Uma das principais bandeiras do Papa Francisco é a sua determinação num diálogo profícuo inter-religioso, tendo mesmo, em 2019, em parceria com o Xeque Ahmed el-Tayeb, escrito a declaração para a Fraternidade Humana. Por isso, não é estranho que o chefe máximo da Igreja Católica, à margem do programa oficial da JMJ, tenha marcado para sexta-feira um encontro com quase uma dezena e meia de líderes de confissões religiosas radicadas em Portugal, como anunciou o 7Margens, um site informativo de cariz religioso.
E qual a razão para o encontro que não está no programa oficial? “Alguns tinham pena que o encontro do Papa com as outras confissões religiosas se limitasse à presença de alguns dos seus líderes nos grandes evento públicos do programa”, disse o padre Peter Stilwell ao 7Margens. Supostamente, alguns líderes de confissões religiosas que estão em Portugal seriam recebidos juntamente com intelectuais portugueses, corpo diplomático, autoridades policiais e demais representantes da sociedade civil, logo no dia da sua chegada, no Centro Cultural de Belém. Esta JMJ ficará ainda marcada pela colaboração de elementos de diferentes religiões, alguns dos quais como voluntários.
Na declaração para a Fraternidade Humana, Francisco escreveu: “O relacionamento entre Ocidente e Oriente é uma necessidade mútua indiscutível, que não pode ser comutada nem transcurada, para que ambos se possam enriquecer mutuamente com a civilização do outro através da troca e do diálogo das culturas. O Ocidente poderia encontrar na civilização do Oriente remédios para algumas das suas doenças espirituais e religiosas causadas pelo domínio do materialismo. E o Oriente poderia encontrar na civilização do Ocidente tantos elementos que o podem ajudar a salvar-se da fragilidade, da divisão, do conflito e do declínio científico, técnico e cultural. É importante prestar atenção às diferenças religiosas, culturais e históricas que são uma componente essencial na formação da personalidade, da cultura e da civilização oriental; e é importante consolidar os direitos humanos gerais e comuns, para ajudar a garantir uma vida digna para todos os homens no Oriente e no Ocidente, evitando o uso da política de duas medidas”.
Aquando da chegada do Papa a Portugal, no Jardim Botânico Tropical da Universidade de Lisboa serão plantadas árvores associadas a seis famílias religiosas – taoísmo, hinduísmo, judaísmo, busimo, cristianismo e Islão. Mais uma vez, algo que vai de encontro ao pensamento de Francisco. “Os verdadeiros ensinamentos das religiões convidam a permanecer ancorados aos valores da paz; apoiar os valores do conhecimento mútuo, da fraternidade humana e da convivência comum; restabelecer a sabedoria, a justiça e a caridade e despertar o sentido da religiosidade entre os jovens, para defender as novas gerações a partir do domínio do pensamento materialista, do perigo das políticas da avidez do lucro desmesurado e da indiferença baseadas na lei da força e não na força da lei”, lê-se na declaração citada.
Unidade dos Cristãos
Como já se percebeu, a JMJ não é só para católicos, pois haverá vários encontros inter-religiosos, além de visitas guiadas a locais de culto de outras religiões. No site oficial da JMJ lê-se que “são vários os locais, eventos e contactos onde encontrarás sinais dessa unidade. Para se ter uma ideia da diversidade, atente-se nos contactos fornecidos pela JMJ. Aliança Evangélica Portuguesa, Anglican Church, Churc of Scotland, entre outros, destacando-se ainda a Igreja Ortodoxa Russa, a Romena e a Sérvia.
Um dos grandes momentos esperados, até para se perceber a força dos evangélicos, é o “The Change 2023” que reunirá, no Estádio da Luz, na sexta-feira, os cristãos carismáticos, uma corrente da Igreja Católica profundamente conservadora e que tem rituais próximos das seitas – entram em êxtase, utilizam linguarejares estranhos, os braços estão no ar durante a oração, etc. – com os evangélicos, estes não reconhecem o Papa, nem os sacerdotes, mas, pelos vistos, dão-se bem. Recorde-se que o_Papa chegou a apelidar os carismáticos católicos de escola de samba, mas converteu-se à causa quando foi nomeado Papa, organizando agora um encontro anual do Estádio da Roma. Não consta que Francisco apareça na Luz para fazer uma perninha, mas que os aceita, disso não há dúvidas.
Angolanos e cabo-verdianos desaparecidos
A propósito de peregrinos de diferentes latitudes, ontem, a diocese de Leiria-Fátima fez um comunicado de imprensa dando conta que nos Dias nas Dioceses, que antecede a JMJ propriamente dita, “estiveram 7.500 jovens de mais de 50 países. O Comité Organizador Diocesano avaliou na generalidade como muito positivo este evento que levou à movimentação de milhares de pessoas em todas as paróquias de Leiria e que teve o seu ponto alto na realização do evento ‘Leiria Faith n’ Fun’”.
E continua o comunicado: “A única situação anormal que requereu uma atenção especial da parte da organização diocesana foi a ausência de 106 peregrinos dos grupos estrangeiros de nacionalidade angolana e cabo-verdiana acolhidos em três paróquias da Diocese”. Até à hora de fecho, os cabo-verdianos e angolanos estavam em parte incerta. Angola era o país africano com a maior delegação na JMJ de Lisboa, não se sabendo se com esta deserção perdeu esse título.