Foi por influência do avô materno, republicano e maçon (Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano) e compagnon de route de Mário Soares, que Pedro Adão e Silva Cardoso Pereira se fez militante do PS. Ainda menino, foi também pela mão do avô materno que andou pelo templo do Bairro Alto e chegou a ter o raro estatuto de lowton (para quem não atingira a maioridade) na maçonaria, mas onde acabou por nunca ser iniciado. Não é, por isso, de estranhar que para a sua vida pública tenha adotado os apelidos da mãe e do avô grão-mestre da maçonaria, Armando Adão e Silva.
Com a categoria de independente, o ministro da Cultura e ‘neto adotivo’ do GOL está como que ‘adormecido’ no PS, já que foi militante ativo e com quotas pagas até ao dia em que o Presidente Jorge Sampaio deu posse a Pedro Santana Lopes e recusou antecipar eleições, como os socialistas liderados por Ferro Rodrigues exigiam.
Pedro Adão e Silva era à época um dos jovens-prodígio promovidos por Ferro Rodrigues à direção do partido (o outro era Paulo Pedroso).
A decisão de Sampaio desencantou-o e fê-lo trocar a política ativa pelo comentário político e desportivo.
Da chamada ala do ISCTE – com conhecido lastro no partido e nos Governos de António Costa – regressou à política como coordenador das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril a convite do primeiro-ministro e com o beneplácito do Presidente da República. Não demorou muito a aceitar a acumulação com a pasta da Cultura no Executivo de maioria absoluta de Costa, fazendo parte do ‘núcleo duro’ que o líder socialista reúne em S. Bento.
As origens numa família da burguesia republicana são comuns a Pedro Adão e Silva e a António Costa, nados e criados com a política em casa e ambos filhos de mãe progressista.
Não é, portanto, mera coincidência a proximidade entre um e outro e a partilha de pontos de vista ideológicos, políticos, comportamentais, educacionais…
Qual Jack Lang de François Mitterrand, já não é apenas um mero ministro da Cultura de António Costa. Antes ameaça tornar-se no ministro político que Costa não tem, mas começa a ter.
No episódio desta semana, assumindo as críticas ao Parlamento, aos deputados da Comissão de Inquérito à TAP, veio a terreiro dizer tudo o que o primeiro-ministro também gostaria de dizer, mas não pode.
Qual boneco de ventríloquo, foi ele quem falou por António Costa. Foi ele quem arrasou a CPI – com ou sem conclusões favoráveis aos membros do Governo -, foi ele quem veio tentar desacreditar quem mais pôs a nú as fragilidades e a incompetência de ministros, secretários de Estado, chefes de gabinete e assessores deste Executivo.
Fosse outro e poder-se-ia dizer que António Costa tinha usado um fantoche, um ‘Marreta’ ou um ‘Topo Gigio’ para responder ao Parlamento e, por tabela, ao Presidente Marcelo.
Mas Pedro Adão e Silva não é nem fantoche, nem marreta, nem um rato falante e tem a admiração de Marcelo Rebelo de Sousa.
É verdade que Pedro Adão e Silva saiu do PS desencantado, anunciando-o e deixando de pagar quotas. Mas, não tendo existido de então para cá qualquer processo de atualização dos cadernos de militantes socialistas nem refiliação, basta retomar o pagamento das suas quotas e pagar as vencidas para recuperar o seu cartão com o respetivo número e todos os demais direitos de intervenção no partido.
Ora, como o próprio Adão e Silva faz questão de reafirmar alto e a bom som, se há coisa de que não abdica é do seu direito a intervir, como e quando bem entende.
Até onde pretende e conseguirá ir, é a questão. Mas lá que ele tem qualidades para andar por aí, é indiscutível.
António Costa, se tem sido tão generoso a lançar potenciais sucessores, mais pródigo e rápido tem sido em afunilar-lhes o caminho e a esfumar-lhes o sonho ou a ambição.
Resta saber se Pedro Adão e Silva se contenta em dar voz aos recados de Costa ou não acaba como o ‘Toureiro’ do Ventríloquo que António Ferro tão eloquentemente descreveu na Ilustração Portuguesa do velho O Século, conquistando o palco e apresentando os seus próprios bonecos uma vez deposto o antigo senhor.
Ele, que não abdica do seu espaço de intervenção e não tem por que retratar-se.