A única coisa que faz a diferença

Portugal tem de acender a fome, confiança e empreendedorismo. Com isso o futuro será muito próspero. Sem isso, pouco contarão bons discursos do Governo ou crónicas como esta.

Nova Iorque, agosto 2023

«A questão não é quem me vai deixar, mas sim quem me vai parar».
Ayn Rand

«A pessoa que estás destinada a ser é a pessoa que tu decidiste ser».
Ralph Waldo Emerson

«O único limite à realização do amanhã são as nossas dúvidas de hoje».
Franklin D. Roosevelt

 

 

Queridas Filhas,

Uma das vantagens de ter vivido durante várias décadas e em vários países é a capacidade de saber distinguir o que é essencial do que é acessório. Normalmente isso é relativamente fácil de perceber e quase todos seguem o cominho certo. Mas há situações em que isto não é tão obvio. O que parece ser essencial no curto prazo, revela-se acessório no longo prazo e vice-versa.

Baseado em conversas, experiência profissional e o que leio em livros e jornais penso que há uma grande confusão sobre o que é essencial e o que é acessório para o sucesso profissional. Ouvimos pessoas a queixarem-se do governo, do patrão, da economia, dos colegas, do país, das leis e muitas outras coisas. Sem dúvida que qualquer um desses fatores pode levar a um excelente dia, semana ou mesmo ano. Uma promoção, baixa de impostos, leis mais benéficas, subsídios… O ano seria bom, a conta bancária até pode subir, mas o impacto e as conclusões custariam a longo prazo.

Isto porque os grandes responsáveis do nosso futuro profissional somos nós. De qualquer país, de qualquer regime, de qualquer empresa surgem pessoas que atingem picos nunca sonhados e nos deixam estupefactos e talvez até invejosos. Mas a força que têm é esta convicção que o futuro está nas suas mãos. Quando este sentimento se estenda a uma equipa, organizações de elite nascem. Quando se estende a uma nação, épocas de ouro ficam gravadas na história.

Neste capítulo, a sociedade ocidental em geral e a sociedade portuguesa em particular estão fracas. Nos últimos anos cresceu um sentimento de vitimização. Nas redes sociais, quem se apresenta como vítima tem todo o amor e apoio que procura. As esperanças são postas principalmente no Governo e nas regulações da União Europeia. Poucos exemplos em Portugal (à parte do futebol) de pessoas que começaram do nada e construíram uma vida de sucesso. Orientações políticas avessas a meritocracia. Que fazer? Aqui vão algumas sugestões:

Educação: expor alunos a atividade práticas de liderança e trabalho de equipa com competição entre equipas; introduzir ensino de retórica e de debate para desenvolver espírito critico e capacidade de ver problemas de vários prismas; ensinar literacia financeira para mostrar o potencial de criar meios financeiros avultados partindo do nada; aplicar conceitos discutidos às questões mais prementes da sociedade atual. Estudar casos reais de desperdício de talentos e de oportunidades.

Empreendedorismo: eliminar barreiras regulatórias, fiscais e financeiras à constituição e operação de empresas pequenas. A maior inovação vem deste tipo de empresas. Mas também são elas que mais sofrem com os custos regulatórios e burocráticos. De tal forma que nenhuma empresa inovadora dos últimos 20 anos foi constituída na Europa. Portugal tem de ter coragem e pugnar para criar um oásis regulatório para empresas com faturação até, por exemplo 10 milhões de euros. Assim que ultrapassem essa fasquia, sofrem a mesma regulação que as maiores. Sem isso, não haverá muita inovação em Portugal (nem na Europa). E os empreendedores emigrarão para os USA.

Cidadania e Civismo: aumentar a transparência e eficácia das políticas e escolhas do Estado. Pouco inspirador será o país onde criminosos esperam julgamento durante décadas e subsídios são dados a projetos feitos para se apropriarem dos fundos públicos e depois fecharem. Falta de confiança em tribunais e na gestão do erário publico aumenta os custos de projetos inovadores e leva muitos potenciais empresários e líderes a desistirem ou emigrarem.

Podia-se pensar que para ser rico Portugal precisaria de recursos naturais. Mas como vemos na Rússia e Venezuela isso não é verdade. Ou que falta de acesso a um mercado grande limita o nosso país. Mas a UE é um dos maiores mercados. Falta de infraestrutura? Portugal tem excelentes. Geografia periférica? País atlântico no meio dos maiores mercados ocidentais. Não a única diferença é a motivação e autoconfiança dos portugueses. Não se acredita. Os obstáculos burocráticos são altos. As invejas também. E o número de portugueses a trabalhar com um brilho nos olhos, zelo, energia e confiança no futuro muito baixo fora do desporto. Portugal tem de acender a fome, confiança e empreendedorismo dos portugueses. Com isso o futuro será muito próspero. Sem isso, pouco contarão bons discursos do Governo ou crónicas como esta.