Não a nós, Senhor…

Muitos dos que estão a ler esta crónica são cristãos. Muitos outros não o são. Apenas gostaria que todos – cristãos e não cristãos – nos deixássemos surpreender pelo argumento maior do sentido da nossa vida: o amor! 

Os dias que se aproximam serão dias de alegria para uns e sofrimento para outros. Para outros, ainda, será um tempo misto de sofrimento e de alegria. Sofrimento pelos quilómetros percorridos a pé, horas de filas nos metros e nos restaurantes, e de alegria por poderem partilhar momentos de encontro com gente tão diferente de si mesma.

Muitos jovens cristãos, mas não só. Alguns sem fé! Outros de outras religiões! Ontem falei com um voluntário Ismaelita. Estava profundamente empenhado a receber outros voluntários no centro Ismaelita. 

Nestes dias iremos ver, ainda, muitos jovens sem fé que vieram movidos pelos seus amigos. O que irá aparecer no meio de todos estes encontros é algo de inesperado no mundo moderno: o amor!

Sim! Aquele amor que nós tanto desejamos, poderemos experimentar durante estes dias. Jovens e menos jovens, homens e mulheres, brancos e amarelos, de olhos em bico ou nariz grande, cristãos e muçulmanos, a viverem num mesmo espaço com uma busca imensa de amizade e de respeito, de um amor que supera todas as diferenças.

Esta é a minha sétima jornada! Desde 1997, já vivi intensamente estes encontros. Nos meus 48 anos de vida, sinto-me sempre uma criança. Porque vivo intensamente este desejo de nos podermos conhecer uns aos outros nas nossas diferenças e nas nossas semelhanças. É um clima imenso de alegria. Sei que quando tiver oitenta anos – se lá chegar – irei à Jornada desse tempo, nem que seja de cadeirinha de rodas…

 

É evidente que isto irá mexer com a vida de muitos dos nossos cidadãos em Lisboa. Uns irão reclamar porque não conseguem chegar aos seus empregos, porque não conseguem entrar nos transportes públicos. Outros, porque têm problemas com o pensamento religioso e acreditam que este tipo de encontros é um retrocesso na vida humana. Outros, ainda, porque pensam que o Estado não deveria apoiar um encontro de natureza religiosa. 

Uns irão dizer mal de nós! Outro irão dizer bem! Não importa, pois, se dizem mal de nós ou bem. É evidente que prefiro que se diga bem, mas não estamos acima do julgamento de uns e de outros. Nós cristãos, estamos no mundo e, portanto, vivemos as vicissitudes deste mundo, sujeitando-nos ao julgamento de todos.

Importa, acima de tudo, que se cumpra o que diz o salmo 115: «Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso Nome dai glória». Ficarei contente quando, no final das Jornadas, reconhecermos o que diz São João: que, de facto, «Deus é amor» (1 Jo 4,8)! 

 

Muitos dos que estão a ler esta crónica são cristãos. Muitos outros não o são. Apenas gostaria que todos – cristãos e não cristãos – nos deixássemos surpreender pelo argumento maior do sentido da nossa vida: o amor! 

Não nos detenhamos nos argumentos menores: o dinheiro, os gastos, o trânsito, os transportes, a comida, etc.. Afinal, não é todos os dias que vemos uma manifestação de jovens que se querem encontrar nas suas diferenças. Deixarmo-nos surpreender pelo que estes jovens possam trazer é algo de inacreditavelmente maravilhoso!

No nosso dia-a-dia estamos tão cheios de maledicência e de acusações mútuas. Vivemos uma espécie de tensão latente e permanente, de uma comunicação que procura o insólito de ‘casos e casinhos’, como se de coscuvilheiras de bairro se tratassem. Agora temos a oportunidade de ver que os que vivem nos seus países em tensão, podem viver o amor.

Na minha paróquia irão ficar ucranianos e cambojanos. Sei que alguns palestinianos já chegaram a uma paróquia de Lisboa. Sei que alguns, também, virão de Israel e, seguramente, também, da Rússia. Porque aquilo que nos une é muito mais forte do que aquilo que nos separa!

Boa Jornada Mundial da Juventude!