Portugal cresceu quatro vezes mais do que a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) nos primeiros três meses do ano. Os dados dizem ainda que a economia portuguesa registou mesmo o segundo melhor desempenho entre os 38 países que integram a organização.
Em números, até março, a média de crescimento neste conjunto de países foi de 0,4%, comparativamente aos últimos três meses de 2022. Já em Portugal, a riqueza produzida subiu 1,6%. Um valor que fica apenas atrás do anotado pela Polónia, cujo Produto Interno Bruto (PIB) subiu 3,9%.
Portugal volta então a ser um bom aluno? Sobre estes dados, Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, justifica ao Nascer do SOL que «a dinâmica positiva do setor turismo e o aumento da população empregada, já muito perto dos 5 milhões de trabalhadores, mantêm a resiliência da economia portuguesa, tendo permitido revisões em alta do crescimento do PIB real para 2023 tanto pelo Executivo português como por diversas instituições nacionais e internacionais».
Uma opinião que é partilhada por Henrique Tomé, analista da XTB ao referir que «a continua recuperação nas exportações e o turismo estão a apoiar o atual crescimento do PIB». No caso do turismo, explica ao nosso jornal, «ainda estamos em níveis pré-pandemia e a atual recuperação deverá contribuir para a recuperação do PIB». Henrique Tomé diz ainda que, embora estejamos numa fase em que é expectável «antecipar um abrandamento na atividade económica e já se note algum abrandamento a nível das exportações, ainda não é percetível esse abrandamento no caso do turismo» e que as perspetivas para este ano «continuam a ser animadoras, o que deverá ter um peso positivo para o PIB».
Questionado sobre se estes dados são o resultado da política de ‘contas certas’ do Governo, Vítor Madeira, analista da XTB, é perentório: «Não me parece que o Governo tenha fomentado políticas de ajuda à economia e ao crescimento económico. Portanto, não podemos inferir que estes resultados sejam fruto de boas políticas governamentais, mas sim do esforço dos portugueses e dos empreendedores».
E sobre o facto de o Governo poder ou não fazer uma maior aposta na atribuição de novas ajudas para as famílias, o analista defende que «pode haver uma margem de manobra superior, note-se que o Governo deve também fazer um esforço para controlar a inflação, como tal deve ser restrito com o alvo em que escolhe para incrementar apoios. Em simultâneo, pode aproveitar essa margem para apoiar as empresas mais fragilizadas e assim fomentar mais crescimento económico e emprego».
Portugal continua a crescer?
Os dados são bons mas não é certo que o futuro seja tão risonho. O economista Paulo Rosa é da opinião que seja provável que as elevadas taxas de juro, «à medida que o mecanismo de transmissão à economia real se torna gradualmente mais efetivo, comecem a penalizar cada vez mais o rendimento disponível das famílias e travem o investimento das empresas, afetando o crescimento económico português». O economista defende então que é esperado um «crescimento económico anémico» nos próximos anos, uma tendência observada nas economias avançadas.
E apesar de defender que o turismo deverá continuar a mostrar resiliência nos próximos anos e a impulsionar a economia portuguesa, diz que «é um erro alicerçar uma economia num setor exclusivamente de serviços centrado na movimentação das pessoas, mesmo que este seja competitivo extra-preço». É que, acrescenta, a guerra na Ucrânia deslocalizou algum turismo do leste europeu para países como Portugal, «mas o final da guerra poderia abrandar esse turismo. A dependência do turismo mostrou bem a fragilidade da economia portuguesa aquando da pandemia e consequente distanciamento social», diz, sugerindo que a economia portuguesa se deve focar na produção de bens e serviços «mais competitivos extra-preço e menos dependentes de um maior ou menor distanciamento social, afastando-se gradualmente da competitividade via preço».
Vítor Madeira partilha a opinião de que o país poderá continuar a crescer mas alerta que e economia portuguesa «depende muito da economia do exterior». E deixa avisos: «Devemos ter atenção que parceiros como a Alemanha, a França e o Reino Unido têm sentido maiores abrandamentos na sua indústria e estão agora a sentir o arrefecimento económico da subida das taxas de juro», acrescentando que isso pode «ter impacto direto nos próximos meses nas exportações portuguesas, que têm um peso significativo no crescimento do PIB».
Inflação abaixo dos 3%?
Esta semana, o ministro das Finanças, Fernando Medina, disse esperar vários meses no segundo semestre de inflação abaixo de 3%, destacando ainda a expectativa de redução do peso da dívida pública.
Sobre os dados da inflação, os especialistas ouvidos pelo nosso jornal, consideram a perspetiva do ministro das Finanças realista. E explicam: «O índice de preços no produtor é um aceitável indicador avançado dos preços, proporcionando uma fiável tendência do índice de preços no consumidor, ou seja, da inflação no consumidor, o indicador mais utilizado para aferir a inflação», começa por explicar Paulo Rosa, detalhando que o Índice de Preços na Produção Industrial (IPPI) de Portugal aumentou quase 40% desde janeiro de 2021 a junho de 2022, «mas, entretanto, tem descido gradualmente a partir dessa data, tendo diminuído 6,4% até abril de 2023». Olhando para o Índice de Preços no Consumidor (IPC) em Portugal, «este começou a acelerar em março de 2022, após a invasão russa da Ucrânia, numa altura em que o IPPI dava sinais de abrandamento, tendo mesmo iniciado uma descida a partir de junho». Dadas as explicações, Paulo Rosa considera então ser «plausível uma desaceleração dos preços no consumidor para níveis inferiores a 3%, em termos homólogos, a partir do final do verão, sobretudo nos últimos meses do ano».
Por sua vez, Vítor Madeira diz que as expectativas de Medina podem estar corretas visto que «neste momento temos uma taxa de inflação de 5.7% e espera-se níveis de abrandamento mais lentos daqui para a frente», pelo que lhe parece «uma declaração otimista».
O analista acrescenta que esta última queda na inflação «foi derivada da queda no preço da eletricidade e dos combustíveis em relação ao mesmo período do ano passado (que foi quando os mesmos tinham disparado)». E que se olharmos em relação ao mês anterior (março), «os preços continuam a subir com uma taxa de 1.3%, portanto não se pode inferir que os preços já estejam a cair. Ainda assim, a inflação poderá chegar abaixo dos 3% este ano no caso do cenário da recessão se materializar».