Desde quando é que protegemos a pele do sol?

Sabemos que, para estarmos expostos ao sol em segurança, é necessário protegermos a pele. Com o passar do tempo, a conciencialização social sobre a importância dos protetores solares  tem vindo a aumentar. No entanto, muitos não sabem que a sua origem remonta às civilizações mais antigas.

Sabemos que, ao longo das décadas, a conscientização social sobre o uso de protetor solar tem aumentando, transformando-se com todos os avanços do mercado cosmético. No entanto, poucos têm conhecimento da história do protetor solar e de como o seu papel na proteção da pele foi descoberto.

Assegura o Instituto de Cosmetologia Educacional que o símbolo solar mais antigo conhecido foi encontrado em Ghassul, no vale do Jordão, em Israel, há cerca de 6 mil anos. A humanidade concebeu o sol como um Deus durante vários séculos, já que este «fornecia vida, calor e brilho». Segundo Sandra Cehovicus, química, cosmetóloga e especialista em P&D de cosméticos, as primeiras civilizações não tinham o mesmo nível de compreensão científica que temos hoje sobre os danos causados pela exposição solar e a importância de proteger a pele. No entanto, ao longo da História, várias culturas desenvolveram métodos e substâncias para lidar com os efeitos nocivos do sol sobre a pele, sendo importante enfatizar que essas práticas «não eram baseadas num entendimento científico completo dos raios UV ou dos danos causados pelo sol». «A necessidade de proteção da pele contra os raios solares provavelmente surgiu de maneira mais intuitiva, à medida que as pessoas observavam os efeitos da exposição prolongada ao sol, como queimaduras e envelhecimento precoce da pele. Desde então, o desenvolvimento de produtos de proteção solar mais eficazes e baseados em conhecimento científico ocorreu ao longo dos séculos, à medida que nossa compreensão da radiação solar e os seus efeitos se aprofundou», conta.

A origem das preocupações com a proteção solar, explica o dermatologista Alexandre Catarino, remonta, por isso, às civilizações mais antigas, e terá tido início na civilização egípcia, que valorizava uma pele mais clara. Recorde-se que, antigamente, a pele morena era sinal de baixo estatuto social e a pele pálida era sinal de beleza e elegância.  «Com esse fim, usavam extratos de arroz, jasmim e tremoço. Na Grécia Antiga os atletas cobriam os corpos de com misturas de óleos, nomeadamente azeite, e areia para evitar queimaduras solares», detalha. «A radiação solar é uma causa conhecida de dano da pele, sendo responsável por queimaduras solares, envelhecimento, cancro cutâneo e até pelo agravar ou desencadear de doenças da pele (fotodermatoses)», alerta Alexandre Catarino, acrescentando que «os protetores solares são uma ferramenta importante na proteção contra esses efeitos nocivos». 
«Os protetores solares são projetados para bloquear ou absorver os raios UV, ajudando a prevenir os danos causados pelo sol e amplamente são classificados com um Fator de Proteção Solar (SPF), que indica a capacidade do produto de proteger a pele dos raios UVB e também algumas sinalizações quanto à proteção em relação aos raios UVA», completa a quimíca.  

Os protetores solares modernos surgiram na década de 1930. Segundo o dermatologista, em 1935, o químico Eugene Schueller, fundador da L’Oreal, criou o filtro solar ‘Ambre Solaire’, que continha salicilato de benzila. Em 1946, Franz Greiter criou o creme solar ‘Glacier cream’ e fundou a empresa Piz Buin, nome de uma montanha nos Alpes onde tinha sofrido uma queimadura solar a fazer alpinismo. «Greiter também é creditado pelo desenvolvimento do conceito de Fator de Proteção Solar (Sun Protection Factor – SPF) que mede a proteção conferida pelo protetor contra o eritema solar», explica. «Os protetores solares podem ser constituídos por filtros físicos que funcionam como barreira e que refletem a radiação solar e por filtros químicos que absorvem a radiação ultravioleta (UV)», aponta.

De acordo com Alexandre Catarino, os filtros UVA terão surgido nos protetores solares da década de 1970. Em 1820, Sir Everad Home foi o primeiro a propor que a pigmentação cutânea protege contra a radiação solar e que os efeitos do sol não são apenas térmicos. Mas já em 1889 havia sido publicado um estudo muito importante por Erik Johan Widmark de Estocolmo que experimentalmente corroborava que a RUV causa eritema e queimadura. Em 1896, Paul Unna descreveu a associação entre exposição solar e cancro cutâneo, tendo sido apenas em 1928 que foi publicado o artigo experimental que demonstrava a associação entre RUV e cancro cutâneo em ratos de laboratório por Findlay.
«Durante a II Guerra Mundial a força aérea americana pediu que fossem desenvolvidos filtros solares para uso no deserto e nas trincheiras de forma a evitar queimaduras solares», contou ainda, garantindo que com as campanhas de alerta para os riscos associados à exposição solar «o uso de protetores solares liberalizou-se e representa um mercado colossal». Apesar de tudo, segundo o dermatologista, «os comportamentos continuam a não ser os ideais» e «a prevalência de cancro cutâneo continua a aumentar, sendo que para isso também contribui o positivo aumento da esperança de vida».

Bronzeador

E o bronzeador? Segundo Sandra Cehovicus, no início do século XX, a ideia de um «bronzeado seguro» começou a ganhar popularidade e alguns produtos começaram a ser desenvolvidos para auxiliar nesse processo. «Foi na década de 1920 que a moda da ‘pele bronzeada’ começou popularizar-se de maneira mais significativa com a estilista Coco Chanel que conceituou  a ideia do bronzeado como símbolo de ‘saúde e estilo’, após um incidente decorrente da exposição solar excessiva nas suas férias na Riviera Francesa», lembrou. «Os bronzeadores têm constituintes que propõem potenciar o bronzeado e classicamente apresentam um baixo índice de proteção contra RUVB e RUVA o que acarreta riscos», revela o dermatologista, acrescentando que os autobronzeadores «visam escurecer a pele sem necessidade de exposição solar» – no entanto, «não protege contra queimaduras solares».