Bob Dylan – Oh Mercy

Atmosférico, intemporal, enraizado, foram alguns dos adjectivos que li já descreverem esta obra, e tendo certamente a concordar com todos.

por Telmo Marques

Bob Dylan – Oh Mercy
1989

Após dois ou três álbuns completamente falhados, desde meados dos anos ´80, quer pela crítica, quer pelos fãs, Bob Dylan ressurge aqui completamente revigorado, com um punhado de canções que farão por certo inveja, quiçá ao próprio Dylan dos tempos mais contemporâneos.

Atmosférico, intemporal, enraizado, foram alguns dos adjectivos que li já descreverem esta obra, e tendo certamente a concordar com todos.

Por incrível que pareça, este álbum tinha já sido, pelo menos, uma parte substancial, gravado por Dylan e Ron Wood, dos Rolling Stones, mas com o resultado final ficando aquém do esperado por Sir Bobness, sabendo de antemão, que tinha em suas mãos (passe-se a redundância) uma autêntica obra prima.
Aí entra Bono, dos U2 (sim, esse mesmo), que apresenta Sir Bobness a Daniel Lanois, um dos produtores dos U2, juntamente com Brian Eno, que na altura estava a produzir um álbum dos Neville Brothers em New Orleans.
Dylan visita-o no estúdio, apresenta-lhe as canções, e como é costume dizer-se, "the rest is history"…!!!

Por norma, de todos os álbuns que descrevo aqui neste vosso espaço, tendo a gostar praticamente de todos os temas, exceptuando em raríssimas ocasiões, sendo que este está completamente numa classe à parte dos já por aqui descritos.
A começar, foi um álbum lançado nos anos '80, se bem que em '89, mas antes da explosão do "grunge", que viria a dominar as ondas FM de '90 até pelo menos meados da mesma década, daí a sua capital relevância, juntamente com um outro, igualmente lançado em '89, e que em breve, dissertarei aqui nesta mesma crónica. 

Abrindo com "Political World" e fechando com "Shooting Star", este álbum discorre sobre os mais diversos temas, com um som etéreo que, na minha modesta opinião, deverá ser consumido a altas horas da noite, mas sem a mínima moderação.

Não tendo sido os anos '80 o pináculo da música, este álbum encerra a década com um som pungente, fazendo-nos praticamente esquecer todo o lixo que foi-se produzindo na mesma, inibindo-me aqui de citar nomes, pois, saberão com toda a certeza a quem me refiro.

Este álbum catapultou de novo Dylan para um patamar único na música popular, conferindo-lhe novamente o estatuto de maior cantautor do século XX, devolvendo-lhe a aura que merecia, e há muito lhe era devida.

Para terminar, deixo-vos aqui dois trechos de duas das minhas músicas preferidas de sempre, e que por mero acaso, encontram-se presentes neste álbum…!!!

"Most Of The Time"
Most of the time, I'm clear focused all around
Most of the time, I can keep both feet on the ground
I can follow the path, I can read the signs
Stay right with it when the road unwinds
I can handle whatever I stumble upon
I don't even notice she's gone
Most of the time

"Man In The Long Black Coat"
Crickets are chirpin' the water is high
There's a soft cotton dress on the line hangin' dry
Window wide open African trees
Bent over backwards from a hurricane breeze
Not a word of goodbye not even a note
She gone with the man in the long black coat

Espero sinceramente que desfrutem deste álbum, da mesmíssima forma que eu desfrutei, há já várias décadas atrás.

Até para a próxima semana