GEORGETOWN – Lennox Arthur é, muito provavelmente, o nome mais sonante do futebol da Guiana (antiga Guiana Inglesa) embora isso não signifique grande coisa para quem gosta e siga o futebol de perto. Pois é, Georgetown fica longe de tudo. Até dentro da própria América do Sul fica muito longe daquilo a que podemos chamar de futebol a sério. Portanto, se nunca ouviu falar de Lennox Arthur não se sinta diminuído por que não há razão para isso. O mundo em geral não faz a mínima ideia de quem foi Lennox Arthur mas garantem-me que terá sido o melhor jogador de sempre do país, selecionador nacional por mais de uma ocasião, e patrão de um clube universitário chamado Albouystown YMCA.
Arthur acabou a carreira de jogador relativamente cedo. Atirou o profissionalismo para trás das costas e decidiu dedicar-se ao aproveitamento de estudantes universitários com jeito para a bola de maneira a formar uma equipa praticamente imbatível. Mais de 50 rapazes entraram no programa. Os 50 rapazes mais capazes, com perdão do trocadilho. Da YMCA toda a gente já ouviu falar e se não ouviu é muito duro de ouvido: «Young man, there’s no need to feel down/I said, young man, pick yourself off the ground/I said, young man, ‘cause you’re in a new town/There’s no need to be unhappy», cantavam os Village People. Em todos oa países no qual o inglês é língua oficial existe uma ou várias congregações de Young Men’s Christian Association. Georgetown não foi exceção. E a YMCA local estava ligada à Universidade de Albouystown.
Lennox Arthur encasquetou a ideia de que seria capaz de, em três ou quatro anos, sacar daquela cinco dezenas de moços uma equipa capaz de se bater com as melhores da zona das Caraíbas. E meteu mãos à obra.
O adeus de Pelé
Pelo caminho do trabalho de Lennox, surgiu uma notícia que o abalou até às estruturas: Edson Arantes do Nascimento (por extenso Pelé, como dizia Nelson Rodrigues) resolveu deixar os relvados de uma vez por todas. E no mesmo dia em que se despediu, 18 de julho de 1971, o Albouystown YMCA transformou-se no Pelé Football Club. Sem nenhum motivo para choraminguices, como está bem de ver. Afinal, ao mesmo tempo que cantavam como era alegre pertencer à YMCA, os Village People acrescentavam: «Young man, are you listening to me?/I said, young man, what do you want to be?/I said, young man, you can make real your dreams/But you got to know this one thing».
Ora bem, os young men do Pelé FC só tiveram razões para se sentirem felizes. Formada por uma maioria de moços com apenas 17 anos, a equipa lançou-se às feras na sua primeira competição oficial e que era para homens de barba rija – o Cup Knock Out Tournament, uma espécie de Taça da Guiana. Com um futebol à base de um aturado estilo técnico, pleno de passes curtos e dribblings, soube respeitar o nome de Pelé e chegou à final onde se viu derrotada pela única vez e logo frente a um adversário que também não deixou cair os parente na lama – o Santos FC. Resultado: 0-1.
O olá de Pelé
O Pelé FC entrava com todo o mérito na história do futebol de um país cujo futebol praticamente não tem história. Dois anos mais tarde, com a evolução física natural dos garotos, tornava-se a equipa mais poderosa da Guiana sem perder a sua vertente educativa. De tal forma que a embaixada brasileira em Georgetown ofereceu a três dos seus melhores jogadores – Alfred Harris, David Chan e Patrick Labba Barton – a oportunidade de aprenderem português e de prosseguirem os seus estudos numa universidade do Rio de Janeiro.
Os que ficaram continuaram a ser melhores do que todos os outros – entre 1974 e 1976 somaram três títulos de campeões da Guiana, aguentando estoicamente a fuga de vários dos seus mais talentosos atletas para clubes profissionais. Ao mesmo tempo, num encontro contra a Jamaica, a seleção da Guiana entrou em campo com nove jogadores do Pelé FC o que revelava limpidamente a sua qualidade. 1977 foi o cúmulo – completaram a época sem uma única derrota. Lennox tinha todos os motivos para se considerar satisfeito. Os seus rapazes mereciam o nome que dera à equipa.