O boom do negócio da compra e venda de casas nos últimos anos não é segredo para ninguém. O que muitos não sabem é a quantidade de “caras conhecidas” que, do meio mediático, transitam para a venda de casas, optando por regressar ao “anonimato” em prol da melhoria dos seus vencimentos. Falamos de nomes como Fátima Preto, antiga modelo; Raquel Loureiro, atriz, modelo e também DJ; Filipe Gaidão, ex-jogador de hóquei em patins do Benfica; a sua mulher, Karen Gaidão, ex-apresentadora do programa da SportTv, Futebol de Salto Alto; e, mais recentemente, João Pedro Rodrigues, que foi pivô na TVI. Entrar no universo televisivo é um sonho para muitos; porém, para quem lá está, pode rapidamente tornar-se insuficiente.
Perspetivas maiores “Tomei a decisão no momento em que senti que atingi aquilo a que me propus e, apesar de saber que tinha mais potencial, tenho a plena consciência de que a comunicação social, hoje em dia, nos moldes em que está, não me ia acompanhar a nível financeiro (tendo em conta as perspetivas de carreira que eu tinha)”, conta ao i João Pedro Rodrigues, que trabalhou 10 anos em televisão. A saída do canal foi anunciada pelo próprio em dezembro do ano passado, mas concretizou-se há apenas 2 meses. “Reuni coragem para dar esse salto para fora do barco e tentar a carreira noutro meio”, continua, frisando que tinha consciência de que ali as suas expectativas não iam ser cumpridas, ou, na melhor das hipóteses, “seria a muito longo prazo”.
A oportunidade surgiu através de amigos que trabalham no ramo. Por isso, o terreno não lhe era estranho. “Mas o meu conhecimento não era muito aprofundado, tanto que tive de cumprir uma formação”, revela.
O que mais o cativou? Em qualquer trabalho por conta de outrem, por mais que se trabalhe e por maior qualidade que se apresente, “o ordenado será aquele”, aponta. Já no ramo imobiliário, “quanto mais trabalhadores e quanto melhor for o nosso trabalho, mais ganhamos”. “Pensei: ‘Se tenho possibilidade de mudar agora, vamos tentar!’”. Agora, tem um vencimento à base de comissões. “Vendemos uma casa e recebemos x de comissão. Depois, há uma progressão. Ou seja, a partir do momento em que se vai faturando um determinado valor para a empresa, a nossa posição também vai aumentando”, explica. O maior desafio, reconhece com humor, é mesmo “acordar cedo”.
“Eu trabalhei muitos anos à noite, apesar de, no último ano, ter feito mais tardes. Tal como no jornalismo, agora também não há horários, mas a vantagem é que eu faço meu próprio horário”, confessa.
Comparando as duas áreas, João Pedro Rodrigues admite que aquilo que o tem diferenciado, tal como afirmam os seus amigos e colegas, é a forma como fala. “O grande ponto de ligação entre o jornalismo e o ramo imobiliário é a relação com as pessoas. Os colegas que me acompanham dizem que eu falo com as pessoas como quando estava a apresentar o jornal. A informação sai-me e faço com que as coisas sejam naturais. Sintetizar e simplificar informação é algo que me é simples”, explica.
“Me encontrei no imobiliário” Tal como sucede com João Pedro Rodrigues, habituámo-nos a ver o rosto de Karen Gaidão no ecrã. Durante cinco anos, apresentou o programa Futebol de Saltos Altos, na SportTV, onde entrevistou figuras bem conhecidas do meio futebolístico. Quando o programa terminou, em 2011, um amigo do seu marido, Filipe Gaidão (também ele se dedica à profissão depois de anos em cima dos patins de hóquei), chamou-a para uma reunião na RE/MAX. “Disse que eu tinha o perfil de batalhadora e que poderia dar certo. Fui à reunião e nunca mais saí. Estou na área há 11 anos”, conta ao i. Karen gostava muito de ver casas em sites, contudo, o ramo imobiliário era-lhe muito distante. “Investi muito na formação e comecei uma carreira que não largarei. Me encontrei no imobiliário”, admite.
Desde essa altura, mudou muita coisa: “Hoje, meu marido trabalha comigo, temos uma equipa grande. Percebi na época que poderia ter muito sucesso nesta profissão pois só dependia de mim e do que eu quisesse fazer”. O começo, porém, não foi fácil. “Fiquei quase um ano só fazendo arrendamentos. A minha primeira venda veio depois de 10 meses de trabalho”, revela.
Dado o seu currículo, no princípio Karen Gaidão teve dificuldade em provar que “sabia o que estava fazendo”, pois as pessoas não a viam nessa profissão. “Eu vim do meio televisivo e era de lá que me conheciam, por isso investi muito na formação para saber o que estava fazendo. Não poderia perder um cliente. Hoje os desafios continuam! Gerir o tempo, ser produtiva, gerir a equipa”, confessa.
Um percurso semelhante teve Raquel Loureiro. No ano passado, o Fama Show anunciava que a modelo, sem projetos televisivos desde 2017, havia mudado de vida.
Ao programa da SIC, Loureiro admitiu ter saudades do trabalho, mas não da exposição. Hoje, é também empresária focada na gestão de lifestyle de luxo, em particular em imobiliário.
Um dos maiores desafios da área, reconhece, é a relação com as pessoas. Embora se considere uma “comunicadora nata”, diz que “não é fácil que as pessoas confiem no nosso trabalho, não é fácil que as pessoas confiem na nossa palavra… E a área do imobiliário cresce muito por aí. O cliente tem de confiar em quem está a vender ou a comprar o seu imóvel”.
A influencer imobiliária Se há famosos que desapareceram das luzes dos holofotes para se dedicarem ao ramo imobiliário, há quem, a partir dele, tenha ganho fama. Vera Leite, alta, loira e com os olhos cor de esmeralda, é considerada a “influencer do imobiliário”, contando quase 34 mil seguidores no Instagram, onde – através de pequenos vídeos editados e pensados estrategicamente –, mostra as casas que tem para vender. Uma das primeiras que colocou no mercado foi a sua. Vendeu-a em apenas duas semanas.
“Eu vivi na Índia durante dez anos, onde era Personal Trainer da alta sociedade. Quando voltei para Portugal – há cerca de cinco anos –, ao ver que era uma profissão muito mal paga, decidi explorar diferentes opções de trabalho. Tinha algumas amigas que trabalhavam no imobiliário, e achei que seria a altura certa para arriscar”, recorda.
Estava à procura de uma profissão que lhe permitisse manter a flexibilidade de horários, ser autónoma, ter contacto com pessoas, ser financeiramente estável e ter tempo para a família. E encontrou-a no negócio imobiliário.
Com a ambição de fazer algo semelhante ao que se faz nos EUA – onde existem influencers que se tornam famosos e, em consequência, “conseguem vender muitas casas” –, queria acima de tudo mostrar aos seus seguidores quem é, o seu lifestyle e a forma como trabalha. “Resultou muito bem. Hoje em dia, e em tão pouco tempo, sou bastante conhecida no mercado imobiliário, o que me deixa bastante realizada”, admite.
Parte do segredo assenta no perfil e na estética que cria. Vera considera-se uma perfeccionista: “Sou muito perfeccionista em tudo o que faço, por vezes até demais. Acho que o meu sucesso deve-se maioritariamente à minha forma de comunicar e dar com os meus clientes. A forma como eles confiam no meu trabalho e no acompanhamento que faço, é tudo”.
Além dos imóveis, na sua conta de Instagram partilha também a forma como vive, mostrando idas a restaurantes, férias, brincadeiras com o filho, etc.
Interrogada sobre a forma como a sua imagem influencia o seu trabalho, Vera Leite acredita que, no princípio, esse aspeto pode tê-la prejudicado. “Infelizmente ainda somos um povo machista, que considera que uma mulher não pode ter sucesso sozinha e isso tem que ser sempre afiliado a outros atos”, justifica. “Ainda mais quando cuidamos da nossa imagem, somos rapidamente rotuladas de fúteis e burras”. No entanto, nesta fase da sua carreira, visto que o seu trabalho já é “consideravelmente conhecido”, a influencer sente que a sua imagem é posta “um pouco de parte”. “As pessoas vêm até mim por confiarem nas minhas capacidades como agente imobiliária, no meu trabalho e profissionalismo”, remata.