No PSD não há pressa. Quando toda a oposição reagiu na noite de terça-feira, a seguir ao pedido de demissão do ministro João Galamba que o primeiro-ministro não aceitou, Luís Montenegro aguardou pelo dia seguinte para dizer ao país que está «pronto» para ser primeiro-ministro, mas que o seu partido não pede eleições antecipadas. Já esta quinta-feira, após o Presidente da República ter afastado, pelo menos para já, o cenário de ‘bomba atómica’, o secretário-geral do PSD também quis dar sinal que não há urgência, assumindo que o partido se revê na leitura de Marcelo Rebelo de Sousa em relação ao Executivo de António Costa e à necessidade do reforço do seu escrutínio no futuro.
«Um Governo que não assume responsabilidade, perdeu a sua confiabilidade», afirmou Hugo Soares, referindo-se ao caso de João Galamba.
«O Governo fragilizou-se na sua autoridade e credibilidade», continuou, assegurando que o PSD «respeita» as conclusões que Marcelo trouxe e que concorda que é preciso um «reforço da vigilância» sobre o Executivo.
Ao contrário da Iniciativa Liberal e do Chega, que defenderam a dissolução do Parlamento, os sociais-democratas não querem ser mais um fator de instabilidade. «Se houver um cenário de eleições antecipadas a instabilidade deve-se única e exclusivamente ao primeiro-ministro», acusou ainda o braço-direito de Luís Montenegro.
Nesse mesmo dia, o líder social-democrata já tinha dito que o seu partido não queria «lançar o país para uma situação de ingovernabilidade». «Quem a criou e quer tomar partido disso é o PS e o primeiro-ministro».
Rejeitando provocar uma ida às urnas, Montenegro respondeu com um «não» a uma possível moção de censura ao Governo apresentada pelo seu partido, por entender que estaria a fazer um «frete» ao PS. Além de esse instrumento não ter efetividade prática, dada a maioria socialista, o PSD também não quer ficar com o ónus de pedir eleições antecipadas – algo que tende a traduzir-se como fator de impopularidade nas sondagens.
A tática da direção social-democrata passa, pelo contrário, por mostrar que a responsabilidade de provocar uma crise política e atirar o país para umas eleições que os portugueses neste momento não parecem desejar, dada a conjuntura económica, é única e exclusivamente do primeiro-ministro e do PS. E essa foi a mensagem que Montenegro quis passar: «Num ápice, o primeiro-ministro ensaiou uma fuga para a frente a ver se provoca eleições antecipadas. Não é capaz de reformar, renovar ou simplesmente refrescar o Governo: vê como saída para o caos em que mergulhou o executivo tentar provocar eleições antecipadas sem ter coragem de o dizer», denunciou.
Na avaliação do líder do PSD, «tudo é um jogo» para António Costa, «um jogo de oportunismo, um jogo de teatro político, um jogo de sobrevivência, o jogo único da sua sobrevivência que ele joga com prazer egoístico, mas em prejuízo dos portugueses, desde o primeiro dia».
Por outro lado, importa a Montenegro vender a imagem de líder da oposição responsável e maduro, capaz de oferecer uma verdadeira alternativa ao país. «Comigo e com o PSD, terão um primeiro-ministro e um Governo totalmente diferentes», assegurou, acrescentando: «Não me move nenhum espírito de sobrevivência individual ou partidária – pelo contrário, move-me um espírito de missão que será a minha última na política ativa».
Atirando a Costa por ter decidido «abrir uma irresponsável e egoísta crise institucional», Montenegro deixou a decisão inteiramente nas mãos do Presidente da República. «Não sendo a nossa opção [pedir eleições antecipadas], o país pode contar com a nossa alternativa. Respeitarei qualquer que for a decisão do Presidente da República», afirmou, reforçando que os sociais-democratas estão prontos para ir a jogo.
Deputados estavam à espera de ‘murro na mesa’
Apesar de Montenegro ter dado luz verde a Marcelo, o discurso do presidente do PSD não colou junto dos seus deputados, num novo sinal de divergência interna entre a direção e o grupo parlamentar social-democrata.
«Estavamos à espera que a reação do partido fosse mais musculada, porque também insuflaram bastante o balão ao adiarem a reação para quarta-feira e ao convocarem a comissão permanente», atira um deputado do PSD em declarações ao Nascer do SOL.
«Esperava-se que saísse da São Caetano uma reação de força, uma posição digna de um partido que lidera oposição, mas a verdade é que a montanha pariu um rato», confessa outro parlamentar social-democrata.
Inconformados com as reservas de Luís Montenegro em pedir eleições antecipadas, era expectativa de um grupo de deputados do PSD que o partido pelo menos pudesse apresentar uma moção de censura ao Governo. «É mais um penalti falhado do presidente do partido, o que se esperava era que o PSD entrasse em jogo. Ninguém compreende que o primeiro-ministro faça chantagem com o Presidente da República e depois o PSD fique encostado», criticam, resumindo que, no fim do dia, a mensagem que passa para os portugueses é que «Costa sai por cima, Marcelo sai chamuscado e o PSD parece que está de férias».
Já em janeiro, quando os liberais apresentaram uma moção de censura ao Governo que o PSD não acompanhou, a bancada social-democrata entrou em choque com a direção. Agora, as vozes desta corrente de indignação interna insistem que o partido tem «perdido sucessivas oportunidades de marcar o seu espaço político» o que, na ótica dos deputados, faz com que efetivamente o PSD, na pior altura possível da governação socialista, não dispare nas sondagens.
Ainda assim, não é de ignorar o sinal de convergência que Luís Montenegro e o líder da IL, Rui Rocha, deram ao Presidente da República ao terem almoçado juntos na quarta-feira para analisar a situação nacional. Almoço esse que deixou o Chega de fora da mesa (de negociações).