Uma guerra sem fim à vista!

Uma guerra sem fim à vista!

Por Carlos Bonifácio, Mestre em Estratégia e João Barreiras Duarte, Consultor e Gestor 

de Empresas

Após a rebelião do Grupo Wagner e depois da recente cimeira da NATO em Vílnius, Putin tem-se desdobrado em declarações públicas de afirmação do exército russo. Para os mais incautos e para alguns ‘opinion makers’ da nossa praça, nomeadamente generais portugueses pró-russos, tem sido um momento de jubilo, a acreditar na verborreia de Putin. Acontece, porém, que as declarações de confiança e entusiasmo de Putin não passam disso mesmo, uma tentativa para inverter a sua perda de prestígio junto da instituição militar. A realidade mudou e Putin tem necessidade de comunicar de forma mais regular para criar uma imagem de tranquilidade no meio militar que efetivamente já não existe.

 

Acontraofensiva ucraniana está longe de atingir os seus objetivos, mas não era expectável que os resultados aparecessem de forma célere. Os russos, depois da anunciada contraofensiva tiveram tempo para preparar a defesa, através da fortificação das linhas defensivas com uma rede complexa de trincheiras e com o terreno fortemente minado.

Putin quer ganhar tempo até que passe o verão, para poder novamente congelar o conflito e fazer o tipo de guerra que mais lhe convém. Por outras palavras, a sua estratégia assenta no uso de doses maciças de mísseis e drones sobre as infraestruturas ucranianas e sobre os civis, provocando sofrimento ao povo ucraniano.

 

As recentes declarações de Putin, em que afirma que foram destruídos 300 tanques ocidentais e que 1/3 do equipamento militar ocidental já está inoperacional, mais não é do que propaganda para consumo interno, com o objetivo de evitar a queda de popularidade. Putin tenta passar a mensagem de que a Rússia continua bem equipada militarmente, mas o uso de drones, na sua maioria de origem iraniana e o recurso a mísseis terra-ar (S-300) para atingir cidades provam exatamente o contrário. Ainda que não se deva subestimar os recursos militares que os russos ainda dispõem, fruto do acumular de décadas da era soviética, só falta mesmo Putin afirmar que a Rússia está mais bem equipada hoje, do que antes do início da invasão.

É evidente que o líder russo está mais nervoso depois da rebelião de 24 de junho e que uma parte da instituição militar começou a afastar-se lentamente de Putin. Alguns generais estão conscientes que a Rússia está mais fraca económica e militarmente, tendo acumulado um número de baixas capazes de minar a confiança do povo russo. 

 

As detenções de 15 altas patentes militares russas, efetuadas no mês de julho, para interrogatório, são o pronúncio de que algo não vai correr bem no futuro.

Por outro lado, não se pode afirmar que as coisas estejam a correr de feição para o lado ucraniano. Apesar de terem o respaldo da NATO e do grupo de Ramstein, tal evidência é a garantia de que a Ucrânia não capitulará, mas dificilmente vencerá  esta guerra de invasão a que foi sujeita. Assim, será o tempo, as pequenas vitórias e o desgaste do regime russo a determinar um acordo de paz como saída para esta agressão. Poderá assim vislumbrar-se uma nova ordem mundial onde a Rússia deixará de ser um grande ator global.