Nova Iorque, junho 2023
«Quando apropriação se torna numa forma de vida para um grupo na sociedade, com o decorrer do tempo estes criam um sistema legal que a autoriza e um código moral que a glorifica».
Frédéric Bastiat
«Inflação é impostos sem legislação».
Milton Friedman, Prêmio Nobel da Economia
«A sociedade atinge a grandeza quando os velhos plantam árvores em cuja sombra nunca se sentarão».
Provérbio Grego da Antiguidade
Queridas Filhas,
por Pedro Ramos
Se os preços de petróleo caíssem para metade do atual e em resposta os preços da gasolina aumentassem, qual seria a reação da população? Fácil de imaginar buzinões, greves e mesmo cortes de estradas. Com razão, os consumidores se queixariam de manipulação do mercado.
E se fosse possível ao Estado apropriar-se de mais dinheiro da população, aparentemente sem mexer nos impostos e atingindo aqueles com menos possibilidade de fazerem greve: reformados, pensionistas e outros aforradores? Se um estado com dívidas bem acima da produção anual da sua economia, por decreto reduzisse em 1 ponto percentual a taxa que paga para se endividar junto da população? Os grandes investidores institucionais continuariam a receber as taxas de mercado (pois facilmente vendem dívida portuguesa e compram de outro país ou empresa). A população portuguesa? Esta não tem outra hipótese…
Claro que a população podia sempre por as suas poupanças em depósitos no sistema bancário. Mas e se a competição bancária fosse inexistente? Se o regulador (Banco de Portugal) fosse conivente nesta falta de competição? E se isso também fosse benéfico para o nosso Governo, pois o nosso estado é dono do maior banco (Caixa Geral de Depósitos)? As taxas de depósito mais baixas reduzem o custo da matéria-prima do nosso banco (CGD)… E os pensionistas, reformados e aforradores não podem fazer greve? Por definição a grande maioria deles já não trabalha…
A este fenómeno de apropriação das poupanças das populações chama-se ‘repressão financeira’. Trata-se de um instrumento favorito de regimes autocráticos.
Apesar de ter benefícios de curto prazo no erário publico, a repressão financeira leva a custos altos para a sociedade tanto no curto como no médio prazo. Em particular:
Imposto escondido e regressivo: a repressão financeira reduz a remuneração das poupanças das famílias em benefício do estado devedor. Transfere, de uma forma escondida, riqueza e capital das famílias para o estado.
Desincentiva a poupança: com baixa remuneração disponível, as famílias optam por poupar menos e consumir mais. Bom para a Zara, Apple e BMW. Mau para o futuro das famílias e para o aumento da capacidade produtiva de Portugal. Sem poupança e investimento na economia, os empregos de futuro não são criados e os que se mantém serão menos produtivos, oferecendo menores salários.
Aumenta a iliteracia financeira: a literacia financeira nasce com mealheiros, gatinha com depósitos à ordem e corre com investimentos a prazo de baixo risco como Certificados de Aforro. Certificados de aforro com pouca ou nenhuma remuneração (depois da inflação) ‘ensinam’ a próxima geração que poupar não compensa. Mais vale comprar o último iPhone ou Playstation. Poupar e investir é para os ignorantes que não sabem gozar a vida. Nada de bom pode vir do futuro de uma sociedade que ensina isto. Como sabem, estou a levar esta literacia financeira por vários países em www.thefinancialjourney.net (já só temos lugares em NY e no Porto)
Este episódio mostra como o regime português não acredita na economia de mercado. Quando as taxas de juro do Banco Central Europeu subiram de 0% para 3% no último ano (e continuam a subir pelo mundo fora), em Portugal decide-se que o mercado está errado e baixa-se a taxa de juro dos certificados de aforro. Um caso claro de manipulação de preços. As famílias portuguesas perdem, os bancos ganham e os grandes investidores internacionais também ganham (mais dinheiro para pagar o que Portugal lhes deve). Cada um tire as suas conclusões…
Esta credulidade na opinião de iluminados não eleitos em Bruxelas e órgãos reguladores não tem muito de bom para mostrar. Na Europa estamos em recessão económica (dois trimestres seguidos de contração da produção) ao mesmo tempo que temos inflação alta. A última vez que tivemos estagflação foi durante os choques petrolíferos dos anos 70. Talvez seja altura de confiar menos em regulação e mais nas populações. Estas, coordenadas pelo mercado sempre se desenvolveram e progrediram. O mercado incentiva a poupança, investimento, inovação e o trabalho. Se regras e regulações trouxessem progresso a Coreia do Norte seria mais rica que a Coreia do Sul…