A liberdade de expressão na ponta do nariz!

Quem da minha idade e um pouco mais velho não se lembra de há uns anos o Herman José ter feito uma rábula sobre a Última Ceia de Jesus. Foi um momento de tensão na sociedade portuguesa que levou os bispos e muitos cristãos a manifestarem o seu descontentamento. Ridicularizar algo tão sagrado para um…

A liberdade de expressão é apenas para alguns, não é para todos!

A polémica do cartaz racista e ofensivo aos animais que ocorreu na última semana com o nosso primeiro-ministro levou-me a perceber que a liberdade de expressão não é para todos!

No centro da polémica está a caricatura de António Costa, com nariz de porco e uns lábios exagerados. O próprio chamou-o um cartaz racista, no entanto, não consigo perceber como se pode deduzir daquele cartaz uma agressão à raça de alguém.

Naturalmente que acho de mau gosto aquela caricatura, mas penso que nós não podemos ter dois pesos e duas medidas. Aliás, Jesus diz isso: «A medida com que medirdes sereis medidos». 

Os nossos contemporâneos, por um lado, gostam de adorar a lei da liberdade de expressão que é dada aos artistas. Não concordo com aqueles islâmicos que fizeram o atentado ao Charlie Hebdo, mas também não posso concordar com as caricaturas de Maomé feitas pelos seus cartoonistas. Não são aceitáveis em nenhuma parte do mundo e se o são é porque já perdemos a capacidade de usar a nossa razão. 

Mas a lei da liberdade de expressão…

 

Quem da minha idade e um pouco mais velho não se lembra de há uns anos o Herman José ter feito uma rábula sobre a Última Ceia de Jesus. Foi um momento de tensão na sociedade portuguesa que levou os bispos e muitos cristãos a manifestarem o seu descontentamento. Ridicularizar algo tão sagrado para um grupo social é não só desumano, mas também irracional.

Podia estar um dia inteiro a dar exemplos de violação de direitos fundamentais dos indivíduos e principalmente a violação do bom senso, mas tomando como exemplo o cartaz – aliás, feito – com uma sátira a António Costa lembrei-me de algo semelhante com João Paulo II.

Não foi só ao nosso primeiro-ministro que tocaram no nariz. Lembro-me que um semanário respeitável e de referência desta nossa praça, há alguns anos, também gozou com o nariz do Papa João Paulo II, colocando-lhe um preservativo na ponta. 

Realmente não sei o que há nos narizes das personalidades públicas para se gozar desta maneira. Sei, porém, que cresce, fundamentado na liberdade de expressão, o número de artistas que não têm nada na cabeça ou o que têm é expressão de um tipo de racionalidade que não encaixa na vida pacífica que todos nós gostaríamos de ter. 

A democracia da antiga Grécia era apoiada na palavra, no discurso e no diálogo. Foi esse modelo que nós quisemos para as nossas sociedades ocidentais. Não seria tempo de revitalizarmos os momentos de debate parlamentar e social sem termos de pensar quem ganha ou quem perde?

A liberdade de expressão que fundamenta o nariz de porco do cartaz a gozar com António Costa ou o preservativo no nariz do Papa João Paulo II é resultado de um desrespeito de uns para com os outros que não deveria ser admissível nas nossas sociedades.

 

E porque penso que não temos todos os mesmos direitos? Os mesmos que acharam de bom gosto a caricatura de João Paulo II com um preservativo no nariz, são os mesmos que, esta semana, se distanciaram da caricatura de António Costa. Por isso, digo que diante da lei da liberdade de expressão não somos todos iguais. 

Gostaria que nenhuma dessas caricaturas pudesse ter sido feita. Tudo o que ultrapassa o respeito a que todos temos direito e que todos têm o dever de exercer não deveria ser publicável. 

Enfim… alguns depois de lerem esta crónica vão pensar que eu gostaria de ressuscitar a PIDE ou a Inquisição. Pensem o que pensarem… eu prefiro respeitar as pessoas!