Alta velocidade? Estamos quase parados!

Os nossos políticos oscilam entre o excesso de liberalismo e o excesso de estatismo. Há quem não se importe de privatizar tudo, deitando às malvas o interesse nacional, e quem nada queira privatizar, vendo estes na iniciativa privada o demónio e no lucro pecado capital.

Na cimeira ibérica da Figueira da Foz, em 2003, foram aprovadas as ligações de alta velocidade Lisboa/Madrid e Porto/Vigo, até 2010, Lisboa/Porto, até 2013, e Aveiro/Salamanca, até 2015. Condicionada a mais estudos ficava a quinta ligação, entre Faro e Huelva.

Passaram 20 anos sobre este anúncio, Portugal tem 0 quilómetros de alta velocidade construídos. Espanha tem cerca de 3100 quilómetros.

O dia a dia de quem precisa de se deslocar entre diferentes cidades do país é um tormento. Quem residir na região de Lisboa e precisar de estar no Porto para uma reunião às 9 da manhã, de um dia útil, não tem uma ligação ferroviária disponível.

O primeiro comboio ‘alfa pendular’ tem saída programada para as 7h00, chegando ao Porto cerca das 10h00. Vamos comparar-nos (ainda que superficialmente) com quem pretendemos competir: na ligação entre Praga e Bratislava, o primeiro comboio sai às 4h45. Antes do primeiro comboio sair de Lisboa, aquelas duas cidades já tiveram 7 comboios a fazer a sua ligação. Mas não é caso único. A ligação Varsóvia a Cracóvia começa diariamente às 4h00, Bruxelas para Bruges às 5h39 ou Roma para Milão às 5h10.

Entre aquele anúncio pomposo de 2003 e hoje avançámos zero, na ligação à rede europeia de alta velocidade. Aliás, avançámos zero nas ligações europeias ferroviárias. Quem perde? O País, no geral, e os cidadãos, particularmente.

Os nossos políticos oscilam entre o excesso de liberalismo e o excesso de estatismo. Há quem não se importe de privatizar tudo, deitando às malvas o interesse nacional, e quem nada queira privatizar, vendo estes na iniciativa privada o demónio e no lucro pecado capital.

Entre termos serviços de saúde decentes para os cidadãos e a ideologia estatista, preserva-se a ideologia estatista e deixam-se os cidadãos nas filas de madrugada nos centros de saúde. Curiosamente, não há problema de entregar a empresas privadas a gestão de serviços consulares, como se a ação externa não fosse reserva do Estado.

Luís Filipe Menezes, que muita gente esqueceu como líder do PSD, propôs, há muitos anos, um acordo de regime sobre as grandes obras públicas. Foi, recordo-me bem, muito criticado. Década e meia depois, António Costa veio dizer que a decisão do novo aeroporto necessitava de acordo com o líder do PSD.

Na realidade, se este acordo de regime das grandes obras públicas tivesse sido feito, certamente já haveria novo aeroporto, novas travessias do Tejo (de que a região e o país precisam desesperadamente) e ferrovia minimamente decente. Há lugar para ideologia, e há lugar para pragmatismo. Nesta área, deveria imperar sempre o pragmatismo.

Os acordos de regime em determinados setores deveriam ser a regra, lamentavelmente são a exceção. A sua ausência produziu um país parado, que parece ter deixado de querer fazer, de querer inovar. Quem, por exemplo, acompanhar a política de Oeiras, pode verificar como a chegada dos radicais trouxe ruído sobre o modelo de desenvolvimento que gerou o Concelho mais desenvolvido do país.

Até no Concelho com os melhores indicadores socioeconómicos nacionais é possível criar ruído sobre a estratégia de desenvolvimento que o criou. Eles fazem o seu papel, os normais devem fazer o seu. O problema é que estes deixam-se condicionar pelos radicais, e paralisam o país.

O primeiro-ministro disse, na última semana, que não é um comentador, mas um fazedor. Não podia estar mais de acordo, o papel de primeiro-ministro é esse mesmo: fazedor. Todavia pelos resultados não se sabe esta frase não será, também ela, mais um comentário.