Um desmaio após uma «quebra de tensão repentina», para a qual talvez tenha contribuído um cocktail de Fortimel e moscatel num dia de calor. Depois ter recebido alta do Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, onde esteve a fazer exames na quarta-feira, na sequência de uma indisposição durante uma visita a um laboratório da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova, na Costa de Caparica, o Presidente da República quis tranquilizar o país.
«Sinto-me muito melhor, aconteceu-me aquilo que me tinha acontecido em Braga. Que foi também num dia muito quente», começou por explicar Marcelo Rebelo de Sousa, recordando o desmaio de junho de 2018.
O chefe de Estado detalhou depois o que terá levado ao desmaio desta quarta-feira: «Foi uma quebra de tensão repentina, o chamado fenómeno vagal», referiu, acrescentando que antes dos discursos da cerimónia onde estava iam fazer um brinde com moscatel, que começou por recusar. Mas acabou por «beber o moscatel quente mais tarde e isso deve ter interagido, provavelmente, com a digestão do Fortimel», esclareceu, lembrando que não costuma almoçar e toma apenas o suplemento nutricional.
Marcelo aproveitou também para deixar um elogio ao Serviço Nacional de Saúde, pelos cuidados hospitalares prestados apesar da greve em curso. «Calhou num mau dia porque é um dia de greve de médicos, estavam os serviços mínimos que felizmente foram excecionais», sublinhou, admitindo que o ministro da Saúde o foi visitar «para se certificar».
Sobre as mensagens e telefonemas que foi recebendo enquanto esteve no hospital, o Presidente optou por brincar com a situação. «Recebi o telefonema do senhor primeiro-ministro a quem disse ‘Dou-lhe uma tristeza, ainda não é desta que morro’. Temos sempre essa brincadeira de saber quem faz o elogio fúnebre um do outro», contou, ficando no ar a dúvida se estaria a falar em sentido literal ou se aludia à ‘morte política’, dadas as recentes divergências com Costa.
Marcelo adiantou que falou também ao telefone com o líder do PSD, Luís Montenegro, bem como com «um dos chamados candidatos a candidatos a Belém», a quem aconselhou «calma que ainda não é ocasião para começar a campanha eleitoral». Recusou, contudo, nomear de quem se tratava.
Revelou também que fez exames para despistar a possibilidade de enfarte, tendo ficado com um holter (um dispositivo portátil que monitora a atividade cardíaca).
A sua situação clínica foi reavaliada esta quinta-feira, tendo o chefe de Estado cancelado as deslocações que tinha previstas ao Porto e a Aveiro, na sexta-feira, e a Tomar, no domingo, por precaução, mantendo as audiências que tinha agendadas no Palácio de Belém.
Antecedentes clínicos
Em 2018, o Presidente da República desmaiou à saída de uma visita ao Santuário do Bom Jesus, em Braga, após uma quebra de tensão num dia de calor excessivo. Na altura, foi transportado pelos seguranças para um hotel próximo e, mais tarde, foi avaliado no hospital de Braga.
Assumidamente hipocondríaco, durante o seu mandato presidencial, Marcelo já foi submetido a três intervenções cirúrgicas, nunca omitindo os seus problemas de saúde, aliás, pelo contrário, fez questão de os tornar públicos.
A primeira cirurgia realizou-se no dia 28 de dezembro de 2017, quando foi operado de urgência a uma hérnia umbilical estrangulada, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde ficou internado até ao final desse ano, o que o obrigou a cancelar vários compromissos de agenda.
No ano seguinte, em 2019, Marcelo foi submetido a um cateterismo no Hospital de Santa Cruz. A intervenção deveu-se à existência de obstruções coronárias.
Já no final de 2021, foi submetido a uma operação a uma hérnia inguinal, no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa.