Entrevista a Anthony Blinken: “Antevejo que a adesão da Suécia à NATO aconteça até julho”

Com a Finlândia a aderir à Aliança, a guerra na Ucrânia continua e o papel da China está a chamar a atenção. O secretário de Estado norte-americano foi a Bruxelas e deu uma entrevista à Euronews onde falou no braço-de-ferro entre as superpotências.

Entrevista a Anthony Blinken: “Antevejo que a adesão da Suécia à NATO aconteça até julho”

por Efi Koutsokosta
Correspondente da Euronews para os Assuntos Europeus

 

A Finlândia aderiu finalmente à NATO, mas ao mesmo tempo, a Suécia foi deixada para trás. Haverá alguma hipótese de também aderir à Aliança em breve ou será um caso perdido?

Não. Estou convencido de que isso vai acontecer. Acontecerá em breve. Prevejo plenamente que até à Cimeira de Vilnius, a cimeira dos líderes da NATO, que terá lugar em julho, a Suécia irá juntar-se à Finlândia como os dois mais recentes membros da NATO.

Isso depende das eleições turcas?

Há um processo. Claro, praticamente todos os países da NATO já ratificaram a adesão da Suécia. A Turquia e a Hungria ainda não o fizeram, mas com base em tudo o que ouvi, incluindo praticamente todos os aliados, nas reuniões que acabámos de realizar, apelando à adesão da Suécia o mais rapidamente possível, com a cimeira de líderes em Vilnius, espero que o processo esteja concluído até lá.

Está incomodado com a posição da Turquia de atrasar ou mesmo bloquear a expansão da NATO?

A Turquia tem interesses legítimos, e tem trabalhado diretamente e bem com a Finlândia e a Suécia para tentar responder a alguns desses interesses e preocupações. Penso que viu o sucesso desse processo manifestar-se com a adesão da Finlândia à NATO. E, mais uma vez, prevejo plenamente que acontecerá o mesmo com a Suécia nas próximas semanas e meses. E em qualquer caso, antevejo que aconteça até à Cimeira de Vilnius.

Mas tem a sensação de que especialmente a Turquia está a usar isto para obter algo dos Estados Unidos, provavelmente os caças F-16? É algo que estamos sempre a ouvir.

Para nós, essa é uma questão totalmente à parte. Apoiamos a Turquia para que tenha um programa de F-16 atualizado, que inclua novos aviões e a modernização dos existentes. Para nós, administração Biden, isto é independente do processo de adesão à NATO e de qualquer outra questão.

Passemos à China. O Presidente chinês, Xi Jinping, visitou Moscovo e Vladimir Putin com um plano de paz nas mãos. Dito isto, a China até agora tem dito que quer manter-se neutra no que diz respeito a esta guerra. Prevê alguma mudança?

Há vários pontos. Em primeiro lugar, algumas das ideias de paz que os chineses colocam sobre a mesa são positivas. De facto, refletem coisas que a China tem dito há muito tempo e que muitos de nós temos dito há muito tempo. Mas o primeiro elemento que foi posto na mesa, a soberania, é que deveria ser o foco da China. A China deveria focar-se em convencer a Rússia a respeitar efetivamente a soberania da Ucrânia e a devolver o território que apreendeu pela força em violação da carta das Nações Unidas, em violação da soberania da Ucrânia. Penso que a China também está a tentar sair-se bem pelos dois lados. Por um lado, quer ser vista como tentando promover a paz e, ao mesmo tempo, continua a apoiar a Rússia de formas diferentes, com a retórica nas instituições internacionais e fazendo avançar a propaganda russa sobre a agressão. Como dissemos há algumas semanas, considero mesmo que presta à Rússia uma assistência letal.

Neste preciso momento, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia estão em Pequim e disseram ter o objetivo de envolver de alguma forma a China a fim de colocar mais pressão sobre a Rússia. Espera que tenham êxito?

A China tem uma relação com a Rússia que lhe confere alguma vantagem. Não quero exagerar, mas dá-lhe alguma vantagem. A Rússia está cada vez mais dependente da China. É o parceiro subalterno nesta relação, mas está cada vez mais dependente da China. Por isso, esperamos que a China use essa vantagem que tem com a Rússia, a influência que tem, para uma paz justa e duradoura.

Qual é a sua opinião sobre a nova abordagem da União Europeia em relação à China e a mensagem que Ursula von der Leyen enviou, que não é sobre uma dissociação, mas o afastamento dos riscos?

O discurso da presidente von der Leyen foi muito forte e totalmente coerente com a nossa abordagem à China e com a abordagem de muitos parceiros e aliados. Ela tem toda a razão. Não se trata aqui da dissociação. Trata-se de afastar os riscos. Por exemplo, no caso da relação económica. Por um lado, apoiando essa relação, porque é importante para todos nós, mas ao mesmo tempo pondo a salvo os setores críticos onde a nossa segurança possa estar em risco. Todos nós temos relações e relações complicadas e muito consequentes com a China. O que têm visto nos últimos dois anos é uma convergência crescente entre os Estados Unidos e a Europa, bem como parceiros-chave na Ásia, na forma como abordamos a relação com a China.

Vemos também alguma escalada em Taiwan e na área em redor. Estamos perto de um conflito de superpotências? Falo aqui das relações entre a China e os EUA.

Temos sido muito claros: não queremos, não procuramos um conflito. Não estamos a tentar conter a China. Nós, pelo contrário, queremos preservar a paz, a estabilidade, criar oportunidades. No que diz respeito a Taiwan, a nossa política tem sido consistente durante décadas. Quaisquer diferenças entre a China continental e Taiwan precisam de ser resolvidas pacificamente. Nenhum dos lados deveria fazer nada para perturbar o status quo, nem tomar quaisquer acções unilaterais nesse sentido.

Alguma coisa está a mudar agora?

Isso depende da nossa perspetiva de Pequim. Penso que a perspetiva, e ouvi isto em conversas com muitos dos nossos aliados da NATO, bem como com parceiros na Ásia, é a preocupação de que, onde quer haja uma crise como resultado das ações da China sobre Taiwan, isso teria repercussões em todos os países da Terra. Literalmente. 50% do tráfego comercial global passa diariamente pelo Estreito de Taiwan. 70% dos semicondutores de que precisamos para os nossos smartphones, para as nossas máquinas de lavar louça, para os nossos carros, são feitos em Taiwan. Se houvesse algum tipo de crise como resultado de algo que a China fez, isso teria efeitos terrivelmente perturbadores na economia global, e é por isso que os países de todo o mundo esperam que todos se comportem e ajam de forma responsável. Estamos determinados, no caso dos Estados Unidos, a gerir a nossa relação com a China de forma responsável. É isso que outros países esperam e é isso que procuramos fazer. Mais uma vez, ninguém está à procura de conflito. Muito pelo contrário. Queremos ter a certeza de que evitamos isso. E sim, estamos em competição. Não há nada de errado com a concorrência, desde que seja justa. Mas queremos ter a certeza de que essa concorrência não se transforma em conflito.