Quem julgava que o relatório publicado esta semana pela Inspeção Geral de Finanças (IGF) esvaziava politicamente a Comissão de Inquérito à atuação da TAP no caso da indemnização a Alexandra Reis, pode bem desenganar-se. Depois de publicado e analisado pelas principais forças políticas, o relatório apresenta fragilidades que os partidos vão explorar.
Gonçalo Pires, CFO da TAP, é o nome que todos os partidos estranham estar ausente das conclusões do relatório, uma vez que compete ao CFO da companhia fazer a ligação ao Ministério das Finanças. Enquanto as outras matérias relativas à atividade da empresa reportam ao Ministério das Infraestruturas, tudo o que são grandes operações financeiras, como é o caso do pagamento da indemnização a Alexandra Reis, passa pelo CFO, que tem obrigação de reporte ao ministro das Finanças.
É por isso que os deputados estranham que no relatório haja uma aparente ausência de participação do CFO em todo este processo. Embora Gonçalo Pires tenha sido ouvido pela IGF, o conteúdo desta audição não aparece em ata nos documentos divulgados em anexo ao relatório. A IGF justifica o facto com a inexistência de matéria relevante para o processo.
O nome de Gonçalo Pires aparece agora como um dos primeiros a ser ouvido nas audições da comissão de inquérito. O deputado do Chega, Filipe Melo, acredita que a IGF quis «resguardar Gonçalo Pires por algum motivo» e o partido quer perceber porquê. «Um pagamento desta natureza não foi à comissão de pagamentos? O que é que Gonçalo Pires sabe que o Governo não quer que se saiba», pergunta o deputado.
Já o PSD acha «peculiar» que a IGF não tenha aprofundado a participação do CFO da TAP em todo este processo e diz que «o primeiro-ministro se precipitou ao anunciar que todos os factos e consequências políticas estavam retiradas». Paulo Moniz, o deputado do PSD que coordena os trabalhos dos social-democratas na comissão, diz que «só estão esclarecidos os factos conhecidos até hoje», referindo-se à lacuna do relatório ao não incluir o papel do CFO no caso do pagamento de quinhentos mil euros de indemnização a Alexandra Reis, pagamento que teve que passar necessariamente pelas suas mãos.
Os deputados ouvidos pelo Nascer do SOL prometem esclarecer em sede de comissão o que o Governo não quis esclarecer até agora, e o que falta esclarecer passa necessariamente pelo Ministério das Finanças, que, acreditam, «foi resguardado de todo este processo de forma inexplicável». E a chave para esclarecer essa omissão, garantem os deputados, está na audição do CFO da TAP, Gonçalo Pires.