Não se devem deitar foguetes antes da festa, mas também não se deve ignorar o que merece ser elogiado.
Porque estes dias de calor extremo, com ventos fortes à mistura, faziam temer o pior.
E os exemplos que nos vão chegando um pouco de todo o mundo são aterradores, chocantes, revoltantes. Do país vizinho, com as chamas descontroladas em Tenerife, ao Havai, onde o cenário de destruição e horror é inacreditável. Não, nem a ira da natureza justifica tamanha tragédia. E se o número de vítimas já vai muito para lá do concebível, tudo aponta para que o rescaldo final seja muito mais gravoso. Dramático. Sim, dantesco.
Nem se imagina o pânico daquela pobre gente rodeada por fogo e pelo mar.
Vêm-nos forçosamente à cabeça (e ao coração) as imagens da fatídica EN 236 de nossa triste memória e os incêndios assassinos de Pedrógão Grande em junho de 2017 e os de outubro seguinte. Era o 11.º mais mortífero da história; depois de Maui, passou a 12.º.
Parece que, finalmente, aprendemos a lição. Esperemos mesmo que sim. O preço foi demasiado alto.
Se tudo continuar como até aqui, as coisas melhoraram.
As coisas: a cadeia de comando e a organização da Proteção Civil, os bombeiros e as forças de segurança, as forças de prevenção, o planeamento e a vigilância, a prontidão da resposta e a rapidez do ataque aos fogos sem poupar nos meios.
Fizesse-se na reflorestação, na prevenção, no cadastro e na limpeza dos terrenos as reformas a que assistimos em matéria de combate e poderíamos estar bem mais descansados.
Mas nesses capítulos – apesar das promessas dos Governos e de António Costa em particular e da atenção e vigilância também prometidas pelo Presidente Marcelo – continua quase tudo por fazer.
O ministro da Administração Interna é, de facto, uma exceção num Governo de deixa andar. E merece justo reconhecimento.
Depois de uma longa lista de ministros da pasta terem fracassado e sido crucificados por incompetência ou incapacidade para fazerem o que tinha de ser feito, José Luís Carneiro está a conseguir resultados.
É verdade que os lóbis e interesses em causa são muitos. Na ordem da grandeza do dinheiro em jogo, muitos milhões e mais milhões.
E podemos ficar agarrados à denúncia desses lóbis de forma inconsequente – fala-se, fala-se, fala-se mas depois nada acontece (veja-se o exemplo ainda tão recente de Tiago Oliveira, que tão depressa pos a boca no trombone como enfiou a viola no saco) – ou ir atacando o que tem de ser extinto, a começar sempre pelos fogos.
Roma e Pavia não se fizeram num dia.
Aos poucos, com a cadeia de comando bem resolvida, com meios humanos mais profissionalizados, bem equipados e apoiados por meios adequados e suficientes, vai-se abrindo caminho para um efetivo combate a esses lóbis e interesses paralelos.
Com efeito, a primeira condição para que também esse combate possa ter sucesso é estar salvaguardado o interesse público, a começar pela vida e segurança das pessoas e do património.
Porque esses lóbis e interesses ilegítimos alimentam-se da desgraça alheia.
Discreto, José Luís Carneiro vai sendo eficaz.
Pena que o seu exemplo não seja seguido pelos seus camaradas neste Governo do PS. Antes fosse.