Os olhos continuam postos na política do Banco Central Europeu (BCE). De acordo com o economista-chefe do banco central, Philip Lane, afirmou que os dados atuais sobre a inflação apontam que continuarão a subir as taxas de juro mesmo para lá da reunião deste mês e que está agendada para o dia 16.
Um cenário que já tinha sido antecipado pelos economistas contactados pelo nosso jornal. Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, diz que o mercado antecipa uma nova alta de mais meio ponto percentual na reunião de 16 de março, seguida por uma nova subida na reunião agendada para 4 de maio, mas de apenas um quarto de ponto percentual. «O mercado antecipa ainda uma alta de mais 25 pontos base durante o próximo verão, fechando assim o ano de subidas num aumento total de mais 150 pontos base, ou seja, 1,5 pontos percentuais. Assim sendo, as taxas terminais atualmente projetadas seriam de 3,5% para a taxa de depósitos do BCE, 4% para a taxa de referência e 4,25% na cedência de liquidez».
Também para o analista da XTB, Henrique Tomé, as contas são simples: «Durante a primeira metade deste ano espera-se que os juros continuem a subir. No entanto, também se espera que a partir do 1.º trimestre do ano a escala destas subidas seja inferior às decisões anteriores».
O responsável admite ainda que embora a inflação permaneça elevada reconhece que começam a surgir sinais de que o pico já poderá ter sido atingido e, por isso, refere que não se devem esperar aumentos sobre os juros de forma tão agressiva como os que foram registados ao longo de 2022.
«Depois da decisão da reunião de fevereiro do BCE, espera-se que os novos aumentos dos juros possam voltar a ser revistos em baixa, iremos observar, eventualmente, subidas de ‘apenas’ 25 pontos base ao longo das próximas reuniões, isto se a inflação continuar a dar sinais de abrandamento», salienta.
Controlar inflação?
Para Henrique Tomé estes aumentos dos juros servem para arrefecer a atividade económica de modo a que seja possível controlar a inflação, mas reconhece que nem sempre o impacto é imediato, daí dar nota positiva à entidade liderada por Christine Lagarde nessas decisões. Mas reconhece que «é importante também notar que existem determinados setores, como os serviços, que continuam a dar sinais de pressões inflacionistas e por isso é cedo para tirar conclusões finais sobre as medidas adotadas, até então, pelo BCE», recordando que o organismo foi um dos principais bancos ocidentais a levar mais tempo para subir as taxas de juro (sem contar com o Banco do Japão) e como consequência, na Europa, a inflação só há pouco tempo é que começou a dar sinais de abrandamento.
Também o economista do Banco Carregosa recorda que a inflação é maioritariamente do lado da oferta e impulsionada em grande medida pelos preços da energia, sobretudo do gás natural, e pelos preços dos alimentos, aumentos estes ditados pela guerra na Ucrânia. Todavia, alerta que a reposição dos salários é uma ameaça à estabilidade dos preços. E dá como exemplo, o salário mínimo na Alemanha que aumentou 22%, «intensificando a pressão sobre a inflação, sobretudo sobre o índice de preços no consumidor subjacente, o que exclui alimentação e energia», lembrando que «a inflação germânica é precisamente aquela que mais pesa nas decisões do BCE, podendo deste modo além de atrasar um alívio das taxas de juro, alimentar mais essa mesma alta».
Mais otimista está Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades, ao garantir que as subidas das taxas de juro têm contribuído para um abrandamento da inflação. No entanto, chama a atenção para o facto de os valores totais continuarem bastante acima do objetivo dos 2%, e a chamada inflação core, que não inclui os preços da energia e das matérias-primas alimentares, ainda não começou a descer.