por Carlos Bonifácio (Mestre em Estratégia) e João Barreiras Duarte (Consultor e Gestor de Empresas)
Passaram 15 meses de invasão da Ucrânia ao arrepio do direito internacional, com ataques constantes e indiscriminados sobre civis. Na guerra há sempre vítimas de ambos os lados, mas não existe a menor dúvida de quem é o agressor e o agredido. O regime russo passou todas as linhas vermelhas e tem cometidos atrocidades inqualificáveis sobre os ‘irmãos’ eslavos ucranianos. Não confundimos o regime belicista, corrupto e imperial de Putin, com o povo russo que na sua maioria vive com a informação manipulada e em parte na miséria.
Fora dos grandes centros urbanos milhões de russos vivem sem condições mínimas de habitabilidade, sem sanitários, sem água canalizada e saneamento. A realidade social russa antes de 24 de fevereiro contrasta com o nível de vida da população ucraniana, situação que como nos recordamos foram objeto de relatos inacreditáveis de pilhagens de carros, eletrodomésticos, telemóveis por militares russos, para se avaliar a falta de disciplina do exército russo, mas também as enormes carências sociais em que a Rússia se encontra, mergulhada em gritantes desigualdades sociais.
Depois destes longos e penosos meses de guerra, a agressão russa está num impasse, as forças invasoras pouco progridem no terreno. Os russos continuam a insistir essencialmente em ataques aéreos com recursos a ‘doses maciças’ de mísseis e drones sobre as infraestruturas elétricas, de abastecimento de água e sobre áreas residenciais. Estima-se que terão perdido a vida até agora mais de 250 mil pessoas, sendo já considerado o conflito mais devastador depois da II Guerra Mundial na europa.
Importa refletir e procurar eventuais pistas e saídas para esta guerra: a última reunião do G-20 em Bali, permitiu um encontro bilateral entre Biden e Xi Jinping que sem resultados de monta, teve, contudo, o mérito de estabelecer compromissos de princípio, expressos na vontade de assumir que as diferenças e a concorrência entre as duas superpotências nunca deverão levar a um conflito entre ambos. Por sua vez o papel da Turquia muito por força das recentes eleições presidenciais internas tem representado um esforço quase inglório para se chegar à paz, a exceção são o acordo dos cereais. Mais recentemente a China esboçou uma tentativa para também ela dar um contributo para o fim deste conflito, contudo, as suas intenções não chegam sequer a ser propostas, mas apenas declarações de intenções, vagas e sem qualquer calendário, que mereceram uma reação de desconfiança do ocidente apesar da saudação contida do regime de Kiev.
Não obstante todas as dúvidas que se levantam, tudo leva a crer que a China está mais interessada em fazer negócios do que em patrocinar conflitos, o seu crescimento económico é mais importante no imediato do que a estratégia militar. Para os Estados Unidos, a Rússia passou a ser mais uma ameaça regional do que global, o seu verdadeiro interlocutor é a China. EUA e China não abdicam de exercer a sua influência à escala global e pretendem condicionar outros atores que consideram menores, onde a Rússia parece estar condenada a desempenhar esse papel.