Tensão entre exército do Sudão e grupo paramilitar colocam país em risco de guerra civil

A discórdia entre o exército do Sudão e o grupo paramilitar acusado de cometer crimes contra a humanidade, Forças de Apoio Rápido (FAR), podem colocar o país na rota de uma guerra civil.

Vivem-se momentos de grande tensão no Sudão, depois de o exército deste país ter revelado que um grupo paramilitar mobilizou as suas forças para a capital, Cartum, e outras cidades, o que tem aumentado os receios de um possível confronto com as forças armadas.

O exército do Sudão disse em comunicado, esta quinta-feira, que os membros das Forças de Apoio Rápido (FAR), liderado pelo vice-presidente do Conselho Soberano e número dois do Exército, o general Mohamed Hamdan Dagalo, também estavam a deslocar-se para a cidade de Marawi, no norte, naquilo que está a ser considerado uma «clara violação da lei» que arrisca criar mais tensões enquanto o Sudão passa pelo que descreveu como uma «conjuntura perigosa», pode ler-se no Al Jazeera.

«O nosso país atravessa uma conjuntura perigosa, cujos perigos aumentaram, uma vez que a direção das Forças de Apoio Rápido mobiliza forças dentro da capital e em algumas cidades sem o consentimento ou coordenação das Forças Armadas», disse o porta-voz militar, Nabil Abdalá, em comunicado, acrescentando que a mobilização das FAR desencadeou «uma onda de pânico e medo entre os cidadãos e aumentou a tensão e o risco entre as forças regulares».

O grupo paramilitar afirmou, através de um comunicado no Twitter, que estas mobilizações fazem parte das suas funções e que as operações em Marawi fazem parte das «forças nacionais que estão a operar dentro da estrutura da lei e em total coordenação com a liderança das forças armadas».

A FAR, uma força paramilitar que opera sob uma lei especial e tem sua própria cadeia de comando, que surgiu de milícias envolvidas no conflito em Darfur, que eclodiu há 20 anos, e foi acusada de abusos generalizados dos direitos humanos.

Estes juntaram-se aos militares para derrubar o antigo ditador do Sudão, Omar Hassan al-Bashir, num golpe de estado, em 2019, colocando fim ao seu regime de três décadas. Durante esta revolução, a FAR foi acusada de matar e sequestrar manifestantes pró-democracia.

Estas forças realizaram outro golpe em outubro de 2021, que deixou Dagalo no cargo de vice-líder do conselho governante do Sudão. No entanto, recentemente, este afastou-se do exército e ocupou um cargo numa aliança política civil.

Segundo relatos de meios de comunicação internacional, as tensões entre o exército e a FAR tem vindo a aumentar nos últimos meses devido à integração da do grupo paramilitar nas forças armadas.

«O exército quer a integração da FAR dentro de um período de transição de dois anos. A FAR quer ficar sob a liderança civil», reportou a jornalista do Al Jazeera, Hiba Morgan, acrescentando que o exército quer que as forças e oficiais da FAR sejam avaliadas antes de serem integrados.

A jornalista revelou que os partidos políticos alertaram contra desenvolvimentos que possam levar a turbulência política.

«Estamos a falar de dois grupos armados», alertou. «Estas tensões, caso aumentem, podem levar a uma guerra total entre os dois lados, levando o país a uma guerra civil – algo contra o qual muitos partidos políticos tem vindo a alertar».