Os tempos mudam, as profissões e o gosto por elas, em muitos casos, também. No espaço de uma década, o retrato laboral mudou muito, como prova o mais recente estudo da Pordata. Segundo os Censos de 2021, a população empregada era de 4,4 milhões de pessoas, um crescimento de 1,5% face ao anterior recenseamento, em 2011.
Nesse ano, as profissões com mais trabalhadores eram os vendedores (365 mil) , os empregados de escritório e secretários (280 mil) e os trabalhadores qualificados da construção, eletricidade e eletrónica (273 mil).
Por profissões, as que viram o número de efetivos crescer mais foram os trabalhadores não qualificados da indústria e da construção (+51 mil); os empregados de escritório e secretários (+23 mil); os profissionais de saúde (que não médicos e enfermeiros) (+21 mil); os enfermeiros (+19 mil) e os engenheiros (+19 mil).
Por outro, as que mais diminuíram foram diretores e gerentes, do comércio a retalho e por grosso (-42 mil); trabalhadores de limpeza em casas particulares, hotéis e escritórios (-39 mil); vendedores (-36 mil); trabalhadores qualificados da construção, eletricidade e eletrónica (-36 mil) e professores (-29 mil).
Os dados mostram ainda que, da análise da evolução dos grandes grupos profissionais , depreende-se a polarização da mão-de-obra: crescem, por um lado, as profissões altamente escolarizadas – dos especialistas das profissões intelectuais e científicas (+158 mil; +3,3 p.p. ) – e crescem também as profissões não qualificadas (+110 mil, +2,3 p.p.) . Já o grande grupo profissional que sofreu a maior redução foi a dos trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices (-82 mil; -2,1 p.p.).
Os setores de atividade com mais trabalhadores O último recenseamento mostrava que quase meio milhão de pessoas trabalhava no comércio a retalho (461 mil), 348 mil na administração pública, 328 mil na educação, e 277 mil nas atividades de saúde. Feitas as contas, somando todos os trabalhadores destes setores, chega-se a um terço do total da mão-de-obra.
Já as atividades onde no prazo de uma década se registaram as maiores perdas de profissionais foram a construção (-68 mil na promoção imobiliária), o comércio (-59 mil no retalho), a educação (-48 mil), a indústria transformadora (-42 mil no vestuário) e o alojamento e restauração (-37 mil na restauração).
E os salários? No que diz respeito aos valores ganhos, no ano passado, quem trabalhava por conta de outrem, auferia, em média 1294 euros. Um valor 210 euros acima do que se recebia 10 anos antes mas que não ultrapassa os 118 euros quando retirado o efeito da inflação.
A Pordata detalha que, no que toca aos grandes grupos profissionais, auferem salários acima da média nacional os representantes do poder legislativo e de órgãos executivos (+1483 euros); as profissões intelectuais e científicas (+701 euros); os técnicos de nível intermédio (+314 euros), entre os quais se verifica uma exceção: os técnicos e profissionais de nível intermédio da saúde que recebem menos 108 euros que a média nacional.
Dentro dos três grupos mencionados, as profissões mais bem pagas dizem respeito a cargos de gestão ou direção: representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes superiores da Administração Pública, diretores e gestores de empresas (ganhavam, em média, 3577 euros); os diretores de serviços administrativos e comerciais (3091 euros); os diretores de produção e de serviços especializados (2826 euros) e os técnicos dos serviços jurídicos, sociais, desportivos e culturais (2331 euros).
Os números mostram ainda que as profissões das áreas das ciência, tecnologia, engenharia e matemática são também das mais bem pagas, com remunerações acima dos 1850 euros.
A (ainda) diferença entre homens e mulheres A análise conclui que, na desigualdade salarial que ainda existe, o maior fosso diz respeito aos técnicos de nível intermédio dos serviços jurídicos, sociais, desportivos, culturais. Aqui, os homens ganham, em média, mais 2409 euros. Mas não é a única profissão. Seguem-se os representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes superiores da Administração Pública, diretores e gestores de empresas onde os homens ganham, em média, mais 1070 euros que as mulheres; os diretores de produção (+585 euros); os diretores de serviços administrativos e comerciais (+577 euros); os especialistas em finanças, contabilidade, organização administrativa, relações-públicas e comerciais (+452 euros); e os profissionais de saúde (+442 euros).
Já os setores económicos mais bem remunerados são o da eletricidade, gás e água (auferiam, em média, mais 1672 euros que a média nacional) e as atividades financeiras e de seguros (1080 euros). Por outro lado, o setor do alojamento e restauração e o da agricultura são os menos bem pagos (-380 euros e -283 euros face à média nacional).
Valor acrescentado bruto
Dizem ainda os dados da Pordata que os setores económicos que geraram mais riqueza – valor acrescentado bruto (VAB) -, em 2020, “são também aqueles onde os salários médios dos trabalhadores estavam abaixo da média nacional”. Exemplo disso é o setor da indústria transformadora (gerou 13,8% do VAB, com destaque para as indústrias alimentar e têxtil, onde os salários médios são 121 euros e 340 euros inferiores à média nacional), as atividades imobiliárias e o comércio (13,4% e 13,1% do VAB), a administração pública e a saúde (7,4% e 7% do VAB). E na saúde, a diferença face à média nacional é de menos 145 euros.
“Contudo, as maiores diferenças face à média nacional encontram-se no alojamento e restauração (-380 euros, com um VAB de 3,6%), na agricultura (-283 euros, com um VAB de 2,5%) e nas atividades administrativas e serviços de apoio (-208 euros, com um VAB de 3,8%)”, detalha a Pordata.