Nome completo: Fernando Baptista de Seixas de Vasconcelos Peyroteo. Filho e neto de gente fina. E sobrinho-bisneto do 1.º Visconde de Torres Novas e 1.º Conde de Torres Novas e do 2.º Conde de Torres Novas. Nasceu em Humpata no dia 10 de março de 1918, o pai, José de Vasconcellos Peyroteo, natural de Torres Novas, já ia em segundas núpcias, desta vez com Maria da Conceição Fernandes de Seixas. Humpata fica lá no sul de Angola, na estrada que leva da beira-mar do Namibe, antiga Moçâmedes, ao alto do Lubango, que foi Sá da Bandeira, depois de passarmos por aquela obra de arquitetura que nos deixa de respiração entrecortada e que são as curvas e contra curvas da Serra da Leba que também é conhecida como Planalto de Humpata, fronteira das províncias do Namibe e Huíla, continuação da Serra de Chela. Projeto que saiu maioritariamente da cabeça de uma mulher chamada Maria João Teles Grilo.
Humpata foi muito cedo terra de brancos. Brancos como os Peyroteo. Não apenas por via da colonização portuguesa que fundou São Januário de Humpata, mas também bôer – conhecidos como bures – colonos calvinistas vindos da Holanda, Alemanha, Dinamarca, misturados com huguenotes franceses anteriormente instalados na África do Sul e na Namíbia.
Dizem que Humpata é a terra mais fria de Angola por causa da sua posição geográfica e do seu posicionamento lá no alto, quase na berma do rio Neves e do lago Nuntechite. Não admira que seja próspera, sobretudo em pecuária, e tenha um vasto parque industrial. Não admira que chamasse gente como foi o caso dos Peyroteo. Fernando não ligava ao gado nem às fábricas, nem sequer aos estudos que prometiam conduzi-lo ao Instituto Médio Politécnico que servia todos os descendentes dos colonos de Humpata, de Bata-Bata, de Caholo, de Neves e de Palanca. Aos 14 anos jogava no Atlético Clube de Moçâmedes; aos 16 seguiu para Académica de Sá da Bandeira; aos 17 foi para a capital, Luanda, e vestiu a camisola do Sporting local. O verde e branco não voltaria a sair-lhe do corpo. Veio para Lisboa mostrar o que sabia fazer com uma eficiência extraordinária: golos! Veio mesmo sem contrato, sem vínculo assinado com o Sporting Cube de Portugal. Era uma questão de honra e Peyroteo era um homem profundamente honrado. Recusou com determinação uma proposta do FC Porto. Ficou em Lisboa.
Confusões
A imprensa perseguia-o com furor. Afinal trazia consigo um ror de elogios publicados nos jornais de Angola. E a época de 1936/37 até começou mais cedo, logo em julho, com o habitual campeonato de Reservas que seguiu imediatamente ao final da Volta a Portugal – ao tempo as duas modalidades eram tão pulares que havia a necessidade de separá-las no calendário. Mas ainda antes das Reservas entrarem em campo, houve um torneio triangular com lugar nas Salésias e no qual participaram Belenenses, Benfica e Sporting. E serviu para que se fossem tirando as medidas aos novos craques que iriam entusiasmar o público das equipas principais do campeonato. Na berlinda, Peyroteo era uma figura misteriosa e provocava equívocos. E foi assim descrito no final do Benfica-Sporting: «No capítulo do remate, o novo avançado-centro dos leões, Fernando Peytoreo foi uma revelação a entender! (…) Peytoreo, o novo condutor do ataque leonino, demonstrou magníficas qualidades de ‘shootador’. Tem excelente físico e espírito lutador». Peytoreo, era portanto chamado enquanto não aprendiam a soletrar o seu nome. Mas os erros repetiam-se em outras publicações. Querem ver? No dia 12 de setembro de 1937, pelas 15h00, nas Salésias, abria-se o tal Torneio Triangular. O Sporting bateu o Benfica por 5-3 e a sua linha avançada vinha assim descrita por um dos repórteres em campo: «Mourão, Heitor, Fernando Beiroteo, Vasco Nunes e João Cruz». Ora tubérculos! Então mas era assim um nome tão difícil de pronunciar? Pelos vistos era: «Como novidades no Sporting – Jesus (da Madeira) e Beiroteo (de Luanda)». Foram precisos muitos golos para que começassem a grafar corretamente o nome do rapaz de Humpata. Mas não consta que se tenha aborrecido com a trapalhice…