Amanhã, o melhor virá

As linhas que escrevo poderão ser banais, quiçá desajustadas nesta época estival. Mas, deixo-as, vincando que não se aplicam a todos jovens, antes a um número crescente.

Na verdade, diariamente, de um modo geral, no quotidiano aventureiro e perigoso de viver, deparamo-nos com jovens de fones nos ouvidos que verborreiam para o telemóvel como querendo esganar o outro; com jovens que, alheios a tudo, parecem de outro planeta e que, não raro, sem maldade, não observam as mais elementares regras de uma sã convivência. Pergunto‑me que pensarão eles do mundo em que vivem; se se interrogam sobre a forma como estão na vida e se, por acaso, sonham com mais alguma coisa do que ter o último grito de aparelhos tecnológicos e informáticos. Interrogo‑me como foi possível chegarmos a este ponto. Mas eis que a resposta surge sem grande esforço analítico: os nossos jovens, paulatinamente, têm vindo a perder a atenção dos seus pais e, por isso, desabituaram‑se de olhar para eles como alguém que os ama, os educa e que deles cuida. Daqui decorre que não estão sensibilizados para levar a sério o gesto generoso de cuidar do outro. Os seus pais não têm, ou não tiveram, tempo para os amar com os olhos, para brincarem com sorrisos e palavras e, sobretudo, para lhes ensinar que o melhor do mundo é o respeito e o amor pelos nossos e por todos em geral. Para lhes ensinar, enfim, que o amor são os óculos que nos permitem ver a beleza do outro. Quem sabe se os próprios pais destes jovens também não cresceram já sem património familiar?

Ora, daqui resulta o modo de ser dos nossos jovens: ensimesmados, egoístas, jovens com um parco código de valores éticos e morais. Com pais que esperam que as escolas e as universidades venham a suprir as falhas pedagógicas e de atenção criadas pela omissão dos seus actos. Mas não é essa a missão da escola, nem da universidade.

A escola ensina e dá cultura. Acessoriamente, consolida os valores ético‑sociais que se pressupõem adquiridos na família. A universidade alarga os horizontes do saber e faz com que os jovens de hoje ganhem asas próprias para voar rumo ao saber consciente e aprofundado de que precisarão no futuro. Pedir mais do que isto às escolas e às universidades corresponde à voluntária demissão do lugar de educação e de amor que compete à família. Termino como comecei: felizmente, esta reflexão apenas é válida para um grupo de jovens e não para todos em geral, mas espero, vivamente, que este retrato que aqui deixo não seja, já, o dos pais destes filhos.

Professora Associada da Universidade Lusófona
Investigadora do CEAD Franscisco Suárez