Medalhas de ouro. Portugal conta apenas com uma mão cheia

Carlos Lopes foi o primeiro atleta português a fazer subir a bandeira portuguesa ao mastro mais alto dos Jogos Olímpicos, mas não foi preciso esperar muito para Rosa Mota tornar-se na primeira mulher desportista a conseguir o mesmo feito, contra tudo e todos – até sobre a ameaça de concorrer em Seul pela Federação de…

Carlos Lopes

A estreia de Portugal em 1984

Na madrugada de 12 de agosto de 1984, o país ficou acordado para acompanhar a prestação de Carlos Lopes nos Estados Unidos, em Los Angeles. A expectativa era elevada. O atleta tinha sido atropelado, em Lisboa, dias antes quando fazia um treino – mas não passara de um susto. Os resultados obtidos em provas anteriores permitiam sonhar com uma medalha. Era a última esperança, até porque outro favorito, Fernando Mamede, desistira na final dos 10 mil metros. Nesse dia, o Hino Nacional acabaria mesmo por ouvir-se pela primeira vez numa cerimónia de entrega de medalhas dos Jogos Olímpicos com o maratonista, na altura, com 37 anos, a deixar para trás os atletas preferidos: o irlandês John Tracy e o inglês Charles Spedding. “Foram momentos únicos que também ajudaram a dar a conhecer Portugal ao mundo desportivo. Senti a minha obrigação cumprida. Ainda hoje é reconhecido por todos os portugueses”, disse então o atleta natural de Vildemoinhos, em Viseu.

No seu discurso, Carlos Lopes agradeceu o apoio da Nike, que lhe permitira ficar num dos melhores hotéis da cidade, situado junto à praia, onde podia treinar, daí ter optado por estar presente na festa da marca que o patrocinava, em detrimento da festa organizada pelo COP.

Rosa Mota
Uma das maiores de todos os tempos

Considerada uma das maiores maratonistas de todos os tempos, Rosa Mota foi a primeira mulher portuguesa a ganhar uma medalha de ouro, em Seul de 1988 – na bagagem já contava com o bronze, em Los Angeles, e tinha sido campeã da Europa duas vezes consecutivas (Atenas/82 e Estugarda/86) e campeã do mundo em 87 (Roma). Mas a sua participação esteve longe de ser pacífica. A atleta e o seu treinador de sempre, José Pedrosa, entraram em conflito com a Federação Portuguesa de Atletismo por terem dito que não era aconselhável a sua presença no Mundial de estrada porque estava a preparar-se para a maratona dos Jogos Olímpicos. Um conflito que pôs em risco a sua presença em Seul e que a levou a pensar em concorrer através da Federação de Macau. O assunto foi parar às mais altas instâncias envolvendo o ministro da Educação, na altura, liderado por Roberto Carneiro e o Presidente da República, Cavaco Silva. Rosa Mota acabou por participar, venceu e deixou todo o país emocionado com esta vitória, resultado do seu sprint final. Lisa Martin chegou em segundo lugar, com as pernas trémulas, acabando mesmo por cair no chão — sendo levantada pela atleta portuguesa. Nesse dia, a expressão “menina da Foz” deu lugar a “Rosinha do nosso contentamento”.

Fernanda Ribeiro
A mais medalhada de sempre

Fernanda Ribeiro é a atleta portuguesa mais medalhada de sempre, tornando-se um das maiores referências portuguesas em corridas de fundo e meio fundo. A atleta sagrou-se campeã olímpica dos 10 mil metros, em 1996, em Atlanta, apesar de um problema num tendão e onde tinha sido convidada a ser a porta-estandarte da comitiva portuguesa, na abertura desses jogos. Tornou-se na terceira atleta nacional a conseguir o ouro olímpico, depois de Carlos Lopes e Rosa Mota. No final da prova, a fundista nacional surpreendeu tudo e todos, incluindo a favorita chinesa Wang Junxia – recordista mundial da distância e já sagrada campeã olímpica dos 5000 metros –, fez uma ultrapassagem inesperada, atingindo um novo recorde olímpico de 31.01,63. Fernanda Ribeiro era a partir dessa altura campeã olímpica, campeã do mundo e campeã europeia. “Tinha treinado muito a ponta final. Apesar de acabar muitos treinos a chorar, se calhar o sofrimento que tive durante a época ajudou. Sabia que estava muito rápida. A diferença talvez fosse ela ter saído a 400 metros da meta. Quando assim foi, pensei que já não ganharia e seria segunda, mas depressa também disse que nada tinha a perder”, chegou a admitir. Atualmente conta com uma academia de atletismo com o seu nome.

Nélson Évora
O atleta polémico com várias vidas

Foi preciso esperar 12 anos para Portugal voltou a ouvir novamente o Hino nacional com o país a receber novamente uma medalha de ouro olímpica pelas mãos, ou melhor pés, de Nélson Évora com  o triplo salto ao ar livre, em Pequim em 2008. O atleta conseguiu atingir os 17,67 metros, a sua melhor marca da temporada – superando os 17,62 do britânico Phillips Idowu, que até era favorito à vitória mas acabou com a prata, e os 17,59 saltados pelo atleta das Bahamas, Leevan Sands. No entanto, o pico da carreira do atleta que nasceu na Costa do Marfim mas veio para Portugal ainda em criança, abriu porta a um sobe e desce de lesões que quase punham fim à sua carreira, acabando sempre por conseguir dar a volta. Pelo meio trocou de clube – 12 anos depois desistiu de vestir a camisola do Benfica e mudou-se para o Sporting – e também de treinador. 25 anos depois João Ganço foi substituído pelo cubano Ivan Pedroso. Em 2011, já pelo Barcelona, Nelson Évora despediu-se em lágrimas dos Jogos Olímpicos de Tóquio, as últimas olimpíadas da carreira do atleta português de triplo salto. Este ano viu-se envolvido em polémicas com Pedro Pablo Pichardo por causa das nacionalidades, dizendo que tinha sido “comprado um atleta para poder ter resultados a curto prazo”.

Pedro Pichardo
Vitória 13 anos depois da 1.ª medalha

Com a melhor marca mundial do ano (17,98m), Pedro Pichardo tornou-se o quinto campeão Olímpico da história de Portugal, em Tóquio, em 2020. Com esta vitória, o atleta superou a desilusão do Mundial de 2019, onde ficou em quarto lugar. Conseguiu o feito de se sagrar um dos maiores atletas de triplo salto por dois países diferentes. Nasceu em Cuba, mas o regime local impediu-o que fosse treinado pelo pai, treinador de atletismo. Mas antes de escolher Portugal para continuar a carreira, Pedro Pichardo ganhou o Mundial Júnior em 2012 e conseguiu em 2015 a marca de 18,08 metros, a quinta maior da história do salto triplo, sob as cores do seu país de origem. Em 2017, escolheu Portugal, tendo-se naturalizado em dezembro desse mesmo ano. Ainda assim, só em agosto de 2019 foi autorizado a representar a seleção portuguesa. Atingiu nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a 5 de agosto de 2021, o ponto mais alto da carreira, com o ouro. Junta o ouro no Campeonato do Mundo de Atletismo de Eugene 2022 e no Campeonato da Europa de Munique 2022. Afastado nestes últimos mundiais devido a uma lesão, o atleta promete não baixar os braços e quer marcar presença e ser esperança dos portugueses nos próximos Jogos Olímpicos.

 

Duplos Medalhados

Medalha de prata e ouro: Carlos Lopes (10000 metros e Maratona) – Montreal 1976 e Los Angeles 1984

Medalha de bronze e de ouro: Rosa Mota, (Maratona) – Los Angeles 1984e Seul 1988

Medalha de ouro e de bronze: Fernanda Ribeiro (10000 metros) – Atlanta 1996 e Sydney 2000

Medalhas de bronze: Luís Mena e Silva (Equitação) – Berlim 1936 e Londres 1948

Medalha de prata e de bronze: Fernando Pimenta (Canoagem) – Londres 2012 e Tóquio 2020

 

Clubes com mais medalhas (ouro, prata e bronze)

Sporting: 5

Benfica: 3

Centro de Atletismo do Porto (CAP): 2

FC Porto: 2

 

Como é constituída a medalha

A medalha de ouro é na verdade feita de prata reciclada, coberta com apenas 6g de ouro e pesa 556g.

Já a medalha de prata pesa 550g e é produzida com prata pura.

A medalha de bronze tem 450g e é composta por latão vermelho (5% de zinco e 95% de cobre).

 

Presença portuguesa

A primeira participação de Portugal numa edição de Jogos Olímpicos ocorreu em 1912 nas Olimpíadas de Estocolmo. A delegação portuguesa era composta por apenas seis atletas. Já a primeira medalha conquistada pelo nosso país foi em 1924 nos Jogos Olímpicos de Paris. A equipa equestre portuguesa composta por Aníbal Almeida, Hélder Martins, Luís Cardoso Menezes e José Albuquerque ganhou a medalha de bronze na modalidade de equitação.