Queridas filhas,
O mundo ocidental está a perder uma das chaves da sua ascensão: a capacidade de trabalhar em equipa. Hoje glorificam-se influencers, selfies, gostos pessoais, ativistas e acusadores. Todos têm o seu lugar. Mas as grandes obras são feitas por equipas compostas por pessoas com perspetivas, identidades, crenças e habilidades diversas. Sempre me perguntei: porque há executivos portugueses a liderar empresas líderes mundiais, mas nenhuma empresa líder mundial portuguesa? Porque temos os melhores jogadores do mundo, mas não ganhamos os campeonatos do mundo?
Desunir é algo que tem ajudado a subir a reputação das pessoas desde sempre. Mas nos tempos modernos apresenta-se como a forma mais fácil de se autopromover. Em Portugal temos o caso de múltiplos programas de críticos de futebol que criam marcas pessoais sem precisarem de marcar qualquer golo. Nas redes sociais, temos várias pessoas que se autopromovem com selfies, partilhas quase diárias da sua vida profissional, ‘denunciação’ de qualquer injustiça que tenham assistido atrelando-se a causas do momento. Segue-se uma narrativa infantil dos bons e dos maus, de nós e dos outros, do preto e do branco.
Toda esta atividade tem dois efeitos: primeiro, aumentar o estatuto social de quem a publica e diminuir o daquele que é criticado; segundo, não resolver os problemas em causa. O corolário é que quem se sente atacado se afasta de quem ataca.
Este fenómeno alimenta-se a si próprio. As pessoas cada vez publicam mais, as posições extremam-se, os problemas não são resolvidos. Cada um se sente cada vez mais importante. Mas também mais isolado.
Em organizações este tipo de comportamento é fatal. Para uma equipa performar ao mais alto nível, os interesses e sonhos comuns devem ser enfatizados, as diferenças que existam devem ser aceites ou mesmo exploradas. Se isso não for possível as diferenças devem ser debatidas construtivamente de forma prévia de forma a se chegar a um acordo para servir a missão da equipa. Isto significa pôr o ego do lado na prossecução de um objetivo maior. Esta ética cresceu na Europa com a emergência do Cristianismo.
Nos EUA esta ética ainda está muito presente. Quando os profissionais da NBA foram treinados para os Jogos Olímpicos, o selecionador Mike K trouxe convidados especiais para o primeiro treino: veteranos do exército americano que foram alvejados ao serviço do seu país. Eles partilharam a ética do exército: servir o país com a própria vida, nunca deixar um companheiro para trás, e obediência ao líder da equipa. A equipa com estrelas como Kobe Bryant, Lebron James, Kevin Durant… rapidamente percebeu a mensagem. Todos puseram o ego de lado e trabalharam humildemente pelo nome na frente da camisola e não pelo nome nas costas da camisola. Ganharam o ouro.
Quando comecei a carreira em NY, trouxe um negócio e todos os membros (advogados e financeiros seniores) disseram que eu era o líder (quarterback) do projeto. Surpreendeu-me e intimidou-me tal confiança na minha liderança.
Esta capacidade de liderança não se ensina nas escolas, nem em muitas empresas. Algumas empresas e organizações ensinam. Tive muita sorte de pertencer a algumas destas e aprender. Infelizmente, este tema parece estar esquecido na vossa geração. Os grandes líderes da vossa geração serão os que desenvolverem esta capacidade de unir pessoas diferentes numa equipa unida, focada no objetivo conjunto acima do próprio ego. Acredito num bom futuro, que será liderado por pessoas capazes de unir pessoas com perspetivas e ambições diversas.