Finalmente o Braga chegava à I Divisão. Dia 16 de novembro de 1947. Caminho árduo se pensarmos que o Sporting Clube de Braga fora fundado em Janeiro de 1921. Mas, a vitória na liguilha a 4 com os Onze Unidos, Oliveirense e Vila Real de Santo António tinha levado os minhotos ao título de Campeão Nacional da II Divisão pela primeira vez e os adeptos entraram em festa. Mais do que justificada, diga-se de passagem. E o verão passou com a ansiedade própria de quem ia ver os seu clube disputar jogos com os grandes do futebol nacional.
Amanhã, pelas oito e meia da noite, o Braga desloca-se à Luz para defrontar o Benfica: talvez não seja muito realista dizer que os bracarenses ainda estão convencidos de que podem ser campeões nacionais, algo de absolutamente inédito. Mas querem e vão ter uma palavra a dizer em relação à luta pela presença na Liga dos Campeões ou nas pré-eliminatórias da maior prova de clubes do mundo. E, assim sendo, esta vinda a Lisboa tem pontos de comparação com o tal jogo de 1947. Sim, porque o sorteio mandou o Braga estrear-se na divisão principal em Lisboa, contra o Benfica, pois então, no Estádio do Campo Grande. Convenhamos que era entrar pela porta grande. Fosse qual fosse o resultado porque ninguém poderia exigir aos moços do Minho aquilo que tinha foros de impossível: bater o poderoso Benfica no seu território, à época o Campo Grande. O recinto encheu. Sobretudo de benfiquistas como está bem de ver, mas também com alguns alegres bracarenses bravamente orgulhosos da sua equipa que apresentava quatro reforços com experiência de I Divisão, Marques e Daniel (que haviam jogado no Sporting) e Salvador e Elói (que tinham passado pelo Belenenses). De pouco serviram perante a atitude agressiva do Benfica – no bom sentido, até porque os de Braga foram muito bem recebidos, com direito a galhardete e tudo – e face ao acanhamento dos visitantes.
Aos 7 minutos já o Benfica ganhava por 2-0 e definira o nome do vencedor da contenda. Aos 4 minutos, uma grande penalidade trapalhona pôs Arsénio frente a frente com o guarda-redes Salvador mas este, apesar de ser um dos principais nomes da equipa, nada pôde fazer para evitar o 1-0. Salvador Jorge tinha representado o Belenenses durante seis épocas e obtido a bonita contagem de cem jogos com a camisola da Cruz de Cristo. De repente parecia um rapazito desorientado: saiu à toa da baliza numa bola alta e Vítor Baptista fez o 2-0 com a maior das facilidades. O público vindo do Minho soltou um «ooooh!» desiludido ao ver a festa desmanchada em tão pouco tempo. Mas não tardaria ter razões para dar largas à sua alegria.
O primeiro!
Mário Serafim da Cunha, que todos conheciam por Mário Laranjo, jogou oito épocas no Braga, o seu clube de uma vida. Aos 9 minutos do desafio da Luz aproveitou um canto para fazer, de cabeça, o primeiro golo do Braga na I Divisão. Não era de estranhar. Foi sempre um avançado codicioso e lutador. Durante anos foi o melhor marcador da história do clube com 92 golos em 30 jogos. Deu vazão à sua alegria correndo para os companheiros e, por algum tempo, perpassou pelo público como uma brisa morna vinda do Tejo a ideia de que o Benfica iria ter mais problemas para garantir a vitória do que aqueles que esperava. Os encarnados vestiam de branco. Deram a primazia ao adversário de utilizar o seu equipamento principal, já com as mangas brancas, uma ideia do técnico Josep Szabo que tinha ido a Londres ver jogar o Arsenal. Algumas penas mais leves tratavam o Braga por ‘Leões do Minho’ mas a verdade é que o clube, apesar de fundado por jovens estudantes simpatizantes do Sporting (as primeiras camisolas chegaram a ser verdes e brancas às riscas) nunca foi uma filial dos Leões de Alvalade. Melão e Mário Rui (30 e 44m) conduziram à goleada antes do intervalo. No segundo tempo Mário Rui (53m) e Vítor Baptista (70m) resolveram o assunto. A festa dos de Braga murchou. Mas o dia ficou para a História.