Não casou com um príncipe, mas casou com um milionário…
Casei com um milionário, sim, que me deu uma vida fantástica. Mas quando casei com ele não era um homem assim tão rico. No caso dele foi muito simples. Eles eram lavradores na zona da grande Lisboa. Quando Lisboa começou a desenvolver-se e a projetar-se foi para cima dos terrenos deles. Qual foi a esperteza do meu ex-marido? Pura e simplesmente, em vez de venderem tudo como zona rústica, fazer pequenos projetos e vender um terrenozinho já com o projeto aprovado.
Valia muito mais…
Não estás bem a ver. Um projeto, imaginemos, de 1000 euros passava a valer 100 mil. Foi assim que fez fortuna e deixou obra feita. Foi uma pessoa empreendedora. Tenho o maior respeito por ele, foi o pai dos meus filhos, mas era um pouco daqueles homens à antiga, castrador.
Não é segredo que depois se divorciou e perdeu o acesso a esses luxos, a esses confortos, a essas mordomias...
Tudo, tudo, tudo.
Como lidou com isso?
Lidei muito bem. Como tive acesso a tudo, viajei para todo o lado, fui ver peças de teatro, fui durante 17 anos ao festival de Cannes, fiz tanta coisa, depois, disse: ‘Agora é para trabalhar? É para trabalhar’. Tinha uma amiga, a Marie Briet, que fazia pullovers, tipo aqueles da Póvoa, e pediu-me se eu arranjava uma vendeuse para a loja dela em Colares, no largo do coreto, onde está aquela igreja muito bonita. E eu disse-lhe: ‘Marie, c’est moi la vendeuse’ [risos]. No dia seguinte estava a vender pullovers a toda a gente e, como sou muito imaginativa, pensava que estava a ir para Saint-Paul-de-Vence, uma das terras que mais amei. Pensei ‘que sorte em estar aqui’ e vendi tanto pullover’. Ganhei tanto dinheiro… Dizia para a minha filha: ‘Ó Rita, hoje podemos ir ao João Padeiro’. Portanto, a minha vida, apesar disso, não mudou muito… O meu ex-marido aí é que se deu mal porque pensava ‘esta é uma inútil’ – eu nunca tinha feito um ovo estrelado ou uma cama na minha vida, nunca, e depois consegui fazer tudo. Comprei um livro de cozinha e a Rita até me dizia: ‘A mãe faz o melhor soufflé do mundo’, e aquilo dava-me tanto orgulho. Mas detesto cozinha, hoje em dia compro tudo feito, há caterings fantásticos por preços bons. De maneira que não me dei mal, muito pelo contrário, porque sentires-te livre é a melhor sensação que pode haver no mundo e eu com o meu ex-marido nunca me senti livre. Era usada e mostrada com uma trela ao pescoço como se fosse um cão de luxo, por ser bonita, e ele achava que era uma amostra de poder ter uma mulher bonita.
É engraçado há um bocado ter falado do Hamlet, que tem aquele famoso monólogo ‘to be or not to be’. É uma peça altamente intelectual, introspetiva, que é o contrário do que associamos ao mundo das festas.
Mas o mundo das festas, para mim, é só uma diversão. As pessoas têm todo o direito de se divertirem, faz parte de sermos felizes…
Mas há quem veja como uma coisa superficial ou fútil…
Então respondo a essas pessoas com uma frase da Simone de Beauvoir: ‘Só as pessoas fúteis acham que ser fútil é uma futilidade’ [risos]. Não sou uma pessoa fútil, tenho três cursos e falo seis línguas, mas se me apetecer divertir e tomar um copo à noite, qual é o problema? Ir a uma festa, dançar, conviver e conversar funciona como uma terapia.Não para mim, porque eu não precisei, graças a Deus nunca estive deprimida mesmo quando fiquei sem dinheiro e a vender pullovers… E depois de vender os pullovers fui trabalhar para o Chiado, e ia de comboio porque não tinha dinheiro para ir de carro, mas também não me importei nada, chegava lá num instante.
Não lhe caíram os parentes na lama?
De maneira nenhuma. Trabalhar, fazendo o trabalho bem feito, é uma honra. Até dou uma dica para pessoas que andem à procura de trabalho, porque vi uma vez o Raúl Martins [dono do hotel Altis] dizer que os hotéis estão todos a funcionar a meio gás porque não têm colaboradores nem trabalhadores. Eles dão formação, há 40 mil lugares para pessoas que queiram trabalhar, o que eu acho verdadeiramente é que só não trabalha quem não quer. Quem quiser trabalho, eu arranjo. Assim como eu vendi pullovers, qual é o problema de vir para aqui servir um cafezinho? O meu neto Pedro esteve no hotel Ritz, em Paris, durante 9 meses a fazer um estágio como empregado de mesa, o mais baixo. Estás a ver? Eu conheço a família real, conheço toda a gente, com certeza que lhe arranjávamos uma coisa um bocadinho acima, mas não, foi ele que marcou a videoconferência com o diretor, foi ele que quis ir para o lugar mais baixo durante nove meses. Ficou anorético, coitado não tinha tempo nem para comer.
Foi lá visitá-lo?
Não, não fui porque não quis vê-lo como empregado de mesa [risos].
O Hemingway é que dizia que quando se vai a Paris só há uma razão para não ficar no Ritz, que é não ter dinheiro…
Eu podia fazer isso porque fui sempre ganhando muito dinheiro, na televisão ganhei muito dinheiro e, como não sou tontinha, programei a minha velhice. Em vez de ir para as Maldivas ou para não sei onde – também já fui para tanto sítio que não é por aí que morro – pus no banco. Bom, agora estou um bocado preocupada com este número do Credit Suisse… Será que agora os bancos vão falir todos? Não sei, não sei mas pode ser uma coisa muito grave.
O Horta Osório é que fez bem em sair de lá…
Conheço muito bem o Horta Osório, sou amiga dele e peço-lhe instruções: ‘Diga-me lá os bancos que são bons’. ‘Ai, esse onde a Lili está é ótimo, é um pequeno banco de investimento, não tem problema nenhum…’. Acho que o homem é brilhante.
Mas estávamos a falar das festas… Algumas pessoas acham que a sua vida é só esse lado.
Então e eu não eduquei os meus filhos? Durante 17 anos, todos os dias, fui ao St. Julian’s buscar os meus filhos às quatro da tarde. Todos os dias fazia o homework com eles. Fui governanta de uma casa onde viviam quatro pessoas e cinco empregados. E tínhamos a casa sempre cheia de amigos dos meus filhos, de amigos nossos, era como gerir um pequeno hotel de charme. Fazia isso, ia ao mercado, ao supermercado, ia buscar os meus filhos e foi o papel que mais gostei de fazer na minha vida. Quando os meus filhos não tinham homework íamos sempre lanchar para qualquer sítio giro, fazia-lhes todas as vontades, mas sempre lhes dei também boas maneiras, regras de etiqueta para poder levá-los para todo o lado sem haver problemas. Sabiam que se queriam vir connosco ou viajar connosco tinham que ter um certo comportamento: não falar muito alto, não começar aos gritos, não fazer birras nem um determinado número de coisas que não vêm a propósito de serem feitas numa sociedade civilizada. Há regras para se viver em sociedade e quem não as sabe aprende fica em casa a ver televisão, correto? E acharem que as pessoas são fúteis só porque vão a festas? Quer dizer, depois não há o outro lado? Há a Lili Caneças e a Maria Alice. A Maria Alice chora, tem períodos de solidão. Eu vivo sozinha – antes só que mal acompanhada – e adoro, mas, naturalmente, às vezes não me apetece estar sozinha. Tive um casamento muito infeliz, portanto, não me quis voltar a casar apesar de ter montes e montes de propostas… Poderia ter sido princesa. Um príncipe de uma família de doges [o chefe máximo do governo na República de Veneza, que durou até ao século XVIII] quis que casasse com ele e eu não quis. Ainda andámos no barco dele, tinha um barco enorme, lindo, em Cala Piccola, na Toscana. Apaixonou-se por mim mas eu não lhe liguei nenhuma.
Não estava para aí virada?
Não estava para aí virada, não me apeteceu. E eu falo bem italiano, vivíamos em Florença, na altura, a minha filha foi para lá estudar pintura. Eu vi os homens mais bonitos do mundo, mas lá pelo facto de ver os homens mais bonitos do mundo não quer dizer que tenha um affair com eles. Tens que sentir um clique e uma ligação, não é? Os meus amigos Bertuzzi – foram eles que nos apresentaram -, eram pessoas poderosíssimas e diziam: ‘Lili, não se diz não ao príncipe’. E eu respondia: ‘Digo eu, porque não me apetece casar com ele’. Era bonito, tinha tudo, mas não me atraía fisicamente. Sou fruto de uma cultura judaico-cristã em que primeiro vais a um jantarinho, a um cineminha, depois vais a uma coisa tête-à-tête, depois conversam… Depois, naturalmente acabarás a namorar, mas começar logo como fazem hoje… Eu sou o oposto disso. Fazer amor para mim é um fim e não um princípio.
Um culminar…
Um culminar de uma coisa que te pode dar muito prazer, mas não o princípio. Acho que esta nova geração vai muito por aí e dá-se mal.
Pode contar-nos como conheceu o Jack Nicholson?
Ai, o Jack Nicholson… Ele estava com o Roman Polanski, na festa do Golden Room, do Copacabana Palace, que era uma das festas de carnaval. Começava no Iate Club, onde eu vi aquela linda coisa, e a seguir era a festa do Copacabana Palace. Eu estava lá com o meu ex-marido e esses amigos judeus e, numa sala onde cabem 1000 pessoas estavam umas 10 mil, pessoas em cima das cadeiras, em cima das mesas, porque não havia maneira de caber ali. E, de repente, estava encostada na cadeira e quem é que estava atrás de mim? O Polanski e a mulher dele [Sharon Tate]. Ainda não tinha sido assassinada. Eu era parecida com ela nessa altura. Ele tinha feito o Rosemary’s Baby, que tinha provocado uma polémica no mundo inteiro, porque era sobre uma mulher que tinha relações com o diabo e daí saía um filho diabólico. Como eu adoro cinema, conversámos, conversámos… O Jack Nicholson estava ao lado dele, com uma camisa havaiana. O Polanski tinha tido muitos problemas na vida, estava a adorar falar comigo e conseguiu sentar-se praticamente na minha cadeira. Depois pediu-me para dançar. Perguntei ao meu ex-marido, que estava do outro lado, e ele disse: ‘Não, você não vai dançar com esse pervertido’, porque o Polanski na altura já era acusado de pedofilia. Disse-lhe que não podia por causa do meu marido e ele: ‘Okay, no problem’. Ficou assim um bocadinho triste. Depois o Nicholson, que estava ao lado dele, olhou para mim – ele tem os olhos assim pequeninos – e falou um bocadinho comigo. Mas olhou para mim como quem diz: ‘Esta está no papo, já cá canta’. Mas eu virei-lhe as costas mesmo para dizer: ‘Não canta não, de certeza absoluta’ [risos]. Achei-o tão promíscuo e com um ar tão depravado. Vi os filmes todos dele, é um grande ator, mas não me apeteceu falar com ele por ser um depravado. Essas pessoas que acham que podem ter tudo só porque são grandes atores… Por exemplo, não tinha nada o ar do Polanski, que tinha um ar super querido e, no entanto, foi acusado de pedofilia.
Sim, tanto que ainda hoje não pode ir aos EUA…
Ainda não pode e, depois, coitado, a mulher foi assassinada por aquela seita do [Charles] Manson. E, de facto, eu era o género da Sharon Tate: exuberante, gira… É uma história engraçada. Podia contar milhares. Por exemplo, o Paul McCartney conheci-o e disse-me: ‘Oh, you are gourgeous’, no aeroporto. Ele ia para o Algarve e perguntou-me se queria ir com ele. O George Harrison conheci-o no Farol Design Hotel, ele adorava Fórmula 1 e nós tínhamos cá o Grande Prémio no autódromo do Estoril.
Ele adorava Fórmula 1?
E eu a achar que era todo espiritual… Não, não. Adorava. Esse foi até o último Grand Prix que houve em Portugal. Vi que era ele, parecia um sem-abrigo, e eu disse: ‘Hello, I’m Lili’, e ele: ‘Please, do sit down’… E, às duas por três, ele já me estava a convidar para tomar um chá na casa dele, no Surrey, uma casa linda. Depois não cheguei a ir, mas também é uma história divertida, ter um Beatle a convidar para ires tomar chá com ele. O Robert De Niro também o conheci aqui, em Portugal, no Palácio Galveias, porque o pai, Robert De Niro Senior, era pintor e fez uma exposição de pintura fantástica, assim um pouco surrealista.
Voltou à televisão como comentadora no programa Em Família. O comentário sobre a sociedade e este lado da televisão trouxeram-lhe muitas inimizades?
Foram eles que me vieram pedir para voltar ao comentário de sociedade e eu disse que sim, mas que queria que os primeiros cinco minutos fossem não só de social, para poder dizer: ‘Venham ao Centro Cultural de Cascais, que tem uma exposição fantástica do Stanley Kubrick’ ou ‘Há duas novas exposições na Casa das Histórias da Paula Rego’. Para poder falar de música, concertos, arte, uma coisinha pequenina, uma recomendação. Até o Herman [José] gozou depois com o meu espaço cultural porque ele adora gozar comigo [risos]. Acho pilhas de graça e ao Herman tudo é permitido.
Dão-se bem?
Lindamente. A vida toda, aquela situação [no Herman Sic] foi toda combinada porque ele estava sem audiências [risos]. Ele pediu-me para fingir que estava zangada com ele. Na TVI estavam a dar os Óscares, ele estava na SIC, e na RTP estava a dar o futebol. Ele disse-me: ‘Ai, filha, tens que me ajudar’. Ninguém acredita, até hoje, que aquilo foi de improviso e foi ele que me pediu. Porque eu não consigo fazer uma peixeirada. Estive 17 anos com o meu ex-marido e nunca consegui fazer uma cena, ter uma discussão, nunca dei uma estalada a ninguém, nem aos meus filhos… Então eu disse: ‘Ó Herman, eu não vou conseguir, mas vou tentar, pronto, vou-te insultar com o que me sair pela boca fora’. No dia seguinte fui para Genève e o comandante saiu do cockpit para me vir perguntar: ‘Ó Lili, aquilo do Herman foi verdade?’. A única pessoa que sabia era a Rita, a minha filha, contei-lhe para não ficar preocupada, para não pensar que tinha sido um grande escândalo… Foi pura e simplesmente
o Herman que me pediu para me zangar com ele porque uma vez o Orson Welles tinha feito uma coisa desse género e teve um impacto enorme.
A Guerra dos Mundos?
Exatamente… Ninguém acredita. E o Herman não tem como provar porque, no intervalo, disse à Ana Bola, ao Joaquim Monchique e à Maria Rueff: ‘A Lili vai fingir e vocês façam caras assim muito exageradas’, mas isso não foi filmado, portanto não tem como provar. Mesmo hoje, as pessoas não acreditam. E eu ia às festas do Herman todos os anos e aquelas pessoas todas que lá estavam mandaram-me mensagens: ‘Finalmente alguém disse ao Herman tudo aquilo que precisava de ouvir’. Todos os anos estavam lá nas festas a bajularem-no para tomarem champanhe de borla. Até apaguei as mensagens para um dia não lhe estar a mostrar o tipo de amigos que ele tinha.
A Lili é uma das mulheres mais fotografadas de Portugal. Acha que este conceito de socialite vai acabar por desaparecer dada a influência das redes sociais e das influencers?
Eu acho que sempre fui uma influencer à minha maneira. Dei a cara com amigos afrodescendentes, com amigos gays, com amigos visionários, com pessoas completamente fora da caixa… E fiz isso desde pequena, sempre fui influencer, só que não havia redes sociais. Hoje sou influencer no Instagram, não tenho milhões de seguidores, tenho só cento e tal mil mas assim consigo, em três horas por dia, responder a toda a gente.
Há cerca de dois anos, também por causa da pandemia, falou da possibilidade de se reformar dos eventos sociais, mas recuou…
Recuei porque se estás habituada a sair, a maquilhares-te, é boring ficar em casa a ver televisão. Mas não era só festas. As pessoas esquecem-se que eu vou a todas as exposições de pintura, à ópera, ao ballet, a concertos. A arte é um caminho para a felicidade. Hoje em dia Cascais é considerado um polo de arte para o mundo. Divulgo tudo isso, portanto, já era influencer [risos].
O que espera do próximo ano e, naturalmente, depois, dos oitentas?
Sei que estou na reta final da minha vida. Apesar de não pensar muito nisso, também não me faz muita aflição, vivo o aqui, vivo o agora. Se me perguntarem se tenho sonhos a longo prazo, é claro que não tenho. Posso estar muito bem conservada, posso pôr mais um botox, um ácido hialurónico e ficar fantástica, continuar a fazer desporto e estar com uma figuraça, mas não sou imortal. Não tenho medo de morrer, mas gosto tanto da vida que tenho pena. Olha, gosto tanto de estar aqui com vocês a contar estas histórias, gosto tanto destas pessoas que se abraçam a mim e que me dizem que sou uma inspiração… É tão bom viver que tenho pena de morrer. Parece outra vez do Monsieur La Palice, mas é verdade [risos]. O que eu faço é viver com muita intensidade. Estou sozinha desde que me divorciei, mas não ando a exibir namorados, ou a fazer escândalos, de todo, e se calhar, desde me divorciei, aos 37 anos, tive namorados… Quero estar em paz, estar com a minha consciência tranquila. Vivo em paz comigo e com a minha consciência e isso é que me dá a possibilidade de viver sozinha. A Maria Alice vive com a Lili Caneças, que às vezes me dá vontade de rir com as parvoíces que diz e com as histórias que conta. Eu, Maria Alice, estou sempre com a Lili Caneças, e a Lili Caneças faz-me muito feliz [risos].
Não é um pouco cansativo às vezes isso das pessoas que querem sempre ir ter consigo?
Não, não. Nunca tive essa sensação, por exemplo, agora na Moda Lisboa tirei para aí 500 fotografias – e quando eu digo 500 são mesmo 500 – e dei 20 ou 30 entrevistas. Acham que fiquei cansada? Nada.
Alimenta-se disso também?
Alimento-me, sim. Dá-me muita energia. Alimento-me desse carinho e desse amor, desse contacto. Se me cansasse eu fugia, pronto. Como vemos nas celebridades em Los Angeles, estão de chapéu, óculos escuros, vestidas de uma maneira para ninguém as reconhecer… Comigo reconhecem-me logo pelo cabelo, pela voz…
Não dá para passar despercebida…
Não, em lado nenhum. Podia mudar de penteado, mas não. Eu gosto deste, é o penteado à Marylin que eu gosto de usar. Esse carinho das pessoas alimenta-me, depois o ódio de alguns é problema deles.
Conheceu, por várias razões de que já falámos, o mundo dos ricos, que é um mundo que quem olha de fora vê com grande fascínio. Para quem está lá dentro, esse fascínio mantém-se ou perde um bocado o brilho? Se o dinheiro fizesse uma pessoa feliz eu estaria casada com o pai dos meus filhos. O meu irmão, que é arquiteto, e eu sonhámos a casa da Quinta da Marinha durante quatro anos para eu estar com a minha família até ao fim da vida. E vi que, afinal, o convívio diário entre duas pessoas, 24 horas por dia, é muito difícil. Em média, os casamentos em Portugal duram 13 anos. O meu durou 17, mas foi porque quis dar o melhor aos meus filhos.
Dá-me a ideia de que as festas antigamente tinham muito mais encanto do que hoje, porque hoje olho para aquelas pessoas… Nem eu sei quem são.
Nota muita diferença?
Claro que noto. Até porque dantes as capas da Caras, por exemplo, eram lindas, feitas com pormenor de beleza, de bom gosto. Eu adoro beleza e uma vez veio cá o Papa Bento XVI – até foi o António Costa que foi super querido que me arranjou um lugar mesmo em frente do altar (e o Carlos Moedas também me disse, na Moda Lisboa, que eu vou para o altar [risos]), que era um homem da cultura, da ciência, um homem inteligentíssimo. E disse uma frase que eu, assim que cheguei a casa, escrevi: ‘Rodeia-te de coisas belas, mas sobretudo faz da tua vida um lugar de beleza’.
É o seu lema de vida?
É o meu lema de vida. A beleza incorpora tudo, como disse o Zoroastro: é o bem, a felicidade, a saúde, a beleza, a justiça… Imagina que não era o Bento XVI e que era eu a dizer essa frase? Mas não, foi Bento XVI.
Os seus prazeres hoje quais são?
São muito simples. Deito-me tarde e posso dar-me ao luxo de acordar quando acordo, porque a única coisa que tenho com horas é o programa de televisão ao sábado à tarde. Recebo os conteúdos na véspera, informo-me, pesquiso para poder tornar um assunto meio fútil mais interessante. Por isso é que a TVI me veio chamar quando há tanta gente jovem, linda, bonita e de minissaia, ou quase toda nua e nem precisa de dizer nada, basta só estar lá.
E os prazeres…?
Vivo sozinha, mas tenho muito prazer em viver, qualquer pequena coisa me dá prazer. Hoje em dia não preciso de estar a esquiar em Saint-Moritz, nem preciso de estar na Sardenha, nem preciso de estar a ver o Jude Law, vou ver o Carlos Avilez, que é fantástico em qualquer lado do mundo, aqui ao Teatro Experimental de Cascais, vou ao São Carlos quando posso. Os prazeres mais simples são aqueles que hoje em dia me fazem mais feliz. Andar a pé, ir à marina tomar um cappuccino, comer chocolates – o chocolate engorda-me e eu detesto estar gorda, mas liberta endorfinas, e permito-me isso de vez em quando. Depois há o prazer de estar com os meus filhos, de estar com os meus netos, o prazer de ver uma boa peça de teatro, um bom concerto, um bom filme.
Há pessoas que se habituam a comer filet mignon todos os dias e, depois, quando comem bife da vazia já acham mau. Mas o filet mignon também já não lhes dá gozo às tantas, não é?
Já comeste tantos filets mignons na vida que se calhar dá-te mais gozo outra coisa qualquer.