Será que o futuro passa pelo hidrogénio?

Apesar de existirem diversas vantagens relativas à utilização de veículos movidos a hidrogénio, a verdade é que as desvantagens associadas aos mesmos levam a que se pense que o futuro passa pelos carros elétricos.

Os veículos movidos a hidrogénio têm despertado interesse devido a várias razões, principalmente relacionadas com a procura por alternativas mais sustentáveis aos combustíveis fósseis e à redução das emissões de gases de efeito de estufa. São considerados importantes porque funcionam através de células de combustível que convertem hidrogénio e oxigénio em eletricidade, gerando água como único subproduto. Isso significa que não há emissões de poluentes locais, como dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogénio (NOx) ou partículas, tornando-os uma opção ideal para melhorar a qualidade do ar em áreas urbanas e reduzir problemas de saúde relacionados com a poluição do ar.

Por outro lado, a produção de hidrogénio a partir de fontes renováveis, como eletrólise da água alimentada por energia solar ou eólica, resulta num ciclo de vida com poucas emissões de CO2. Portanto, os veículos a hidrogénio têm o potencial de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito de estufa, especialmente quando comparados com os veículos tradicionais movidos a gasolina ou diesel.

Relativamente à eficiência energética, as células de combustível têm a capacidade de converter diretamente hidrogénio em eletricidade, sem a necessidade de um processo de combustão intermediário. Isso pode resultar numa eficiência energética mais alta do que aquela proporcionada pelos motores de combustão interna convencionais, que possuem perdas significativas de energia na forma de calor. Também existe a questão da diversificação das fontes de energia, na medida em que a dependência excessiva dos combustíveis fósseis para transporte torna as economias vulneráveis a flutuações nos preços do petróleo e a preocupações com segurança energética. Os veículos movidos a hidrogénio oferecem uma alternativa que pode diversificar as fontes de energia e reduzir essa vulnerabilidade.

Por último, o hidrogénio também pode ser usado como uma forma de armazenamento de energia renovável. O excesso de energia gerado por fontes intermitentes, como a solar e eólica, pode ser usado para produzir hidrogénio, que pode ser armazenado e usado posteriormente para gerar eletricidade quando necessário. Isso contribui para a estabilização da rede elétrica.

Estes fatores são explicados por John Voelcker em ‘Hydrogen Fuel-Cell Vehicles: Everything You Need to Know’ (em português, ‘Veículos movidos a hidrogénio: tudo aquilo que precisa de saber’), artigo publicado na plataforma Car and Driver. “Eles são suaves, silenciosos e tranquilos de dirigir – e não emitem dióxido de carbono ou outros gases nocivos, apenas vapor de água. Eles também não têm o problema de tempo de carregamento que os veículos elétricos têm; leva apenas cinco minutos ou mais para reabastecê-los para outro período de 300 a 400 milhas” (o equivalente a 482-643km), lê-se.

“Existem algumas desvantagens, no entanto, a mais desafiadora é a disponibilidade de combustível de hidrogénio. Embora os planos de há uma década pedissem que a Califórnia tivesse 100 estações de hidrogénio até agora, na realidade, o número é de cerca de 60. O mais problemático é que nem todos esses postos estão online e disponíveis para abastecimento o tempo todo. Pode contar o número total de pontos verdes ‘H70’ no relatório de status da estação em tempo real mantido pela California Fuel Cell Partnership para ver quantos estão ativos a qualquer momento. Muitos motoristas contam com essa aplicação para planear as suas paragens antes de se aventurarem”, é avançado, sendo que, tal como Russ Mitchell, do Los Angeles Times, explica em ‘Hydrogen fuel cell cars are here. But good luck trying to fill one up’ (em português, ‘Os veículos movidos a hidrogénio estão aqui. Mas boa sorte para conseguir abastecer um’), a Califórnia é o primeiro estado norte-americano a ter uma rede de hidrogénio disponível.

Regressando ao artigo de John Voelcker, de acordo com o California Hydrogen Business Council, “atualmente, um quilo de hidrogénio custa entre 10 e 17 dólares – 9 e 15,60 euros – nos postos de hidrogénio da Califórnia, o que equivale a cerca de 5 a 8,50 dólares – 4,50 a 7,80 euros – por galão – 3.78541 litros – de gasolina” para cobrir a mesma distância. Um carro a hidrogénio Toyota Mirai contém cerca de cinco galões de hidrogénio, ou seja, quase 19 litros. “Para compensar essa desvantagem, Honda, Hyundai e Toyota ofereceram aos seus compradores combustível de hidrogénio gratuito por vários períodos. Cada fabricante tem uma oferta ligeiramente diferente: um Toyota Mirai vem com até 15.000 dólares – quase 14 mil euros – de hidrogénio de cortesia, enquanto um Hyundai Nexo inclui os mesmos 15.000 num contrato de três anos ou até seis anos de propriedade”.

“Se estiver na Califórnia e interessado num veículo de emissão zero movido por um motor elétrico, vale a pena considerar um veículo a hidrogénio. Mas, no momento, é uma espécie de risco. Criar uma rede de abastecimento totalmente nova a partir do zero provou ser muito mais problemático – caro e não confiável – do que as fábricas imaginaram, e o combustível é mais caro para os condutores do que a gasolina”, escreve Voelcker. “Se tivéssemos que adivinhar, sugerimos que o futuro dos carros provavelmente será elétrico”.