A Jornada Mundial da Juventude foi alvo de críticas não só dos comerciantes que falam em pouco consumo, mas também dos peregrinos que afirmavam que os produtos acabavam muito cedo e que o serviço era lento…
Não temos dados concretos para responder a estas questões. O que sabemos é que a Jornada foi importante para o país, foi um marco importante para o país. Conseguimos e estamos todos de parabéns, porque um mês antes não sabíamos se ia correr bem e se iríamos conseguir fazer, porque foi tudo feito muito em cima do joelho, à boa maneira portuguesa. Portugal esteve no foco e o destino Portugal esteve no radar. Há imagens de tirar o fôlego. É impressionante. Há imagens que mostram a dimensão absolutamente incríveis, até o próprio Santo Padre disse que talvez tenha sido a melhor Jornada Mundial da Juventude que já se fez. Do ponto de vista do efeito no turismo temos de esperar para ver, porque o peregrino não é propriamente um turista que deixe uma receita considerável no setor, não é um turista que deguste as nossas refeições na restauração e que pernoite na nossa hotelaria. Este evento tinha uma organização diferente, embora houvesse uma rede de restaurantes dedicada aos menus peregrinos, mas era um menu especial, com um custo especial e com um valor baixo.
Foram feitos cerca de 1.500 protocolos com a restauração…
Foram cerca de 1.550 estabelecimentos que aderiram com um menu dedicado ao peregrino.
Sente que houve alguma ilusão por parte de alguns empresários que pensavam que iam ter maior procura do que afinal tiveram?
Acho que a maioria dos empresários estava consciente e por isso é que nem sequer houve uma grande adesão ao menu porque estavam a par de qual era o perfil do visitante. Agora, o que esperamos é que tenha sido criado um lastro e que todas estas pessoas que visitaram o país regressem com um outro objetivo de ficar no país e de visitar mais do que aquilo que visitaram e que dessa vez tragam os amigos, a família ou que venham mais tarde já com uma família constituída. O país esteve na montra, foi visto por todo o mundo. Tivemos peregrinos de todo o mundo, só não tivemos a comitiva das Maldivas. Foi um evento único e singular, nunca tivemos tantos países representados, conseguimos organizar uma jornada incrível. Não houve incidentes de registo, temos imagens fabulosas, uma massa humana incrível, do ponto de vista das receitas para o turismo já sabíamos que não seriam significativas. Agora temos é de esperar que nos próximos anos haja esse retorno. A imagem de Portugal mais uma vez ficou dignificada. E isto é muito bom para a marca Portugal e para o destino Portugal, que mostrou ser um destino seguro, o que é muito importante hoje em dia. E desse ponto de vista acho que foi uma mais-valia.
Os empresários não estavam à espera da galinha de ovos de ouro…
Sem dúvida. Além de ter afastado alguns turistas que tradicionalmente viriam, mas por saberem que iríamos estar com esta afluência de peregrinos provavelmente escolheram outros destinos, mas isso também já se contava que iria acontecer. São tudo contingências que já se esperavam, agora temos de continuar a trabalhar para mantermos este foco de destino Portugal seguro e a imagem de conseguirmos organizar eventos brilhantes e com esta magnitude. E isso é mais importante do que estarmos preocupados se houve ou não ajustes diretos ou de contabilizamos o tostão ou o não tostão. Também aquela zona provavelmente vai ser muito mais usufruída a partir de agora, como aconteceu com a Expo. Isto significa que temos de nos concentrar naquilo que é positivo e menos naquilo que é menos bom, porque há sempre questões que são menos boas. Temos de acabar com esta ideia de que somos um país pequenino, que não conseguimos fazer as coisas e que não somos capazes. Não, somos um país grande, somos capazes, fazemos coisas grandiosas e agora temos de tirar proveito disso para que venham para cá todos aqueles que não tiveram oportunidade de gastar aquilo que deviam ter gasto, de usufruir da gastronomia que deviam ter degustado porque não tiveram tempo. O que é importante é isto não se esgote, porque aí é que seria uma desgraça depois de termos feito todo este investimento e todo este trabalho.
Marcelo Rebelo de Sousa já garantiu que os gastos já foram recuperados. Acredita neste otimismo?
Não faço a menor ideia, não temos nem know-how, nem dados para saber. Estivemos envolvidos no protocolo para angariar a rede de restaurantes para fazer o menu peregrino. Depois também estivemos envolvidos junto da Câmara para perceber como é que seria estruturado o plano de acessibilidades e de mobilidade. O que é espero é que não se esfume este investimento, este trabalho e que se continue a projetar a marca Portugal. Para isso temos de continuar a apostar no turismo, na marca Portugal e na promoção do país. E para isso não podemos, por um lado, dizer que o turismo é um motor do país e, por outro lado, andarmos com ataques ao turismo que são completamente prejudiciais, desnecessários e inexplicáveis. Por um lado, queremos apostar e, por outro lado, dizemos que há atividades do turismo que têm de acabar, como é o caso do alojamento local, porque aprovar pacotes como o Mais Habitação é dizer que o alojamento local não deve continuar em prol de termos habitação. Uma coisa não tem nada a ver com outra e associar o alojamento local à falta de habitação é um erro gigantesco. Temos de ser coerentes.
A AHRESP, no momento da discussão das medidas, chegou a alertar para o risco de serem destruídos milhares de postos de trabalho…
A medida ainda não entrou em vigor, mas o que aconteceu nesta fase foi um aumento dos registos de alojamento local. Sempre que há o perigo de acabar com o alojamento local cresce o número de registos, porque as pessoas têm receio. E foi isso mesmo que aconteceu nesta fase, em que houve uma corrida para registar estes alojamentos antes que a lei fosse aplicada. Só quando a lei entrar em vigor é que vamos perceber exatamente o impacto, porque aí entram todos aqueles mecanismos que foram aprovados, como o reforço dos poderes dos condomínios, o que é gravíssimo. Também a carga fiscal irá levar estes empresários a fazer contas e vão perceber que irão ter mais despesas do que benefícios. Há aqui uma série de incoerências. Há aqui problemas gravíssimos. Neste momento, ainda estamos à espera da promulgação do Presidente da República e não sabemos o que vai fazer. Vamos ter de aguardar. Vai promulgar ou não? O diploma vai mudar? O que sei é que se a lei for promulgada tal e qual como está vai com certeza levar muitos empresários a desistirem destes negócios, porque vão deixar de ser rentáveis e, por outro lado, com a intromissão do reforço de poderes dos condomínios também vão levar a que muitos negócios acabem e vai penalizar uma atividade que é fundamental para o turismo, que não vai deixar de existir só porque existe uma lei a impedir ou a limitar, porque a procura vai continuar a existir. Enquanto houver procura vai haver oferta só que esta oferta vai-se transformar. Em vez de ser uma oferta legal, estruturada e com qualidade vai-se transformar numa oferta ilegal como existia antes.
A lei do Alojamento Local surgiu para regular essa atividade…
Exatamente. Tivemos um trabalho imenso – associações, Governo, empresários – para estruturar, legalizar, para formalizar e para todos pagarem impostos. Foi um trabalho que correu lindamente, em que todos passaram a estar formais. É claro que há sempre um ou outro que estará fora da malha legal, mas são casos pontuais. Agora o que vai acontecer é que aqueles que puderem vão voltar à informalidade, porque havendo procura vai haver oferta. Isso não há dúvida nenhuma.
E todos nos lembramos como era o Algarve há uns anos…
Algarve, Nazaré, entre outros. O turismo é estruturante, é vital, é o motor da economia e não podemos estar, por um lado, dizer que é o motor da economia e, por outro lado, dizer que é a causa de não haver habitação. O alojamento local não pode ser associado à falta de habitação, não tem nada a ver com a falta de habitação. O alojamento local sempre existiu e também sempre existiu a falta de habitação. Obviamente que estamos muito preocupados com a falta de habitação. Somos os primeiros a estar ao lado do Governo com esta preocupação. Agora entendemos que esta questão tem que ser combatida com outros mecanismos, porque não é acabando com o alojamento local que vamos resolver a falta de habitação. Quando fizemos o único estudo sério sobre o tema antes da última alteração legislativa já tínhamos dado conta e informámos toda a gente, na altura, que 60% dos imóveis que se converteram em alojamento local, quer em Lisboa, quer no Porto, estavam a cair.
E assistimos entretanto à reabilitação do centro de muitas cidades…
Os imóveis foram reabilitados, estavam a cair, não estavam habitados. Como é que podemos dizer que o alojamento local tirou os fogos de habitação? Eles não estavam ocupados, o que fizemos foi reabilitá-los e com isso reabilitamos as cidades, criámos mais comércio, mais restauração e criámos segurança nas cidades. Isso é que o que fez o alojamento local, não foi tirar habitação. Estamos a confundir coisas totalmente diferentes, daí termos dito que era importante voltarmos a estudar o fenómeno, percebermos o que é que era a realidade de hoje para percebermos onde é que temos de atuar, porque se tivéssemos de atuar, a AHRESP seria a primeira a estar na linha da frente a fazer os ajustes e a propor os ajustes necessários. Não eram estes ajustes que vieram a ser propostos sem se perceber o que é a realidade. Aliás, ninguém estudou a realidade.
Daí ter dito que o Governo mostrava um desconhecimento profundo desta realidade…
Até porque se tomaram decisões com base em factos que não são reais. Há muitos registos hoje que estão a ser considerados alojamento local, mas não existem, são registos fantasmas, porque como apareceram as zonas de contenção, muitos proprietários com receio de ficarem sem as licenças deixaram ficar os registos ativos. Mas na verdade, muitos destes registos ativos não estão a ser colocados no mercado porque não quiseram, ou por outros motivos, mas continuam ativos. Isto era preciso perceber tudo e era preciso voltar a ir ao terreno para perceber se estes registos estão ativos, se estão a receber clientes, turistas. Agora as decisões são tomadas sem se conhecer nada.
É uma medida de propaganda?
É um tema populista, é um tema apaixonante e é mais fácil ligá-lo à problemática da habitação e achar-se que com isto resolvemos o problema da habitação. Não resolvemos o problema da habitação e criámos um problema grave porque estamos a acabar com postos de trabalho. Não é só o alojamento local, é toda a dinâmica que este local cria, como todos os serviços que giram à sua volta, como os serviços de limpeza, o artesanato à volta, o comércio, a restauração.
Outro problema diz respeito à falta de mão-de-obra. Quantos trabalhadores são precisos neste momento?
Neste momento não temos dados atuais. De acordo com os dados recentes do INE, estamos a bater recordes de contratação. O setor bateu recordes de empregabilidade e isso significa que continuamos a precisar de trabalhadores. Sabemos que superámos os valores do mesmo período de 2019 e neste momento temos cerca de 319.200 trabalhadores no alojamento e restauração.
A taxa de desemprego aumentou agora ligeiramente, mas insuficiente para compensar estas falhas…
O facto de o canal Horeca ter superado os níveis pré-pandemia no segundo trimestre de 2023 ao nível da empregabilidade não quer dizer que se tenha resolvido o problema da falta de trabalhadores, porque continuamos com essa falta. Este problema não é fácil de resolver com os constrangimentos que temos e que continuam por resolver. Precisamos de acelerar a agenda das profissões que o Secretário de Estado anunciou com a campanha de valorização que está nessa agenda e estará prestes a ser desencadeada. Precisamos urgentemente de desenvolvê-la e de ter uma estratégia mais célere no que diz respeito à contratação dos imigrantes: contratação organizada, controlada e com capacidade para depois os incluir, que depois se cruza com as questões da habitação que não temos. Tudo isto são questões que não são fáceis. O Governo já agilizou alguma legislação relativamente aos vistos, mas depois em termos práticos ainda não conseguimos perceber bem essa agilização, porque a burocracia continua a existir. Precisamos de resolver estes constrangimentos porque precisamos também que aqueles trabalhadores que fugiram durante a pandemia para outros setores voltem para o nosso. E, para isso, as empresas precisam de se tornar mais atrativas, apostando na questão dos salários emocionais. Precisamos de capacitar os nossos empresários e despertá-los para estas estas componentes que são preciosas, porque não é só o salário propriamente dito, o salário emocional é cada vez mais importante para o trabalhador e para o novo perfil do trabalhador. No entanto, o Governo tem de fazer a sua parte que não está a fazer, nomeadamente na carga fiscal. Continuamos com uma carga contributiva e fiscal enorme e as empresas apesar de terem vindo a fazer um esforço tremendo para aumentar salários, esse aumento não é tão significativo quanto teria que ser, porque a carga fiscal é enorme. O Governo que teve um superávit nos últimos meses ao nível fiscal deveria baixar esta carga fiscal no que diz respeito ao rendimento do trabalho, para que, em termos líquidos, o trabalhador pudesse levar para casa mais dinheiro. Até porque, estamos com um poder de compra cada vez menor, as taxas de juro continuam a aumentar e continuamos a ter inflação porque a inflação global desce, mas a inflação alimentar continua bem presente e continua a ser acentuada. E isso vê-se pela ocupação do Algarve no mês de junho que está a dar indícios de uma menor procura, muito por culpa da menor procura dos portugueses que têm menos poder de compra. As famílias não têm dinheiro e tudo isto poderia ser um bocadinho compensado se o Governo fizesse a parte dele e se ajudasse as empresas a poderem retribuir ainda melhor os seus colaboradores. Todos temos de fazer a nossa parte, as empresas fizeram-no, fizeram e estão a fazer um esforço grande para aumentar salários, porque não foram só os aumentos que resultaram do acordo tripartido, na AHRESP celebráramos contratos coletivos, quer com os sindicatos da UGT, quer com os sindicatos da CGTP de aumentos de 8% e há empresas que conseguiram fazer aumentos superiores a esses.
A ideia de contas certas não permite o Governo fazer o alívio da carga fiscal?
Não permite? Mas não permite porquê? A diminuição da carga fiscal gera mais economia, permite que as famílias tenham mais rendimento e se as famílias tiverem mais rendimento a economia é mais produtiva.
De acordo com os últimos dados do vosso inquérito a faturação aumentou entre janeiro a maio…
Indicava que continuávamos a crescer e que as expectativas eram boas. Os dados do primeiro semestre do turismo são positivos, continuámos a crescer. Mas apesar de continuarmos a crescer e não querendo ser pessimista – somos otimistas e continuamos com com esta crença de que vamos continuar a crescer – no que diz respeito à restauração já em maio os nossos empresários diziam-nos que a restauração que mais dependia do mercado interno estava a perder procura, especialmente durante os dias de semana. E essa mantém-se. A restauração mais de bairro, nos arredores dos grandes centros urbanos que não têm clientes internacionais está com uma procura muito mais reduzida. E isso tem a ver com a diminuição do poder de compra do português.
O que torna o setor mais dependente dos turistas estrangeiros e que sai penalizado com este impasse em torno da futura localização do novo aeroporto…
Já nem conseguimos falar desse tema. Já é tão absurdo, tão absurdo que nem merece comentários. O que queremos é uma decisão, seja ela qual seja. Esta falta de decisão representa prejuízos avultadíssimos. E já não é só sobre o aeroporto, é sobre a ferrovia. Tudo neste país são anos de espera para tomarmos uma decisão. Só queremos que venha a decisão.
Independentemente da localização?
Independentemente da localização, não queremos comentar a metodologia, nem o absurdo de termos tantas localizações em jogo. A AHRESP quer uma decisão, seja ela qual for, não somos entendidos na matéria. Não nos peçam para avaliar o que quer que seja. Só queremos nesta fase é ‘venha lá a decisão’ com os riscos de ser boa ou má, depois de esperarmos mais de 50 anos, alguém tem de correr o risco e de tomar uma decisão. Há imensas questões que precisam de ser resolvidas. Precisamos de acessibilidades, precisamos de mobilidade e o país precisa rapidamente de decisões sobre esta matéria.
Há muito que se diz que o aeroporto da Portela está esgotado, mas agora com a JMJ aparentemente esse problema não se colocou…
Os peregrinos não vieram só de avião, vieram de muitas outras formas. E depois também vieram ao longo do tempo, foi faseado, mas houve dias de muito fluxo, com constrangimentos e com uma grande pressão. No entanto, o peregrino também está habituado a essas esperas, porque é um turista diferente, até porque estamos a falar de jovens que vêm com um espírito diferente, com um objetivo diferente e se tiverem que cantar durante 5h à espera de fazerem o check-in cantam. Agora um turista que vem passar um fim de semana a Lisboa não vai estar 5h à espera a cantar, porque não vai gostar. São coisas completamente diferentes, não tem comparação possível.
Apesar da incerteza diz que está otimista. O que espera até ao final do ano?
É um otimismo com preocupação e com prudência. A AHRESP tem a vantagem de estar sempre no terreno e que saiba foi a única associação que já em maio estava a alertar para estes riscos, enquanto estavam todos a dizer que estava tudo bem e a bater palmas. Os dados do primeiro semestre indicavam um crescimento no setor, ótimo, excelente, mas cuidado, porque revelou um abrandamento relativamente às empresas que mais dependem do consumo interno. Em relação aos próximos meses temos de ter otimismo, claro que sim, mas temos de olhar com alguma cautela e de continuar a trabalhar muito para o nosso turismo crescer. Não nos podemos esquecer que estamos num mundo muito global, temos outros mercados que competem connosco e que também estão a crescer. O nosso português também esteve num período com restrições e procurou ficar mais no país, agora também já está a procurar viagens internacionais. Por isso, temos de continuar a ter muita qualidade, a ter muita prudência para não nos deixarmos engolir por outros mercados e para não nos deixarmos ultrapassar. E também precisamos que o Governo olhe para o setor e que nos dê as condições necessárias para continuarmos a crescer e não é com alguns ataques e algumas investidas pouco inteligentes que vamos continuar a crescer. Temos de ter condições para continuar a ser um destino de excelência, com empresas de excelência, de qualidade para continuarmos a ter no nosso um turismo sempre, sempre a crescer.
O mês de agosto poderá dar algum fôlego já que é um mês tradicional para férias?
Vamos ver, porque este início de agosto com a vinda dos peregrinos afastou alguns turistas tradicionais, pelo menos de Lisboa, e ainda não temos dados muito concretos. Queremos continuar otimistas, mas temos de estar atentos porque também há mercados que estão mais estagnados e não nos podemos esquecer que o problema das taxas de juro e da inflação não se verifica só em Portugal e afeta outros países. Também não nos podemos esquecer que continuamos com uma guerra na Ucrânia. Não estamos isolados no mundo. Temos de continuar a trabalhar e precisamos da ajuda do Governo para que não se esqueça que o turismo é o motor da economia, porque se não crescer, o país não cresce e a economia não cresce. É preciso que isto seja relembrado todos os dias. Sei que há quem discorde e há muitas vozes contra, mas a verdade é que precisamos muito do turismo. Precisávamos muito que o Governo percebesse que há uma necessidade grande de diminuir a carga fiscal do setor, que é de mão-de-obra intensiva. É um setor de pessoas para pessoas e era muito importante que tivéssemos essa diminuição da carga fiscal para termos cada vez mais qualidade e serviços de excelência. Não é que não tenhamos, mas temos alguma dificuldade em encontrar e em reter talentos.
Continua a existir a ideia de que os pais não querem que o seu filho seja empregado de mesa?
Não e, por isso, é que é muito importante avançar com a campanha de valorização das profissões que o Secretário de Estado já anunciou. Já nos disponibilizámos para participar e ajudar, porque essa campanha é fundamental e é fundamental que chegue aos jovens cada vez mais cedo para que mude este dogma e esta mentalidade de que trabalhar no setor não é bom. Muito pelo contrário, é muito bom e é único. É um setor que permite uma progressão de carreira com rapidez. É um setor que permite um contacto com o cliente, como poucos permitem. Não é à toa que falamos que esta indústria é a indústria da felicidade e isto tem de ser transmitido aos jovens.
E mudar os horários…
Por isso é que precisamos de capacitar e de explicar aos empresários que é possível ajustar horários. E também precisávamos que a legislação laboral pudesse ser mais flexível, coisa que também não é. Mas mesmo com a legislação laboral que temos podemos ajudar e capacitar mais os empresários, mas também precisamos dos sindicatos. Daí, a AHRESP estar a negociar os contratos coletivos, não é só tabelas salariais, mas dos clausulados para melhorar as organizações dos tempos de trabalho. Tenho a felicidade de o meu filho ter escolhido por auto recreação o turismo. Já fez o último ano, já fez o estágio e ele próprio tem felicidade de estar no setor. Acredito que podemos passar esta mensagem. Ele adora este setor, adora estar no setor e isto consegue-se fazer. Temos de passar esta mensagem que ainda não é comum. Temos de ir cada vez mais cedo às escolas para falar com os jovens para explicar o que é isto de trabalhar no turismo, o que ser empregado de mesa, o que trabalhar numa receção do hotel. Temos que explicar quais são as vantagens. Não é só dizer que temos de trabalhar aos feriados e aos fins de semana, quando os outros estão de lazer. Temos de saber explicar isto porque o setor é apaixonante.