Temos mesmo de conviver com estes ‘casos e casinhos’?

Fico siderado e estupefacto com a desfaçatez com que se escreveu o Relatório da CPI da TAP. Ouvimos nós tantas vezes que todos os Governos prestam contas à Assembleia da República (em representação dos portugueses) e o que vimos na prática com este documento? A vassalagem de uns quantos deputados aos líderes (atual e putativo…

 

1. Os casos judiciais a envolver os políticos continuam na ordem do dia. Agora, surge nas notícias o Dr. Rui Rio, ao que parece por suspeitas de crime de peculato e abuso de poder na gestão do PSD, estando em causa o recurso a verbas da Assembleia da República que são destinadas a cargos de assessoria dos grupos parlamentares, mas afinal seriam utilizadas para pagar ordenados a funcionários do PSD. Dizem-me que todos os partidos fazem o mesmo, como linha argumentativa para justificar um ‘encolher de ombros’ do que, a ser verdade, só envergonha a democracia.

Há dias, sucedeu a demissão de Marco Capitão Ferreira (Secretário de Estado da Defesa), arguido por alegados crimes de corrupção, e… vamos perdendo a memória de tantos ‘casos e casinhos’! Quando questionado sobre essa demissão, em Sintra, num encontro de verão do seu Governo, Costa declarou, por estas ou outras palavras, de forma aparentemente leve a condizer com o seu traje summertime, que «o que verdadeiramente interessa aos portugueses, é o agravamento do custo de vida, a inflação…». Tem toda a razão, Dr. António Costa, sobretudo porque as sondagens assim o demonstram, continuando a manter o PS e o PSD sensivelmente empatados nas intenções de votos (cerca de 30-31%, cada). 

Como disse o Presidente Marcelo, parece óbvio que Costa jamais diria que a corrupção não interessa, até pelo seu cargo de primeiro-ministro (seria uma autêntica blasfémia!). No entanto, acossado pela realidade da saída, até hoje, de 13 membros do XXIII Governo, nem todos pelas melhores razões, alguns por suspeitas e acusações objetivas, entendeu que só tinha uma solução: atirar o tema para os braços da justiça, desvalorizando o interesse popular sobre a questão e até aplicou idêntica cartilha para comentar o caso de Rui Rio.

Imaginemos, por absurdo, que Costa estaria na oposição a um Governo de direita, objeto destas diatribes. Alguém acredita que perderia uma oportunidade para fazer oposição, ampliando até ao máximo a importância do combate à corrupção, dando lições de moral e ética e referindo com plena propriedade que os elementos de qualquer Governo têm de ser ‘à prova de bala’? Os valores não mudam seguramente, mas as perspetivas com que se olham, na política, são objetivamente bem diferentes, consoante nos toca ou apenas se limitam aos outros. 

Recordemos umas sondagens publicadas recentemente, demonstrativas da pouquíssima credibilidade que os políticos usufruem. Estas notícias só cimentam essas desconfianças, mas a verdade é que o povo parece ter entranhado esta triste realidade como incontornável, quiçá inerente ao CV de qualquer político que se preze. Uns afastam-se e deixam de votar, tamanha a desilusão. Outros, preferem ir vivendo ‘na ignorância’ e vão votando, conformados com um status quo que não percecionam como pode ser mudado. Sobram uns quantos, que acreditam que a política pode ser causa nobre e apenas carece de novos protagonistas, afinal uns ideólogos onde eu me insiro.

 

2. Fico siderado e estupefacto com a desfaçatez com que se escreveu o Relatório da CPI da TAP. Ouvimos nós tantas vezes que todos os Governos prestam contas à Assembleia da República (em representação dos portugueses) e o que vimos na prática com este documento? A vassalagem de uns quantos deputados aos líderes (atual e putativo futuro) do seu Partido (neste caso, o PS).

Depois, como se não bastasse esta ‘obra-prima’ que os deputados escreveram que ficará nos anais da Assembleia da República como exemplo para memória futura, vem o ministro da Cultura, ao abrigo de uma liberdade de expressão da qual não abdica (nem se retrata), demonstrar a nula consideração que nutre pelos deputados. Tendo falado por iniciativa pessoal ou por ordens superiores, tem indiscutível razão, Dr. Pedro Adão e Silva! Quem escreve uma peça que aparenta ser uma ‘encomenda’, não se dá ao respeito. Lacerda Sales ainda tentou defender a honra dos parlamentares da CPI, mas, perante a realidade incontornável, o desmentido ‘jamais tem a força da notícia’!

Não sei como irá ficar a versão final do famoso Relatório da CPI da TAP, mas de uma coisa eu estou convicto: será um Relatório insosso, inodoro e incolor, para gáudio do Governo. 

 

3. Temido aí está para afrontar Moedas na Câmara de Lisboa nas eleições de 2025. Ao colo do PS, Temido já disse ao que vai, enquanto o PS ‘chumbava’ a ‘Carta para a Habitação’ (investimento de 800 M€) que Moedas quer implementar em Lisboa. Há tempos foi igual, quando introduziu uma proposta de isenção de IMT na compra de primeira casa para jovens até aos 35 anos, lá teve de levar com idêntico ‘chumbo’ na Assembleia Municipal. 

Já me tinham dito que a política tem razões que a razão desconhece, mas a minha inteligência fica bloqueada quando vejo serem ‘chumbadas’ boas e meritórias ideias para os cidadãos, apenas porque ‘são os outros’ a apresentarem, numa perfeita lógica futebolística de confrontação clubista. Não compreendo, não me conformo (seja qual for o partido!), e pergunto: afinal os autarcas servem os partidos ou os cidadãos que os elegem?

Voltando à habitação que aparenta ser grave escolho municipal para o PS que, entre 2010 e 2020 [durante a governação socialista], apenas construiu 17 casas por ano (Moedas dixit). Depois de em cerca de ano e meio, esta Coligação a que Moedas preside, ter conseguido (i) fazer passar o Plano de Saúde gratuito para maiores de 65 anos, (ii) entregar 1172 chaves aos lisboetas, (iii) apoiar cerca de mil famílias a pagar a renda e tecendo planos para o futuro em que se propõe construir mil habitações, afinal que espera Moedas para ‘esticar a corda’ e provocar eleições antecipadas à procura da maioria absoluta, quando está na ‘mó de cima’ neste tema tão atual da habitação?