por João Sena
Os últimos meses foram de grande azáfama nas forças armadas ucranianas a preparar aquilo que todos consideram ser uma contraofensiva em larga escala. Especialistas em estratégia militar consideram que é necessário haver boas condições meteorológicas para efetuar as operações de manobra ofensiva e proteger as suas próprias forças, e apontam o final da primavera e início do verão como o momento mais indicada. Ou seja, é altura de atacar para libertar todo o território ocupado, mesmo que isso tenha um custo elevado para a Ucrânia, como lembrou o Chefe de Estado Maior dos Estados Unidos.
«Estão a decorrer na Ucrânia acções defensivas e contraofensivas relevantes», anunciou o Presidente Volodymyr Zelensky, com a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, a confirmar que «a contraofensiva ucraniana está a avançar, apesar da forte resistência russa na frente mais a sul».
As tropas ucranianas têm atacado em várias frentes, obrigando as forças russas a recuar. Nas últimas horas recuperaram mais de três quilómetros e foram recapturadas várias localidades, informou Oleksiy Gromov, responsável do Estado Maior do exército ucraniano. Podem parecer ganhos territoriais mínimos por serem aldeias quase abandonadas nas regiões de Donetsk, no leste, e Zaporizhzhia, no sudeste, mas não deixa de ser significativo e um forte impulso moral para os ucranianos. Obviamente não se conhece a dimensão real da ofensiva ucraniana, mas é certo que estes primeiros ataques às posições inimigas tiveram também por objetivo perceber a posição e poderio da artilharia russa e a vulnerabilidade das suas linhas. Neste momento, a frente de conbate está estabelecida a sul e a leste do país, o que significa que a campanha não terá qualquer efeito surpresa junto dos russos, como reconheceram os oficiais de Kiev.
O principal objetivo da Ucrânia é interromper o corredor terrestre entre o Donbass ocupado nesta invasão e a Crimeia, anexada em 2014, no que foi o primeiro ato hostil de Putin. Os alvos das tropas ucranianas estão claramente identificados e são, numa primeira fase, as cidades de Kharkiv e Kherson, ficando a região de Zaporizhzhia, no sul, para uma segunda fase da ofensiva. Os Estados Unidos avisaram a NATO que a guerra é uma «maratona» e não um «sprint». A determinação dos soldados ucranianos continua a ser fortemente apoiada pelo Ocidente com o envio de material militar. Esta semana o Reino Unido, Países Baixos e Dinamarca anunciaram que vão enviar equipamento de defesa aérea.
A contraofensiva da Ucrânia há muito que era esperada pela Rússia, e deu tempo para o exército se preparar e construir um elaborado conjunto de defesas. Imagens de satélite mostram a extensão da fortificação russa ao longo de centenas de quilómetros, que inclui bunkers, valas anti-tanque, campos de minas, trincheiras e outros obstáculos difíceis de ultrapassar. Os residentes nas regiões de Mariupol e Berdiansk dão conta da passagem de longos comboios russos e da apropriação de dezenas de edifícios para alojamento militar. Na linha de combate, as tropas russas receberam reforços à volta da cidade de Bakhmut e tentam resistir ao avanço das forças ucranianas.
Num cenário completamente irrealista, a Rússia admitiu realizar eleições nos territórios anexados em setembro do ano passado. Segundo a agência TASS, o Ministério da Defesa Nacional considera a possibilidade de realizar eleições a 10 de setembro em quatro regiões. Recorde-se que a Rússia realizou referendos em Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia com o objetivo de reconhecer essas regiões como sendo território russo, o que foi considerado ilegal pela comunidade internacional.