O futebol em Espanha continua racista

Atitudes racistas para com Vinícius Júnior colocam em xeque as autoridades espanholas.

O futebol espanhol continua nas bocas do mundo, pelas piores razões. Há muito que se repetem atitudes racistas para com Vinícius Júnior, só que agora a situação escalou, uma vez que envolveu as autoridades dos dois países, com o Governo brasileiro a convocar a embaixadora de Espanha para abordar o ‘caso Vinícius’ e prevenir e evitar a repetição deste tipo de comportamentos.

O jogo entre o Valência e o Real Madrid ficou marcado por atitudes inaceitáveis dos adeptos do Valencia, que entoaram cânticos como «É um macaco, Vinícius é um macaco» e «Burro», enquanto alguns imitavam os sons de um macaco, o que despoletou uma reação do internacional brasileiro e dos seus colegas, que tiveram uma acesa troca de palavras com os energúmenos que estavam no estádio Mestalla, que vai ter a bancada sul fechada por cinco jogos em consequência destes atos.

Os insultos começaram com a chegada do autocarro do Real Madrid ao estádio e prolongaram-se durante o jogo, tendo sido preciso o avançado denunciar os insultos ao árbitro para este tomar uma atitude e interromper a partida durante oito minutos. Entretanto, a Polícia Nacional revelou que deteve três pessoas, de nacionalidade espanhola, que fizeram gestos racistas contra Vinícius Júnior, mas foram dezenas a ter esse comportamento. O clube também já disse que vai aplicar a medida mais severa – proibir o acesso vitalício ao estádio.

O assunto ganhou importância e chegou à Organização das Nações Unidas (ONU). O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, condenou os insultos racistas contra o futebolista e apelou «aqueles que organizam eventos desportivos a lançarem estratégias no terreno para evitar e contrariar o racismo no desporto e no mundo». Para os adeptos espanhóis (em Portugal não é diferente, como se viu no caso Marega) vale tudo num campo de futebol, só que este caso pode ter acabado com a impunidade perante os atos racistas nos recintos de futebol.

O clube saiu em defesa do seu jogador e apresentou uma queixa na Procuradoria-Geral «por delitos de ódio e discriminação» para com o internacional brasileiro. O Valência, por sua vez, emitiu um comunicado condenando «qualquer tipo de insulto no futebol» e lamentou o ocorrido no jogo contra o Real Madrid, que classificou como «episódio isolado», só que não foi.

Não é a primeira que um dos melhores jogadores da atualidade é alvo de atitudes hostis e racistas. Até março, a liga espanhola tinha registado oito reclamações na Justiça por racismo contra Vinícius Júnior, que respondeu às provocações com uma tatuagem onde se lê: «Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos, haverá guerra». O caso mais grave aconteceu em janeiro, quando um boneco com a camisola de Vinícius foi pendurado pelo pescoço numa ponte perto do centro de treinos do Real Madrid. Sobre este caso, a Polícia informou que foram detidas quatro pessoas.