A mentira

Prighozin compreendeu que a invasão não tem futuro, que a glória da conquista sairia muito cara. Declarou então a sua revolta contra os responsáveis militares russos.

Não assisti à entrevista do senhor Lavrov por uma questão de higiene.

Os ecos do que aconteceu deram-me razão. 

Custa ver como a mentira se constitui em ministério.

A Rússia tem uma política externa agressiva e tentacular.

Conserva os amigos do tempo soviético como relíquias.

Mostra-se pronta a intervir onde a confusão espreita e a oportunidade de bons negócios surgem.

Acicata os sentimentos antiamericanos onde quer que se manifestem. 

Tentou namorar e enganar a Europa. Quer reconstruir a grande Rússia e voltar a dominar aqueles que dela fizeram parte.

Para atingir tais objetivos faz tudo o que for preciso. 

Inventa golpes e afoga-os num banho de sangue.

Divide países e instala-se na ajuda a uma das partes.

Invade, ocupa, destrói.

Seria despiciendo acrescentar exemplos, tantos e tão claros são.

E a verdade é que a cada intervenção corresponde um ganho: o controle de matérias-primas, o pagamento dos serviços prestados.

Que Rússia é esta?

É uma potência nuclear com um dos maiores exércitos do mundo, é um regime dominador assente na supressão das liberdades, é um conglomerado feito pelo Estado e pelos oportunistas convenientes.

 

Os acontecimentos recentes foram úteis para se compreender melhor como tudo acontece.

A forma larvar de ocupar territórios é inventar a ofensa aos nacionais residentes.

Num segundo ato os nacionais organizam-se.

Chega a ocasião dos grupos militares amigos. 

Finge-se a não intervenção russa.

Foi assim que começou o conflito na Ucrânia. Mas, do ponto de vista interno, a existência de senhores da guerra torna-se óbvia. Kadyrov é um deles. Constituiu um exército ao dispor do poder.

Foi utilizado com êxito na sufocação da revolta tchetchena e voltou a mostrar a sua utilidade na destruição de Mariupol.

Prighozin é outro. 

O grupo Wagner, que formou, têm desempenhado um papel essencial onde não convém que a Rússia se mostre diretamente interventora. A África é o seu particular campo de intervenção, mas também foi chamada a colaborar na invasão da Ucrânia.

Com requintes de malvadez, acrescente-se. 

A falta de cidadãos russos mobilizados foi corrigida com o recurso à contratação de reclusos e à sua utilização como carne para canhão no avanço para Bakhmut.

E, ao mesmo tempo que tais exércitos se celebrizavam, as forças armadas russas ficavam conhecidas pela retirada de Kiev, de Kharkiv, de Kherson e pelos bombardeamentos indiscriminados de destruição e terror.

Prighozin compreendeu que a invasão não tem futuro, que a glória da conquista sairia muito cara. Declarou então a sua revolta contra os responsáveis militares russos.

 

No essencial explicava que tinham enganado o Kremlin quanto à facilidade de tomar a Ucrânia, que eram incompetentes e só queriam medalhas, que era mentira terem sido mortos cidadãos russos no início de tudo, que era uma invenção o desejo de intervenção da NATO.

Era o poder destrutivo das suas palavras. 

Incontido, decidiu avançar.

Vemos agora o que se passou do outro lado.

A primeira reação foi o ataque ao grupo. Três helicópteros e um avião depois, mudou-se a agulha.

O amigo Lukashenko convenceu a não matar Prighozin.

Putin confessou quanto pagara. Dois mil milhões pelo serviço da guerra e pela alimentação do exército russo. O rebelde não passava de um assalariado.

Fica como cão de guarda da Bielorússia.

A limpeza dos generais russos inicia-se.

Putin está preso no seu labirinto.