Vigilância nas praias está a ser reforçada por brasileiros e argentinos

Entre janeiro e março já tinham sido registadas 27 mortes por afogamento, mas número quase duplicou até junho. 

Portugal registou 49 mortes por afogamento nos primeiros cinco meses do ano, uma descida em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 52 mortes, de acordo com os números divulgados pelo Observatório do Afogamento criado pela Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (FEPONS).           

O relatório relativo ao primeiro trimestre deste ano já tinha dado conta de 27 mortes por afogamento (22 homens, quatro mulheres e um cujo sexo não foi divulgado), um número que superava as 24 do ano passado, entre 1 de janeiro a 31 de março.

Segundo os dados do relatório do Observatório do Afogamento, a maior parte dos afogamentos ocorreram à tarde (48,1%), todos em locais não vigiados, e somente três foram presenciados e tiveram tentativa de salvamento.

O mês de janeiro foi o mais mortífero tendo chegado às 10 mortes, seguido de fevereiro, com nove, e março, com oito.

Foi no distrito de Leiria onde se registaram mais mortes, tendo sido contabilizadas cinco, seguido de Faro (quatro), Lisboa e Setúbal (três cada), além do Porto e Santarém (dois cada).

Entre os locais onde mais pessoas morreram afogadas, o mar foi o que causou mais vítimas, com nove, seguido do rio com oito. Foram também registadas seis mortes em poço (duas), em porto de abrigo (duas) e em piscina doméstica (duas), além de uma morte em barragem, outra em tanque, outra numa marina e outra numa valeta.

Em relação às idades, a maioria, 70,4%, tinha mais de 45 anos, não havendo registo de vítimas entre crianças e adolescentes até aos 15 anos de idade.

Contudo, as mortes em meio aquático entre os jovens continuam a ser motivo de preocupação em Portugal, depois de em 2020 e 2021 este número ter sido mais elevado que em anos anteriores. As explicações para este aumento podem estar relacionadas com a pandemia de covid-19, aponta um relatório da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI), divulgado esta segunda-feira.

Apesar de ao longo das últimas duas décadas, o número médio de mortes por afogamento em crianças e jovens ter vindo a diminuir – de 27 (2002-2004) para 16,5 (2005-2010) e, mais recentemente, para 7,3 (2017-2019) – esta tendência foi quebrada em 2020 e em 2021. Em 2020, houve 14 mortes por afogamento e, em 2021, foram 12 as mortes. Nesses dois anos, morreram por afogamento nove crianças até aos quatro anos, seis adolescentes entre os dez e os 14 anos e 11 jovens entre os 15 e os 19 anos.

Uma das razões que pode explicar este aumento – e que já tinha sido indicada pela delegação europeia da Federação Internacional de Salvamento de Vidas, como refere a APSI – prende-se com as competências ligadas à natação, que podem ter sido impactadas durante a pandemia, quando foram impostas restrições na utilização das piscinas e praias.

 

Nadadores-salvadores não são suficientes

A falta de nadadores-salvadores portugueses para a vigilância das praias também tem sido uma marca do período pós-covid e que nesta época balnear voltou a ser colmatada com a contratação de estrangeiros.

A maior parte são brasileiros, mas há também argentinos. Inscreveram-se 130, mas só 106 passaram os exames de aptidão técnica do Instituto de Socorros a Náufragos, sendo que desses, cerca de metade vão ficar até 15 de outubro a reforçar a vigilância das praias algarvias.

Cá para um trabalho sazonal, uma vez que é inverno no hemisfério sul de onde são oriundos, é-lhes assegurado alojamento e alimentação.

Apesar de haver cada vez mais pessoas habilitadas com o curso de nadador-salvador, há cada vez menos portugueses interessados nesta atividade. Segundo a Autoridade Marítima Nacional, a quem cabe assegurar o cumprimento e fiscalização das normas e regulamentos aplicáveis à assistência a banhistas, até 10 de maio, foram certificados 582 novos nadadores-salvadores, elevando para 4331 as pessoas que podem exercer esta atividade. Mas o número de nadadores-salvadores para suprir as necessidade no verão, em todo o país, é de entre 5500 a 6000.

Em meados de junho, com a época balnear já a decorrer, a FEPONS alertou que ainda faltava contratar 31% dos nadadores-salvadores que seriam necessários.

Em comunicado, a federação detalhava que, “relativamente aos nadadores-salvadores ainda por contratar, na zona Norte a média é de 21% em falta, na zona Centro de 36%, na zona Sul de 33%, nos Açores de 19% e na Madeira de 33%”.

 A pouca atratividade deste trabalho, as longas horas exigidas, a sazonalidade da atividade, ou a falta de incentivos adequados ou perspetiva de carreira são algumas das razões que levam a que muitos não queiram repetir a experiência ano após ano, adensando as dificuldades com a falta de pessoal.

Além de a atividade ser, sobretudo, praticada por estudantes o que também contribui para que haja sempre um défice de nadadores-salvadores no arranque da época balnear, já que os jovens nessa altura ainda se encontram em período de aulas e de exames, sendo assim necessária a contratação de muitos profissionais no estrangeiro.

A verdade é que o problema está longe de ser solucionado, apesar de haver também um dispositivo da Marinha, com cerca de 100 militares a reforçar a vigilância das praias até 30 de setembro.

Em maio, os municípios propuseram ao Governo a participação da Marinha na vigilância e salvamento de banhistas nesta época balnear devido à falta de nadadores-salvadores, tal como a criação de uma carreira profissional com uma tabela remuneratória que torne atrativo este setor.

Também o diretor do Instituto de Socorros a Náufragos chegou a defender a inclusão de nadadores salvadores em carreira na Função Pública. “Apostar na criação de uma carreira especial na Função Pública, para nadadores salvadores, por categorias, que permita progressão. Isso sim era uma resposta efetiva”, afirmou o comandante Paulo Rodrigues Vicente, em declarações recentes à Renascença.