PPE não é visado nas buscas em bruxelas

As buscas realizadas na sede do PPE, em Bruxelas, têm como alvo Mario Voigt, que coordenou a campanha digital do partido nas europeias de 2019. No centro da investigação estão suspeitas de corrupção.

A sede do Partido Popular Europeu (PPE) foi alvo de buscas esta terça-feira por parte de autoridades policiais belgas e alemãs, no âmbito de uma investigação em curso na Alemanha. Nesta operação terão sido apreendidos documentos nos escritórios do PPE, a maior família política europeia, como parte de uma investigação em curso sobre suspeitas de corrupção que envolvem Mario Voigt, atual líder do União Democrata-Cristã (CDU) no estado da Turíngia, Alemanha, durante a campanha eleitoral das eleições europeias de 2019. 

Em comunicado, o PPE confirmou que «representantes das autoridades policiais belgas e alemãs visitaram a sede do partido em Bruxelas na terça-feira» e que «a visita está ligada a um inquérito em curso na Turíngia».

O partido europeu, que é liderado pelo alemão Manfred Weber, também disse estar «a cooperar em total transparência com as autoridades envolvidas, fornecendo todas as informações e documentação relevantes», contudo, «dado tratar-se de uma investigação legal em curso», escusou-se a fornecer mais informações.

As buscas estarão relacionadas a uma investigação lançada em outubro do ano passado que envolvem uma agência contratada em 2019 pelo PPE para a prestação de serviços para a campanha digital do partido nas eleições europeias daquele ano, tendo como alvo principal Mario Voigt.

«A investigação tem a ver não tanto com o contrato celebrado com o PPE, mas sim com os subcontratos que essa empresa depois fez com Mario Voigt», explica Paulo Rangel ao Nascer do SOL.

O eurodeputado social-democrata e tesoureiro do PPE acrescenta que a investigação começou entre setembro e outubro a Mario Voigt e que as buscas na sede do partido aconteceram no contexto de uma série de outras operações semelhantes que decorreram em todas as instituições com as quais o dirigente da CDU na Turíngia trabalhou.

Hannes Grünseisen, porta-voz do procurador do Ministério Público de Erfurt, capital da Turíngia, também confirmou que o alvo da investigação era Mario Voigt, que coordenou a campanha digital do PPE nas europeias de 2019.

O político alemão está na mira das autoridade desde setembro de 2022 por suspeitas de «corrupção em transações comerciais». Segundo o Financial Times, as buscas de terça-feira à sede do PPE envolveram o departamento de crimes económicos da Polícia de Turíngia.

Em declarações à imprensa alemã, o porta-voz do procurador do Ministério Público de Erfurt adiantou que havia apenas uma «suspeita inicial» de corrupção e que o processo pode não terminar em acusação. Grünseisen também confirmou que o PPE para já não é visado na investigação. 

De acordo com o Ministério Público de Erfurt, as buscas desta semana em Bruxelas tiveram em vista a apreensão de documentos relacionados à concessão de um contrato a uma empresa de consultoria com sede em Jena, na Turíngia. Os procuradores suspeitam que Voigt fez lobby para que a empresa recebesse o contrato do PPE para a campanha digital para as eleições de 2019 e que o político alemão terá depois recebido em troca uma comissão no valor de 17 mil euros da mesma empresa. 

Os advogados de Voigt também reagiram na sequência destas últimas buscas argumentando que as suspeitas eram «infundadas». As alegações «não foram fundamentadas e provarão ser infundadas», referiram num comunicado, acrescentando que Voigt negou as acusações desde o início, classificando o processo de «desproporcional e excessivo».

Em setembro do ano passado, o Parlamento regional da Turíngia também suspendeu a imunidade parlamentar de Voigt para permitir que as autoridades alemãs investigassem as alegadas irregularidades financeiras neste caso.

A investigação, no entanto, parece não ter qualquer correlação com o escândalo do Qatargate – um alegado esquema de subornos no qual vários eurodeputados são acusados de terem feito lobby junto da União Europeia a favor do Qatar e Marrocos.