Robinhood. Roubando os pobres

Ganhou o nome de Robin dos Bosques o clube mais titulado do Suriname – e não tem a generosidade do herói de Nottingham.

PARAMARIBO – O futebol no Suriname é assim para o escondido entre árvores, rios, ribeiros e diques, locais onde possa surgir, de repente, um campo, ao contrário do que acontece na vizinha Guiana onde espaços iguais são aproveitados para o críquete. Cada um com os seus gostos. Geralmente a colonização inglesa, por ter sido levada a cabo por colonos (e não por trabalhadores) arrastou para os países dela emergentes os desportos das classes mais altas: críquete e râguebi. Aí estão a Austrália, a Índia e a Nova Zelândia para o comprovar. Futebol era desporto de pobres para lá das rochas brancas de Dover. Aqui, no Suriname, país mais pequeno da América do Sul, é popular como nenhum outro. Com o problema de ser amador, tanto no stricto como no lato sensu. Os jogadores de categoria dispensam andar a correr atrás da bola por entre mangueiras e coqueiros e fogem para a antiga mãe-pátria, a Holanda. Os que ficam não estão para chatices. O que faz com que, por exemplo, seja raro o ano em que um clube não feche portas, como aconteceu recentemente com o Bitang Lair deixando a I Divisão reduzida a 13 clubes. Para mim, pessoalmente, uma lástima pois contava ver, na próxima jornada, o jogo que iria pô-lo em confronto com o Sport Vereniging Robinhood, líder da classificação com um nome no mínimo assinalável. Para quem já viu, no Estádio Jawaharlal Nehru de Margão, um clássico entre o Vasco da Gama e o Churchill, observar a equipa do Sport Vereniging Robinhood daria um filme bastante completo sobre singularidades futebolísticas.

A verdade é que nem na tão florestal Nottingham houve quem tivesse o atrevimento de dar a um clube o nome de Robin Hoood, ficando-se pelo extraordinário Forest. Mas seria certamente algo para ficar na história do futebol o dia em que Nottingham Forest e Robinhood (assim tudo pegado) medissem forças – com algum xerife de Sherwood a apitar, como não podia deixar de ser.
 
Dominadores

Fundado no dia 6 de fevereiro de 1945 por um grupo de amigos encabeçado por um fulano chamado Anton Blijd, o Robinhood teve como princípio de vida servir de apoio aos miúdos pobres de Paramaribo, e daí a justificação do seu nome exótico.

A partir os anos 50 tornou-se o clube mais vencedor e mais popular do Suriname – tem 25 títulos de campeão – e nos anos 70, a década da explosão do futebol holandês, que ganhou prestígio suficiente para fazer digressões à Europa, então já podendo exibir o estatuto de ter sido por três vezes finalista da Taça dos Clubes Campeões da Confederação da América do Norte, Central e Caraíbas (CONCACAF). Imaginem o orgulho dos surinameses quando, no dia 24 de julho de 1976, entraram no então De Meer Stadium de Amesterdão para jogarem contra um Ajax que já ganhara três Taças dos Campeões Europeus. Entraram de peito enfunado de orgulho e saíram com esse orgulho intacto – derrota por 3-4 num jogo que os jornais da época classificaram como pleno de emoção, a despeito de amigável. Havia no Robinhood vários jogadores com uma forte necessidade de se mostrarem e poderem abrir as portas do profissionalismo do campeonato da Holanda. Conseguiram-no – nessa digressão perderam com o Feyenoord (1-3), mas ganharam ao NEC (1-0) e ao Haarlem (3-1) e empataram com o Den Haag e com o Elinkwijk (1-1 em ambos). Mas a desconfiança dos clubes holandeses em relação à qualidade do futebol de um país que começara a existir – a independência do Suriname deu-se em 1975 – ainda demorou a ser quebrada. Quanto ao Robinhood está bem e recomenda-se: é líder do campeonato com 11 pontos de avanço sobre o segundo classificado, o Transvaal, que bateu por 3-1 fora no último dia 12. Tudo calmo na floresta de Paramaribo.