Isto está mesmo complicado…

Se nos virarmos para o SNS, Fernando Araújo foi nomeado Diretor Executivo, mas soubemos há dias que os Estatutos desta Direção Executiva ainda se encontram por aprovar.

1. Às vezes, cruzamo-nos com amigos ou conhecidos que nos contam estórias reais vividas na primeira pessoa e percebemos melhor quão sérios são alguns problemas. Desta vez na Saúde, como poderia ter sido na Educação ou na Justiça, setores cada vez mais descredibilizados, primordialmente por culpa de um PS que finge governar, mas também de uma oposição que assegura os votos dos resilientes, mas não captura os votos de certas classes sociais, adormecidas por promessas de atualizações dos salários ou de reformas.

Em termos simples e descodificando o que afirmo sobre estórias vividas, soube de casos concretos que demonstram a facilidade com que o setor privado capta médicos e enfermeiros no SNS, tal as diferenças salariais em cima da mesa e a desmotivação em múltiplos serviços e fico-me a perguntar: este Governo não vê mesmo o que se passa, ou vendo, ignora e ‘empurra com a barriga’ porque não sabe resolver?

Depois, vamos no carro, rádio ligado para não pensar no trânsito por vezes caótico de Lisboa e ouvimos Rui Lázaro, presidente do Sindicato de Técnicos de Emergência Pré-hospitalar, referir, por estas ou outras palavras, que (i) há ambulâncias paradas por falta de pessoal, e (ii) que se encontra altamente preocupado com as Jornadas Mundiais da Juventude, dado que essa escassez não pode ser suprida com voluntaristas (como parece do mais elementar bom senso) dada a especificidade de funções do INEM que requer pessoal altamente treinado e… não há! Como não havemos de ficar preocupados?

Se nos virarmos para o SNS, Fernando Araújo foi nomeado Diretor Executivo, mas soubemos há dias que os Estatutos desta Direção Executiva ainda se encontram por aprovar. Dizem que será até final deste mês de junho, mas ninguém vê a imagem que passa? Depois, se falarmos sobre a visibilidade do trabalho efetuado, o que aparenta é que se vão procurando soluções que mitiguem os efeitos das faltas de médicos e ou pessoal especializado. 

Faltam médicos de família, abre-se um concurso para 978 vagas e apenas se conseguem 314 respostas que foram ‘agarradas com ambas as mãos’, deitando foguetes porque pelo menos 500 mil utentes vão ter finalmente um médico de família. Ainda bem, mas ninguém faz a pergunta: porquê tão poucos? Esta e outras, que entroncam sempre na falta de atratividade da função, são as perguntas a que há que responder e urgentemente.

Por exemplo, faltam obstetras e surgem soluções como a de fechar serviços em hospitais, ou seja, remendos, como o de prolongar a possibilidade dos médicos trabalharem até aos 70 anos. Infelizmente, quanto a soluções estruturais, estas nem se vislumbram, quiçá por se encontrarem espartilhados pelas Finanças que mantêm o garrote apertado em todos os ministérios. Deixo uma sugestão: que tal recrutarem alguém especializado em ‘organização e métodos’ para a equipa de Fernando Araújo?

2. Sobre a Educação, as greves dos professores, por muito legitimas que são e nem discuto as razões fortíssimas desse descontentamento, começam a gerar graves problemas nas famílias e já em surdina se questiona se verdadeiramente o objetivo de defender a qualidade do ensino público está a ser atingido. A perceção é contrária e, neste aspeto, pese embora algum radicalismo dos professores como no tema da greve às avaliações, alguém me consegue explicar a intransigência do Ministério da Educação, sobretudo no tema do 6/6/23 – seis anos, seis meses e 23 dias?

Parece inquestionável que os professores trabalharam e se as circunstâncias na altura obrigaram a tantos apertar o cinto, também garantidamente os professores sofreram e bem. No entanto, ao Governo, não basta propagandear os excelentes dados da economia e há que ser coerente, seguindo os bons exemplos das ilhas. Acredito perfeitamente que os sindicatos seriam absolutamente razoáveis a negociar um pagamento faseado e, caramba, custaria assim tanto fazer justiça a quem merece?

3. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da TAP continua a fazer o seu caminho, ultimamente com pesos pesados da política portuguesa, como Pedro Marques, Pedro Nuno Santos e António Pires de Lima. Passemos por cima do chinfrim das lutas políticas à volta de Galamba (a funcionar como escudo protetor de Costa – ao estilo de ‘enquanto fustigam este, ando eu descansado’), e cingimo-nos apenas a factos: Pedro Marques e Pires de Lima em contradição clara em que este acusou aquele de «não poder valer tudo em política» e Pedro Nuno a aproveitar a oportunidade para se auto elogiar, quiçá na esperança de que o seu caminho para a liderança do PS lá para 2026 também passa por estes momentos. 

António Costa, por sua vez, reitera que tudo isto na CPI são ‘casos e casinhos’, como tanto gosta de catalogar e quer fechar o dossier antes do verão. Algures por estas semanas, provavelmente fará uma remodelação, com um ‘baralha e dá de novo’ e lá para setembro, com o povo regressado de férias, ‘ano novo, vida nova’, com a CPI bem arquivada na ‘gaveta do esquecimento’. 

Depois, a pensar nas Europeias de 2024, tem na manga uns trunfos habitualmente fortes como os aumentos generalizados dos salários na função pública e nas reformas, pelo que, na hora dos votos, António Costa acredita que estes mais de 4 milhões de eleitores pensem ‘com a carteira’ e votem PS. Se for preciso uma ajudinha a relembrar a ‘austeridade da direita’, lá voltarão os chavões dos ‘cortes do Passos Coelho’ para assustar e ajudar a chegar a 2026. 

Onde é que este raciocínio pode falhar? Nos últimos meses, só Cavaco Silva verdadeiramente o atrapalhou, mas Costa mantém a esperança de que o antigo Presidente também não irá falar assim tantas vezes. No entanto, se a direita democrática tiver aprendido alguma coisa com as últimas eleições, se porventura relembrar de que no passado ‘a união fez a força’ (o tal efeito do Método de Hondt), pode ser que ‘as contas saiam furadas’ e esta CPI, mais tantos ‘casos e casinhos’, incluindo Galamba, tirem o povo desta letargia em que anda mergulhado e perceba que um país para se desenvolver e garantir ordenados e reformas precisa de investimento estruturante, até por forma a não ficar tão dependente de um Turismo que já representará 17% do PIB (só ultrapassado na Europa pelos 21% da Grécia).