Papa Francisco: fé e esperança!

Os políticos deixaram o palco para Sua Santidade e declararam tréguas estratégicas durante toda a semana. Marcelo e Costa, à vez, vão fazendo as honras da casa, os diversos ministros vão aparecendo nas várias cerimónias, enquanto Medina aproveitou as vésperas para “marcar território”.

1. Finalmente chegaram as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), um acontecimento ansiado desde 2019, abençoado pela presença do Papa Francisco e que tantos inutilmente despenderam energias a criticar, exatamente pela certeza (ou receios?) do impacto que iria gerar. Com Ele, vieram centenas de milhares de peregrinos, sentindo que nos traria uma palavra de esperança neste conturbado mundo, com uma guerra (Rússia/Ucrânia) que ninguém sabe quando e como irá terminar, com migrações quantas vezes a descambar em desgraça, sobretudo incentivadas pela fome que continua a grassar em demasiados locais do mundo e, last but not the least, com gravíssimos problemas ambientais que todos condenam, mas com os quais verdadeiramente só alguns se preocupam.

De tudo isto o Papa Francisco nos falou num documentário sublime que tive a oportunidade de ver esta semana na SIC, nas vésperas da sua chegada. Ouvi, interiorizei e pergunto-me se, realmente, os políticos mundiais querem fazer alguma coisa para mudar ou se daqui por 10 ou 20 anos estaremos, seguramente em circunstâncias bem mais graves, a repetir os mesmíssimos refrões, com as futuras gerações a pagar a inércia culposa desta geração.

Se esta guerra fratricida entre a Rússia e Ucrânia é algo que acredito que irá terminar dentro de algum tempo (sem ninguém sequer se atrever a alvitrar o day after), as migrações irão perdurar enquanto pouco ou nada se fizer pelos países originários dessas populações esfomeadas, sobretudo em África, para onde se deveria descentralizar o investimento internacional, também como forma de fixação das populações. Os temas do clima e do aquecimento global, por sua vez, mais tem parecido uma conversa de surdos, porque todos conhecendo os países mais poluidores do mundo, demasiados se agacham perante o seu gigantismo. Nos entretantos, promovem-se cimeiras internacionais para apaziguar consciências, apelando às reduções de emissão de carbono que estabelecem metas ‘para inglês ver’ (aguardemos a COP 28, nos Emiratos Árabes Unidos, em dezembro de 2023).

Para já, temos o Papa Francisco entre nós e depois de referir que acredita que estas JMJ sejam para a Europa «um impulso de abertura universal», já repetiu algumas das suas ideias tantas vezes propaladas, como a preocupação sobre a guerra sem fim à vista que afeta a Europa ou a condenação inequívoca da eutanásia. De seguida, dirigindo-se aos jovens que o rodeiam, acreditando neles como agentes da mudança de pensamento e ação do mundo, referiu estar ciente das tremendas dificuldades que estes sentem de constituir família, um efeito conjugado (i) do desemprego que os afeta, (ii) do preço exorbitante das casas e (iii) do aumento do custo de vida. Um Papa de e para todos!

A terminar, sejam 500 mil ou 1 milhão de peregrinos ao longo destes dias, é indubitável que as imagens do Parque Eduardo VII, a abarrotar de fiéis, são impressionantes (cerimónia presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente). Seja pela crença (fé) por tantos manifestada, seja por quererem participar numa das festas mais bonitas dos últimos anos em que consiste as JMJ (e que tenho a certeza de que se irão repetir em Fátima e no Parque das Nações), a mensagem é clara: os jovens aceitam o desafio que o Papa lhes faz e igualmente acreditam no papel da Igreja para os iluminar. Bem-haja o Papa Francisco por nos fazer acreditar!

 

2. Enquanto o Papa aqui estiver em Lisboa, provavelmente não haverá quaisquer outras notícias a nível interno. Os políticos deixaram o palco para Sua Santidade e declararam tréguas estratégicas durante toda a semana. Marcelo e Costa, à vez, vão fazendo as honras da casa, os diversos ministros vão aparecendo nas várias cerimónias, enquanto Medina aproveitou as vésperas para “marcar território”, em diversas intervenções onde anunciou algumas questões importantes.

Por exemplo, anunciou que no OE 2024 não irão existir cativações, delegando (e bem) responsabilidades para os vários ministérios. Curiosamente, foram, entretanto, publicados os valores das cativações a maio de 2023: 986 M! Tendo inicialmente sido previstas, no OE de 2023, cativações de 1.242 M€, as contas ficam simples de fazer – Medina libertou 256 M€ nestes cinco meses. Ou seja, com a economia a crescer, cerca de 2,6% este ano (previsões do FMI) e a inflação a ajudar nas receitas fiscais (mesmo a descer para 3,1% em julho), Medina está a fazer um vistaço!

Outra das medalhas de que Medina se orgulha é a do esforço da redução da dívida pública. Em 30 de junho, esta desceu para 111,2% do PIB e Medina aproveitou para nos fazer acreditar que, no final de 2023, será inferior a 105%. Infelizmente, em valores nominais, a dívida real, essa que vence juros que não param de subir, continua estabilizada em redor dos 280 mil M€, na prática a fazer lembrar umas célebres frases, proferidas ambas em 2011 (i) por Sócrates, em Paris, quando referiu que «pagar as dívidas é ideia de criança porque as dívidas são para ser geridas», e (ii) por Pedro Nuno Santos, em Castelo de Paiva, quando disse que «os credores ou se põem finos ou não pagamos e, se assim for, aos banqueiros alemães até se lhes tremem as pernas!»

Finalmente, Medina falou na carga fiscal, no alívio que, no OE de 2024, sobretudo a classe média irá sentir nos bolsos por via da redução do IRS, quantificando a redução da receita em cerca de 2 mil M€ por ano. Aí estão as eleições europeias a determinar a política fiscal! Mesmo sem serem eleições legislativas, mas sentindo que os últimos 16 meses tem sido um festival de ‘casos e casinhos’ a minar o Governo, toca a namorar os eleitores pelo bolso, tentando recuperar os cerca de 10% perdidos desde que o PS obteve a maioria absoluta.

Veremos como a economia se comporta neste segundo semestre, após um primeiro semestre altamente promissor, com o turismo a sustentar o seu crescimento. Alguns números entretanto conhecidos indiciam algum abrandamento neste setor, certamente como reflexo das dificuldades internacionais e do efeito da inflação no poder de compra das populações. Pode ser que a vinda do Papa ajude a dar um élan à economia porque se estivermos à espera do Governo, bem podemos ‘esperar sentados’.