Por João Sena
Os números não enganam: há cada vez mais mulheres ligadas ao futebol. Segundo a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), o número de mulheres que jogam futebol em todo o mundo aumentou de 30 milhões em 2006 para 60 milhões em 2021. Essa tendência reflete-se também no número de árbitras. Na Europa, os números igualmente são animadores. De acordo com a União das Associações Europeias de Futebol (UEFA), o número de árbitras inscritas aumentou 24% entre 2014 e 2019, passando de 1.764 para 2.194.
A realidade portuguesa vai no mesmo sentido. No final da época passada, havia 15.414 jogadoras federadas, anunciou a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o que representa um acréscimo de 34% em relação à temporada 2018/19. Portugal conta, neste momento, com 641 árbitras em atividade, 113 das quais a nível nacional. Neste grupo incluem-se as dez árbitras internacionais (cinco principais e outras cinco como assistentes). Importa referir que a arbitragem feminina não se limita às competições de alto nível. As árbitras atuam também nos campeonatos nacionais e regionais, onde têm um impacto bastante grande na promoção da igualdade de género no futebol.
Andreia Sousa, de 36 anos, é consultora informática, e tem uma ligação antiga ao futebol. Quando andava na faculdade jogava à bola com a prima, só que começou a faltar tempo para os treinos. A alternativa foi fazer um curso para árbitros. Inscreveu-se, passou a frequentar as aulas teóricas e práticas e começou a arbitrar. Em 2006/07 entrou no quadro nacional e foi subindo de escalão até conseguir um dos seus grandes objetivos que era ter as insígnias da FIFA, ou seja, ser árbitra internacional. Suspendeu a atividade desportiva em 2017 e 2021 para ser mãe, mas desistir nunca foi a opção e regressou à arbitragem assim que possível. É internacional desde 2016. O ponto mais alto foi a Copa América feminina em 2022, na Colômbia, como assistente de Sandra Bastos. Teve também a oportunidade de realizar jogos na Liga dos Campeões e encontros particulares de seleções A.
Depois de ter feito 25 jogos na segunda liga chegou, em 2023/24, à primeira divisão ao assumir as funções de assistente do árbitro Ricardo Baixinho no jogo Rio Ave-Chaves (2-0). E teve uma decisão importante ao anular um golo ao Chaves por fora de jogo, aos 88 minutos. Andreia Sousa está na segunda categoria de árbitros assistentes do quadro masculino, mas também faz parte do quadro de árbitros das competições para mulheres. A preparação teórica para apitar jogos de futebol é igual, mas a preparação física tem de ser mais apurada no futebol masculino, já que velocidade e a intensidade são maiores.
Em dia de estreias, destaque para o primeiro jogo de Alexandrina Cruz como presidente do Rio Ave, sendo a primeira mulher a presidir a um clube da primeira liga.
Exemplo para a história
Stéphanie Frappart, de 38 anos, fica na história dos Mundiais por ter sido a primeira mulher a arbitrar um jogo no campeonato do Mundo masculino, e fê-lo no Qatar, país onde as mulheres enfrentam inúmeras discriminações. A francesa liderou a equipa de arbitragem no jogo entre a Alemanha e a Costa Rica (4-2) e teve com auxiliares a brasileira Noiza Pak e a mexicana Diaz Medina. À pergunta se alguma vez recebeu críticas ou comentários desagradáveis de jogadores, diretores ou adeptos por ser mulher, Frappart respondeu: «Desde que comecei recebi apoio das equipas e dos jogadores. Sempre me senti bem-vinda e creio que vai ser sempre assim». E tem motivos para isso. Um estudo realizado em 2016 pela UEFA revela que as mulheres são tão competentes quanto os homens. Os dados recolhidos entre 2000 e 2015, referentes a mais de 3.500 jogos realizados na Europa, conclui que o facto de ser homem ou mulher não afeta o resultado do jogo e sugere que o sexo feminino é tão competente como o sexo masculino.