Três meses. Foi este o tempo do silêncio de Alexandra Reis, que foi quebrado, esta quarta-feira, por ter que responder na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda, depois da Inspeção-Geral de Finanças (IGF), o administrador financeiro da empresa, Gonçalo Pires, e da presidente executiva, Christine Ourmières-Widener.
A ex-administradora da TAP, ex-presidente do Conselho de Administração da NAV e ex-secretária de Estado do Tesouro, começou por detalhar o seu percurso profissional e lembrou o período apertado por que passou a TAP, tendo destacado “a redução de salários foi uma decisão difícil”.
Sobre a indemnização recebida e que terá que devolver grande parte, Alexandra Reis revelou ainda não ter recebido da companhia aérea quaisquer indicações sobre como e que parte deve devolver da indemnização de meio milhão de euros que recebeu quando saiu da empresa. “No dia 7 de março, os meus novos advogados contactaram de imediato a TAP para o apuramento dos montantes líquidos a devolver. Desde esse dia e até hoje, apesar das insistências feitas – três pelo menos – continuo a aguardar essa indicação para que se possa proceder à devolução”, revelou, garantindo querer devolver esse valor. “Estou a aguardar feedback”, salientou.
Em resposta à Iniciativa Liberal, a responsável confirmou que colocou o cargo à disposição do Governo a 29 de dezembro por mail remetido ao então ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos e secretários de Estado das Infraestruturas e Tesouro. “Dizia de forma clara que mantinha compromisso e vontade de continuar na empresa e a implementar a reestruturação, porque na altura houve uma alteração acionista na TAP SGPS e eu estava nomeada para a TAP SA pelo Estado, mas na SGPS estava indicada pelo acionista privado. Entendi que era ético e correto manifestar a minha disponibilidade ficar”, disse acrescentando que, se não, renunciaria àquele mandato. Só que, como não teve resposta, continuou a trabalhar tendo sido informada semanas depois pela CEO que deixasse a empresa. “Entendi que estavam a pedir-me que saísse da empresa e não que renunciasse a um mandato. O pedido foi feito por Christine que numa curta reunião de 10 minutos deixou claro que queria que deixasse o meu trabalho como administradora e trabalhadora, tendo pedido a confidencialidade”, assumiu.
Questionada sobre quem queria a sua saída, garantiu não ter dúvidas que foi vontade de Christine Ourmières-Widener mas tem dúvidas sobre os motivos.
E defendeu que “não é verdade” o seu “desalinhamento” com o plano de reestruturação. “Não acreditava que fosse possível voar toda aquela capacidade. Não havia aviões. Tinha havido uma alteração ao plano de frota que me deixava preocupada. O meu dever enquanto administradora era levantar dúvidas, deixei claro que a empresa devia ter um mecanismo de gestão de risco para acomodar aquela capacidade”, acrescentou.