Novo Kennedy numa velha corrida à Casa Branca

Robert F. Kennedy Jr. apresentou a sua candidatura, como democrata, às próximas eleições presidenciais americanas, agendadas para 2024. Advogado, ambientalista e anti-vacinas, o Kennedy de 69 anos é criticado por ser apologista de teorias da conspiração.

Nascido a 17 de janeiro de 1954, em Washington, é o terceiro de onze filhos do ex-Procurador Geral dos Estados Unidos, Senador e candidato presidencial Robert F. Kennedy e de Ethel Kennedy. Vem de uma das famílias com mais peso e misticismo da política norte-americana, e é também sobrinho do 35.º Presidente dos EUA, John F. Kennedy, e do ex-Senador Ted Kennedy. Tanto o pai como o tio foram assassinados: RFK em 1968, enquanto candidato à Casa Branca, e JFK em 1963, a meio do seu mandato presidencial, num dos assassinatos mais famosos e polémicos da história recente. É fundador, diretor e ex-Diretor Jurídico contencioso do grupo ativista Children´s Health Defense, sem fins lucrativos, que foca a sua ação principalmente no setor das vacinas.

Educação e carreira

Robert F. Kennedy Jr. estudou em Harvard, onde se licenciou em História e Literatura Americana, na Faculdade de Direito da Universidade da Virgínia, na London School of Economics e na Faculdade de Direito da Universidade de Pace, onde conseguiu o grau de mestre em Direito Ambiental e foi posteriormente professor.

RFK Jr. dedicou-se desde cedo ao serviço público: começou logo após passar no Exame da Ordem do Estado de Nova Iorque e tornou-se um dos ambientalistas mais reconhecidos do país, tendo sido destacado pela revista TIME como “Herói do Planeta”. “Bobby” Jr. iniciou a carreira em 1985 como advogado para a RiverKeeper, uma instituição ambiental, também sem fins lucrativos, processando grandes poluidores de forma a assegurar a potabilidade da água para as famílias americanas e para que a pesca se mantivesse como uma fonte de rendimento estável nos EUA. Após vários casos ganhos, alguns contra grandes corporações, Kennedy foi cofundador da WaterKeeper Alliance, sendo presidente por 21 anos. Foi também advogado na Natural Resources Defense Council, durante 31 anos, e na Hudson Riverkeeper, de 1984 a 2017. Bobby conta com vários prémios importantes no currículo para além do da TIME, como o Earth Justice Mountain Heroes e a presença na lista dos 100 Agents of Change da Rolling Stone.

Ideologia

Tal como a maioria do clã Kennedy, Bobby é um democrata. Porém, no cenário político atual, é um crítico da administração Biden e alega que o Partido Democrata se tem afastado cada vez mais dos seus valores base. Ainda que seja mais conhecido pela questão das vacinas, tendo alegado em 2005 que podem estar na origem do aumento de casos de alergias e autismo nas crianças, Kennedy rompe com a agenda dos democratas em várias áreas e tem sido criticado, censurado e acusado de espalhar desinformação e de criar uma rede anti-ciência.

Foi um crítico das vacinas também na pandemia e contra as restrições impostas pelo governo. Bobby Jr. distancia-se de Biden principalmente nas questões de política externa. Disse ainda que no que toca à Guerra na Ucrânia «estão-nos a mentir». «(…) Um grupo de pessoas, conhecidos como neo cons, têm falado sobre colocar a NATO na Ucrânia desde 2001», algo que considera ser um dos motivos da invasão russa, apontando para o desrespeito pelas negociações com Gorbachev, nas quais o Ocidente se comprometeu a não alargar a NATO para as fronteiras russas em troca da queda da URSS e da reunificação da Alemanha. Fez referência ainda ao diplomata americano George Kennan, embaixador dos Estados Unidos na União Soviética e cérebro da política externa durante a Guerra Fria, que previu uma reação por parte da Rússia numa entrevista ao New York Times em 1998.

O candidato, assumidamente anti-guerra, critica Joe Biden, afirmando que o atual presidente tem contribuído para escalar o conflito, evitando a mesa de negociações. Com um discurso inspirado no legado de John F. Kennedy, Bobby Jr. reafirma a hipótese do conflito nuclear, tal como no tempo do seu tio, e garante que há a oportunidade de «(…) tomar um rumo radicalmente diferente, um rumo para a paz».

RFK Jr. tem abordado temas fraturantes como a crise de habitação, a imigração ilegal e a economia, principalmente com a crescente influência da China no panorama financeiro internacional. Quanto à habitação, o candidato frisou a incapacidade dos cidadãos americanos em pagar os créditos e a dificuldade em pagar as rendas, exibindo um artigo do New York Times, na sua conta da rede social X (antigo Twitter), que confirma que o cidadão médio gasta cerca de 30% do seu salário só na renda.

Kennedy atribui a culpa às grandes corporações, afirmando que adquirem as propriedades assim que são colocadas no mercado e posteriormente as arrendam a preços elevados, e garante que irá repor preços razoáveis sem que isso signifique o aumento da dívida nacional. Promete criar um programa federal que estabelece os juros do crédito à habitação nos 3% e que estará apenas disponível a indivíduos, excluindo as empresas. Na questão da imigração, Robert Kennedy tem uma posição entre Trump e Biden. Critica a ação de Trump e a despreocupação de Biden.

Na sua visita à fronteira em Yuma, no Arizona, frisou o falhanço da política do atual Presidente, que retirou recursos e mecanismos às autoridades e afirmou que, na eventualidade de ser eleito, retomaria o controlo, mais forte, das fronteiras. Já na economia, o opositor primário de Biden tem como objetivo principal canalizar os fundos que estão a ser utilizados no conflito na Ucrânia e no complexo militar para o desenvolvimento interno.

Remar para o mesmo lado

O Kennedy de 69 anos tem mencionado também nas suas entrevistas a morte de JFK. Acredita que foi um golpe orquestrado pela CIA, devido ao constante atrito entre o Presidente e a agência de inteligência americana. O próprio alegou que John F. Kennedy queria «despedaçar a CIA e atirá-la ao vento» e pede a desclassificação dos documentos.

A “aparição” de outro Kennedy na corrida à Casa Branca é vista como controversa e a sua posição no tema das vacinas juntamente com as alegações de ser apologista de teorias da conspiração têm comprometido os seus números nas sondagens, onde está substancialmente atrás de Biden. Ainda assim, Robert F. Kennedy Jr. continua a basear a sua campanha nos seus ideais e promete unir o povo americano, afirmando que, mais que nunca, é preciso remar para o mesmo lado.