não o tocamos do outro lado do espelho. É ele que nos toca. Ou, antes, que nos arrasta para o interior da sua irrealidade como nenhuma realidade o pode fazer» – convivem com análises penetrantes de obras concretas (do western ao cinema de autor europeu) e de estrelas (Mastroianni, Marilyn, Charlot). Em todas elas, sobressai sempre o grande decifrador de mitos.
E não faltam as páginas dedicadas ao cinema português, de António Reis e Margarida Cordeiro – de cujo Trás-os-Montes diz: «Eu nunca vi um outro filme português que falasse tão profundamente, e de modo tão maravilhoso, do que
é Portugal» -, a César Monteiro, Manoel de Oliveira e João Botelho.
O português visto por (alguns) portugueses
Marcello Duarte Mathias €19,90
D. Quixote
«Sofro de uma doença ingénita, hereditária, crónica, incurável, que se chama Portugal», escrevia José Rodrigues Miguéis a Jorge de Sena em fevereiro de 1976. Não tem nada de triunfalista o retrato multifacetado de Portugal e dos portugueses que resulta desta antologia: não por acaso, no prefácio o autor emprega as expressões «dominante pessimista», «desmotivação» e «inquietação». Fruto das circunstâncias ou modo de ser? É difícil dizê-lo. Mas há por aqui também muita «paixão amorosa». A começar pela do próprio antologista, diplomata jubilado, que nos oferece nestas páginas um espelho onde podemos confrontar-nos com as nossas virtudes e defeitos.