Começou a contagem descrescente para as eleições legislativas regionais da Madeira, que acontecem este domingo. Se as sondagens tiverem razão, tudo aponta para que a coligação Somos Madeira (que junta PSD e CDS) mantenha a maioria no Parlamento regional ou até aumente o número de deputados eleitos.
De acordo com as duas últimas sondagens (para a RTP e para o Diário de Notícias da Madeira), a coligação PSD/CDS consegue entre 24 e 28 dos lugares. Miguel Albuquerque já avisou que, se não conseguir a maioria absoluta (24 deputados), se demite e não volta a candidatar-se. «Se não posso executar o meu programa eleitoral, vou-me embora. Jogar a meio campo para cair a meio campo e não marcar golo, não contem comigo», admitiu.
Se é certo que todos esperam uma vitória folgada do PSD, numa realidade em que não conseguem uma maioria, os sociais-democratas teriam ainda outra hipótese para se manterem a liderar o Governo regional: ou fazerem um acordo com o Chega ou com a Iniciativa Liberal (caso consigam ter assento no Parlamento).
Mas estes são cálculos que também não agradam a Miguel Albuquerque. «Com o Chega não faço devido a ser um partido de matriz centralista, mas também não vejo que possa fazer muitos acordos, não tenho muitas forças à direita. Penso que a IL não vai ter uma votação muito forte na Madeira, portanto, se não tiver maioria, tenho muito poucas condições de formar Governo», respondeu, em entrevista ao Nascer do SOL, na última edição, quando questionado sobre eventuais acordos pós-eleitorais.
Do lado da oposição, sondagens consecutivas colocam o PS como o partido mais penalizado face às últimas regionais de 2019. Nessas eleições, o PS obteve o seu melhor resultado de sempre, ao conseguir eleger 19 deputados, num total de 47 que compõem o Parlamento da Madeira, roubando ao PSD pela primeira vez a maioria absoluta que detinha no arquipélago desde 1976. Agora, tudo aponta para que os socialistas fiquem a cerca de 30 pontos percentuais de distância da coligação PSD/CDS.
As baixas perspetivas que o PS tem de ter um bom resultado têm sido atribuídas à falta de notoriedade pública do cabeça de lista. Sérgio Gonçalves, gestor de profissão e presidente do PS-Madeira desde fevereiro de 2022, ainda luta por reconhecimento junto dos eleitores.
Mas, além de ser um rosto desconhecido, há outro fator que condiciona as hipóteses de o candidato socialista vir a liderar o Governo Regional, que há quase meio século está nas mãos do PSD. Sérgio Gonçalves tem sido alvo de críticas internas, com militantes e antigos dirigentes do partido a acusarem esta atual liderança de ser telecomanda a partir de Lisboa, por Paulo Cafôfo, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e antigo líder do PS-Madeira, e por Miguel Iglésias, deputado do PS-Madeira à Assembleia da República.
«Estão a gerir esta candidatura de Sérgio Gonçalves atrás da cortina à espera de uma oportunidade para tomar novamente o partido de assalto. Arranjaram uma liderança intercalar que pudessem controlar e que lhes permita, quando entenderem que o ciclo se vai inverter, regressarem à liderança do partido», relata uma fonte conhecedora da realidade madeirense ao Nascer do SOL.
João Pedro Vieira, ex-secretário geral do PS-Madeira, que se afastou em rutura com Paulo Cafôfo, tem sido uma das vozes mais críticas sobre o assunto e ainda por estes dias deixou um recado aos seus camaradas socialistas: «A Madeira não está destinada a ser governada pelos mesmos indefinidamente – mas também se engana quem, na oposição, acha que terá o direito divino e dinástico a governar, porque o tempo corre a seu favor», escreveu num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias da Madeira.
Neste momento, as sondagens sugerem que o PS fique com entre 10 e 13 deputados, praticamente metade em relação às últimas eleições na região. Logo a seguir surge o Chega, que pode entrar no Parlamento pela primeira vez e, tal como o Juntos Pelo Povo (JPP), pode assegurar entre dois a quatro assentos.
No estudo de opinião do DN-M, no qual foi avaliada também a ação dos líderes partidários, há ainda outro dado a destacar: no caso do JPP, é apontado que a diminuição das intenções de voto estará diretamente relacionada com a zanga entre os irmãos Filipe e Élvio Sousa, um presidente e o outro secretário-geral do partido. Tudo começou em julho, no processo de elaboração das listas para estas eleições, quando Filipe Sousa terá sido relegado para 5.º lugar da lista do partido às regionais. O presidente da Câmara de Santa Cruz, que termina o mandato em 2025 e está impedido de se recandidatar nas próximas autárquicas, poderia suspender o mandato autárquico e ser salvaguardado em lugar elegível na lista para a Assembleia Regional, para depois assumir o lugar de deputado regional entre 2025 e 2027. Mas não foi isso que aconteceu, tendo Élvio, o cabeça de lista, deixado o irmão Filipe de fora dos lugares elegíveis. Com os dois irmãos divididos, a terceira força política na Madeira pode sair prejudicada nestas eleições regionais.
À esquerda, os partidos também lutam pela sobrevivência, mas os esforços podem não ser suficientes. Enquanto o BE, que tem como grande objetivo voltar ao Parlamento regional, pode eleger um a dois deputados, a CDU (a coligação entre PCP e PEV) arrisca-se a não reeleger e a desaparecer da Assembleia madeirense. l
joana.carvalho@nascerdosol.pt