Luís Patrão, o homem das contas do PS

Trabalhou de perto com Guterres e Sócrates e foi repescado por Costa para tratar das finanças do partido. O secretário nacional de administração do PS morreu no domingo aos 68 anos.

Foi com um «sentimento de perda e desolação» que o PS se despediu no passado domingo de Luís Patrão. O histórico dirigente socialista morreu aos 68 anos de forma súbita na sua residência de férias, na Praia D’El Rey, em Óbidos.

Homem forte do aparelho do PS_e de confiança de quase todos os primeiros-ministros socialistas era, desde 2014, responsável pela administração e pelas finanças do partido, fazendo parte de dois órgãos de topo: o Secretariado Nacional e a Comissão Permanente.

Durante a sua carreira política, desempenhou várias funções e era ainda uma das figuras com mais influência dentro do PS. Foi chefe de gabinete de dois primeiros-ministros, António Guterres e José Sócrates, deputado, secretário de Estado e dirigente da Juventude Socialista (JS).

Nascido a 2 de dezembro de 1954, na Covilhã, a sua proximidade de Guterres e de Sócrates tem origem naquela região, onde os dois ex-líderes socialistas têm raízes familiares.

Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi militante e dirigente da JS tendo falhado a corrida à liderança da jota em 1981. Perdeu para Margarida Marques que era apoiada por Carlos César, atual presidente do PS. Patrão tinha do seu lado António Costa e Armando Vara, ex-ministro de Guterres.

Após a vitória do PS nas eleições legislativas, em 1995, foi chefe de gabinete de António Guterres e, depois, secretário de Estado da Administração Interna, entre 1999 e 2000, ano em que se demitiu devido ao caso Fundação Prevenção e Segurança, envolvendo o então ministro Armando Vara.

A fundação estava envolta em polémica depois de o Expresso ter noticiado, em dezembro de 2000, que Vara e Patrão estavam envolvidos na criação de uma fundação «privada, alimentada por dinheiros do Estado, que se substituía ao Ministério da Administração Interna na conceção e execução de campanhas da Prevenção Rodoviária», com contratações pouco transparentes.

Guterres, perante o caso que envolvia dois apoiantes tão fiéis, chegaria a dizer que tudo não passava de uma cabala política contra si e que aquele era «o dia mais infeliz» da sua vida, mas por pressão de Jorge Sampaio, Vara e Patrão acabaram por cair.

Ainda assim, Patrão conseguiu sair ileso da polémica. Foi eleito deputado por Faro e, no tempo de José Sócrates, foi promovido a diretor-geral do partido e depois a chefe de gabinete do primeiro-ministro quando este conquistou a maioria absoluta do PS, em 2005

Mas a sua passagem pelo Governo Sócrates chegaria ao fim pouco tempo depois, para vir a ocupar a presidência do Turismo de Portugal. Este não foi o único cargo que exerceu fora da política: fez ainda parte de administrações da ENATUR, foi membro do Conselho Geral e de Supervisão da TAP e Presidente da Assembleia Geral da EMEL.

Em 2014, pouco antes de o PS voltar ao poder, com António Costa, que conheceu nos tempos da JS, Patrão regressa ao Largo do Rato para tomar as rédeas das contas do partido. Nesse ano, tornou-se responsável pela administração e pelas finanças do PS.

Já em 2020, ainda tentou em vão a eleição para o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa, não tendo conseguido a maioria de dois terços que lhe garantia o lugar. Terá sido a sua ligação a «um certo PS» de José Sócrates, escreveu na altura o Observador, que terá tramado as suas ambições e levado a que o PSD não aprovasse o seu nome para o órgão de fiscalização das secretas.