“Férias (im)perfeitas”

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó, Fui, finalmente, conhecer a linda Ilha de Santa Maria. A mais antiga dos Açores e a primeira a ser descoberta pelos navegadores. 
É completamente diferente das outras ilhas que já conheço no Arquipélago e sem sinais de vulcanismo ativo.
Só fiquei a saber tudo isto depois de visitar o Centro de Interpretação Ambiental Dalberto Pombo.
É impressionante como uma ilha tão pequena conta com uma paisagem tão diversificada e única, que inclui praias de areia branca, falésias coloridas, planícies áridas, montanhas verdes e, imagina, até tem um deserto de barro.
Vila do Porto, a mais antiga vila dos Açores, é a acolhedora capital da ilha e onde fica a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, o Forte de São Braz e o Museu de Santa Maria.  
Ao longo dos dias que estive em Santa Maria visitei a ilha de ponta a ponta. Fui à Praia Formosa, uma das poucas praias de areia branca dos Açores, à Baía de São Lourenço, que é lindíssima e rodeada de vinhas, ao Barreiro da Faneca que contrasta com o verde da ilha e é conhecido como o “Deserto Vermelho”. 
O Pico Alto é o ponto mais alto da ilha, do qual vislumbramos, sempre que o tempo permite, uma vista panorâmica sobre toda a ilha.
Bem que eu tinha dito para sossegares o teu coração de avó preocupada com o neto. Fui muito bem recebido pela Helena Barros e pela Laurinda Sousa. Não podia ter sido melhor acompanhado nesta descoberta a Santa Maria.
A ilha de Santa Maria é muito tranquila, encantadora e surpreendente.
Já para não falar que tem uma gastronomia inesquecível. 
Na hora da despedida fui brindado com uma bela vista do avião. Ao descolar consegui ter uma vista de toda a ilha. É como avistar uma pérola no Atlântico à qual quero voltar para visitar. Queres ir?
Da próxima vez irei fazer grandes caminhadas. Santa Maria possui vários trilhos pedestres que permitem explorar a riqueza natural e visitas completamente diferentes das que fiz.
Bjs

Querido neto,

Gosto imenso de Santa Maria. Sendo independente, e pouco convencional, sempre admirei as mulheres de Santa Maria por serem mais “à frente do seu tempo” do que as mulheres das restantes ilhas.
Obviamente que isso de deveu à influência dos americanos que viviam na ilha por causa do Aeroporto. 
As marienses usavam calças, fumavam, iam para os cafés e pubs enquanto as mulheres das outras ilhas, e as continentais, ainda viviam sobre a vontade dos pais e dos maridos.
Espero que tenhas feito o Roteiro do Aeroporto. Julgo que devia estar muito melhor aproveitado pois grande parte da história da Ilha está naquela localização.
Depois de tudo o que me contaste, das fotos que me enviaste, e dos postais e livros que me trouxeste, fiquei com muita vontade de voltar a Santa Maria. 
Sendo octogenária já não tenho coragem de fazer as caminhadas que referiste. No entanto, se for recebida como tu foste…
Também quero ir fazer os “Biscoitos de Orelha”. Biscoitos que estão sempre presentes nos lares marienses, principalmente em ocasiões festivas. 
Sabes a paixão que tenho por gastronomia local e adoro estar à mesa. Com o entusiasmo que partilhaste fiquei com imensa vontade de ir deliciar-me com o Misto Mariense, as Sopas do Império, e o magnífico Caldo de Nabos, entre outras iguarias. 
Como te devem ter contado, julga-se que os primeiros povoadores de Santa Maria tinham origem do Algarve, Beiras e Alentejo. Como tal a gastronomia mariense só podia ser de excelência. 
Levas a avó? Podemos ir ao próximo: “Santa Maria Blues”.
Quero ir a ver as vistas do Farol de Gonçalo Velho, subir à Ermida de Nossa Senhora de Fátima, ir a Santa Bárbara e muito mais. Mas nem penses levar-me a fazer passeios de barco como tu fizeste! Deve ser lindo ver a ilha do Oceano, mas vais tu e depois contas-me tudo. Eu fico à tua espera na esplanada do Forte de São Brás a beber Kimas de Maracujá, para não desidratar. 
Bjs