Tempos difíceis…

A título de quem ganhou individualmente, eu diria que Pedro Nuno Santos (PNS) veio encher de esperança a ala esquerdista do PS (’temos líder’), ansiosa de ressuscitar a ‘geringonça II’ com os seus ‘irmãos’ à esquerda.

1.Há dias, foi publicado o ranking 2022 das escolas e, mais uma vez, fiquei constrangido. Acérrimo defensor da escola pública, como já o escrevi por diversas vezes, não pode ser considerado por acaso que a primeira escola pública surja apenas no 42.º lugar (Secundária do Restelo) e que, nos 50 primeiros lugares, haja apenas 6. Obviamente que existirão muitas explicações sociais para esta realidade, mas a verdade é que sempre existiram e não foi sempre assim.

Não venho para aqui com estórias de que ‘no meu tempo, é que era …’, mas seguramente que seria fundamental que os responsáveis do Ministério da Educação, sempre tão preocupados com estatísticas, olhassem um pouco mais com atenção para esta incontornável realidade, até porque o tema só se tende a agravar, um pouco como ‘a pescadinha de rabo na boca’. A qualidade percecionada do ensino público (em geral) é relativamente fraca, as escolas privadas rebentam pelas costuras com listas de espera nas inscrições e, objetivamente, entra-se num círculo vicioso, para além de se ir perdendo a obrigação social que o Estado tem de formar os jovens.

É público, porque já aqui o escrevi, que, salvo os exageros que por vezes prejudicam a luta dos professores, tenho forte simpatia pela sua luta social, até porque em tempos idos fui um deles, quiçá motivado pela minha mãe ter sido professora 35 anos. De uma forma geral, considero os professores do ensino público muito mal pagos (já esquecendo o problema do ‘6/6/23’), mas também não duvido que muitos deles só por lá continuem por falta de alternativa. 

No entanto, mais do que a luta dos professores, deveria existir um desiderato nacional para elevar a qualidade do ensino público, com um pacto entre os principais partidos do arco da governação, com menos ideologia e mais foco nos conteúdos, sobretudo na busca do saber, do conhecimento, na necessidade da preparação qualitativa dos jovens para o futuro. Isto também se faz com avaliações de todos, estudantes e professores, com requisitos de exigência, com a busca da excelência, jamais esquecendo os ‘menos dotados’ que requerem investimento especial dos professores (como eu fazia quando ensinei, em que muito do meu tempo livre era passado a dar explicações gratuitas a quem precisava, na biblioteca da escola – ‘saudades, ai, ai..’). 

Todos sabemos que ‘Roma e Pavia não se fizeram num dia’. Mas ou começamos a virar a página, com um compromisso entre a Sociedade, o Ministério da Educação e os professores, também com os auxiliares a ajudar, ou continuaremos a carpir mágoas, ano após ano, com esta tristeza de resultados e a desperdiçar os recursos públicos que os nossos impostos proporcionam.

 

2. Felizmente que terminou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da TAP. Seguramente, sem quaisquer consequências na vida diária dos portugueses, teve indiscutível utilidade e permitiu que ficássemos a conhecer melhor as ingerências dos poderes públicos na TAP bem como as qualidades e fragilidades de muitos dos governantes e deputados, ficando o Bloco com os maiores louros pela excelência das questões colocadas.

A título de quem ganhou individualmente, eu diria que Pedro Nuno Santos (PNS) veio encher de esperança a ala esquerdista do PS (’temos líder’), ansiosa de ressuscitar a ‘geringonça II’ com os seus ‘irmãos’ à esquerda. Carismático, inteligente, domina bem a palavra e é persuasivo. Fosse ele do PSD e não haveria qualquer dúvida que o Presidente Marcelo já teria alternativa à atual governação errática de António Costa. Assim, vai ter de fazer o longo caminho das pedras, ajudado pelos herdeiros ideológicos de Manuel Alegre, iluminados pela certeza de que PNS irá triturar qualquer socialista conservador que se oponha nas próximas eleições internas do PS, seja Assis, Medina, Sousa Pinto ou Canas Mendes.

Nestes cenários, entra Augusto Santos Silva, quase certo candidato à Presidência em 2026. Este cargo de Presidente da Assembleia da República tem constituído um trampolim para substituir Marcelo e ficará assim completo o ‘círculo de poder PS’. Entretanto, todos aqueles que na direita tanto têm criticado o Presidente Marcelo, quantas vezes com total razão pelos muitos e inexplicáveis apoios a Costa, ainda irão suspirar e ter muitas saudades dele, porque, tal como diz o ditado, ‘atrás de mim virá, quem bom de mim fará’.

Tem a palavra a designada direita democrática que atravessa uma crise sem precedentes, dado que Montenegro continua ‘invisível’ perante a opinião pública, também com algum azar quando depois de retirar a confiança política a Pinto Moreira (arguido na Operação Vortex), vê este regressar sem lhe ‘dar cavaco’. No entanto, logo a seguir ‘borra a pintura’ ao permitir a sua continuidade nas comissões de Saúde e Defesa. Como ‘amigos’ assim como militantes, qual a surpresa que o PSD estagne nos 30%, que são verdadeiramente os resilientes à presença de Montenegro como líder…

 

3. Sobre os ‘casos e casinhos’, tomem lá mais dois: (i) a viagem a Budapeste para assistir ao jogo da final da Liga Europa, intercalada (mas não mencionada) no programa oficial de uma ida à Moldávia e em que naturalmente utilizou um Falcon do Estado, e (ii) o Governo ter-se lamentavelmente esquecido da comemoração do aniversário dos incêndios de Pedrógão. No primeiro caso, Costa ficou uns dias caladinho até esclarecer que tinha sido um convite da UEFA, subsistindo a dúvida se esse convite transforma a razão da viagem em oficial ou se terá de a pagar do seu bolso, mas omitindo qualquer menção à relevância de catequizar Orbán para a sua carreira europeia. No segundo caso, Ana Abrunhosa veio dar a cara pelo Governo, humildemente a pedir desculpas (as tais que se evitam), mas a garantir a certeza de uma homenagem às vítimas (em data que, por coincidência, o Presidente Marcelo estará no estrangeiro). 

Sobre ambos os casos, o Presidente Marcelo foi de uma ironia finíssima. Começou por desvalorizar a ida a Budapeste, mas relembrou que teve a iniciativa de ‘pagar do seu bolso’ uma situação algo similar em que se deslocou no Falcon para ver um jogo da Seleção Nacional. No segundo caso, ao dizer que iria seguramente a Pedrógão, mas ‘incógnito’, se calhar no seu próprio carro. ‘Costa amigo, Marcelo está contigo!’.