“A escalada de preços não se resolve empobrecendo ainda mais os portugueses”

O alerta é dado por Eugénio Rosa ao referir ainda que a escalada de preços também é causada pela “inflação de lucros”, enquanto os trabalhadores vão perdendo o seu poder de compra.

“A atual escalada de preços não se resolve empobrecendo ainda mais os portugueses”. A garantia é dada por Eugénio Rosa que aponta ainda o dedo ao governador do Banco Portugal que tem vindo a defender que a subida generalizada dos salários só alimenta o aumento de preços, levando o economista a afirmar que “para Mário Centeno a única forma de reduzir a atual escalada de preços é empobrecer ainda mais os trabalhadores portugueses, agravando ainda mais as suas condições de vida, generalizando a pobreza e a forme, pois assim reduz-se o consumo, e os preços baixam. Mas esquece-se por ignorância ou deliberadamente de analisar as causas da atual escalada de preços que é muito diferente da que ele certamente aprendeu nos livros de economia que leu”.

E os riscos não ficam por aqui. Para Eugénio Rosa, “a redução drástica do poder de compra dos trabalhadores gera o incumprimento (que já está a suceder a nível do crédito à habitação e ao consumo), reduz o consumo interno, diminui as vendas das empresas, gera mais falências e desemprego, e mais crise”.

De acordo com o responsável, a atual escalada de preços tem fundamentalmente duas causas. A primeira causa, resulta de tudo aquilo que o país importa (energia, cereais, produtos alimentares) devido à guerra, a que se adicionou custos de transporte mais elevados. Já a segunda está relacionada com “uma inflação pelos lucros devido à ausência de fiscalização que o Governo só recentemente, devido à pressão popular, tomou medidas que não resolvem o problema, já que são limitadas (até out.2023) e recusa controlar as margens de lucro”.

E face a este cenário não hesita: “É evidente que não é reduzindo ainda mais o consumo dos trabalhadores e pensionistas que se resolve este problema. É preciso ter a coragem de dizer que as sanções alimentam a especulação, causam pobreza e agravam a crise económica e social”.

Eugénio Rosa dá ainda como exemplo, o aumento dos custos das importações de produtos agrícolas, alimentares e da energia entre 2021 e 2022 que, segundo o INE, aumentou 56,3%. “A subida de preços nestes três grupos é a principal causa do aumento da inflação anual em Portugal, se deve principalmente, não aumento das quantidades importadas, mas sim ao aumento significativo dos preços das importações”.

Já, uma segunda causa da escalada de preços, de acordo com o economista, verifica-se na chamada “inflação pelos lucros”, ou seja, um “aumento de preços determinada por um aumento enorme de lucros, já que os empresários) aproveitam a situação internacional, a subida de preços que ela determina, e a ausência de qualquer controlo por parte do Governo e das chamadas entidades reguladores que, na prática, não fiscalizam nada, para aumentar enormemente os lucros”.

Eugénio Rosa dá ainda mais exemplos, recorrendo aos dados do INE, divulgados em outubro passado, que dá conta que o aumento dos lucros das empresas não financeiras entre 2020 e 2021 foi na ordem dos 61,8% no total das empresas e + 96,1% nas grandes empresas – apesar do valor da produção ter crescido, respetivamente, apenas 16,3% e 18,5%.

“Este aumento de lucros determinou que, em 2021, os lucros das empresas não financeiras já fossem superiores aos de 2019 (+25,2% se considerarmos todas as empresas e +11,6% nas grandes empresas). Entre 2021 e 2022, os lucros dos cinco principais bancos (CGD, BCP, Novo Banco, Santander e BPI) aumentaram de 1406 milhões para 2531 milhões (+80%); os da GALP aumentaram de 457 milhões para 881 milhões (+93%); os da Jerónimo Martins subiram de 484 milhões para 607 milhões (+25%); os da Sonae aumentaram de 267 milhões para 342 milhões (+28,1%)”, salienta.

Mas enquanto assistimos a estes aumentos de lucros por parte das empresas, o economista chama a atenção para o facto de, segundo o INE, entre 2019/2022, os trabalhadores da administração pública perderam entre 5,5% e 5,8% de poder de compra e os do setor privado perderam entre 2021/2022 uma parcela do aumento do poder de compra que tinham obtido entre 2019/2020, “o que prova também que Mário Centeno não tem razão”.