A Política Nacional

Discutir-se as eleições Presidenciais nesta fase é um não assunto e um fait diver para desconcertar, enterrar e baralhar.

por Bernardo Theotónio-Pereira
Gestor e empresário

O país está amorfo e desanimado. A política e os políticos estão sem imaginação e sem rasgo, quer em ideias como nas decisões. Vejamos em alguns pontos a falta de estímulo com que nos deparamos:

1. Num futuro muito próximo veremos o primeiro-ministro António Costa fazer uma remodelação impactante. Irá, obviamente, renovar e tentará trazer para o Governo novas caras e, se conseguir, até, a sociedade civil e técnicos de vários quadrantes. Caso a oposição (em especial o centro-direita e a direita) não acordem, poderá, desta forma, com enorme probabilidade garantir a manutenção no poder até 2030. Parece-me que este caminho ‘refrescante”’terá o seu apogeu no próximo congresso do partido e na respetiva reeleição;

2. O PSD apesar de agitado, continua sem élan. A política não são só ideias, são precisos ideais, estratégia e, acima de tudo, um ambiente positivo, uno, ganhador e galvanizador. Apesar de considerar que o PSD de Montenegro tem trabalhado com afinco, é evidente que os seus pares estão prontos para um ‘idos de Março’ à primeira possibilidade (uma derrota ou até uma vitória menor). Isto não é positivo. Aliás, esta sensação evidente de que a qualquer momento a liderança mudará reforça e garante António Costa e o PS, apesar de todas as confusões e trapalhadas sistemáticas que temos assistido.

3. Por outro lado, o PSD não vingará no futuro enquanto não conseguir resolver o aparente ‘KO Costista’ chamado Chega de André Ventura. O PSD não pode ter receio, nem muito menos ficar completamente ‘dessincronizado’ (como acontecia ao Evaristo no Pátio das Cantigas) quando se lhe pergunta por André Ventura e CHEGA. Também não pode negar a evidência da presença cada vez maior e mais relevante de André Ventura. Por um lado, porque não se lhe pode negar o crescente protagonismo, por outro e por isso mesmo, quanto mais depressa o PSD se liberta do ‘KO Costista’ melhor será para a respetiva e necessária afirmação perante o país. Por isso, talvez, seja útil se o PSD, por intermédio de quem quer que seja, explicasse que respeita André Ventura, mas que, acima de tudo, os Portugueses podem confiar no PSD pois irá mobilizar as melhores pessoas, ao invés de corporações e/ou grupos. Esta explicação será crucial e acabará com o ‘elefante na sala’ que tem sido criado e muito bem aproveitado pelo PS, BE, PAN e PCP (isto é, a ala esquerda e esquerda radical atual). Enquanto o PSD não vencer esse bloqueio, o seu destino será o seu lento definhamento. E é muito estranho que um partido grande e histórico como o PSD esteja encurralado e sem rasgo para resolver este que tem sido o seu maior dilema.

4. Na atual situação, considero ainda que, apesar de tudo, o CDS tem oportunidade para voltar a ocupar algum espaço e ressurgir com maior relevância. Os ideais do CDS são precisos e fundamentais. Mas o CDS precisa de se renovar. Precisa de saber procurar trazer a sociedade civil e os novos e futuros políticos para ajudarem a transformar a forma de fazer política e, todos, se unam em torno da História de Portugal, do CDS e dos fundadores (extraordinários) e líderes passados e presentes. Esta oportunidade poderá já ser avaliada com a escolha de um candidato, inovador e com rasgo, às eleições Europeias que avizinham.

5. Discutir-se as eleições Presidenciais nesta fase é um não assunto e um fait diver para desconcertar, enterrar e baralhar.

6. A decisão pelo investimento de infraestrutura estratégicas, a resolução de várias empresas(também estratégicas) controladas pelo Estado e a boa execução do PRR serão temas em discussão, mas, infelizmente, sem conclusões objetivas e definitivas. Portanto, podem vir painelistas, comentadores, políticos ou pseudopolíticos negar e ou querer complicar, mas, infelizmente, não teremos muito provavelmente nada mais que isto. Atualmente, Portugal está muito mais adormecido do que se pode imagina.